Depois de ceder à pressão do exterior e virar para o negativo no início da tarde, após manhã de alta, o Ibovespa não conseguiu voltar ao terreno positivo e fechou o pregão desta terça-feira em baixa de 0,58%, aos 106.759 pontos.
Os líderes das duas pontas se mantiveram os mesmos ao longo do dia: as maiores quedas foram de Banco Pan (BPAN4), Locaweb (LWSA3), Méliuz (CASH3), que fecharam em baixa de 12,18%, 11,11% e 10,69%, respectivamente; enquanto os frigoríficos tiveram as principais altas, de 6,8% para Marfig (MRFG3), 5,34% para JBS (JBSS3) e 3,58% para BRF (BRFS3).
A virada do índice no meio do dia não teve uma única causa, mas seguiu o mau humor generalizado dos mercados externos, causado principalmente pela expectativa de um aumento no ritmo de normalização da política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), que deve voltar a subir os juros, depois de reduzi-los durante a pandemia para minimizar os efeitos da crise. A instituição tem decisão prevista para amanhã, dia 15.
Essa percepção, na visão de Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, tem impulsionado uma migração de ações de crescimento para ações de valor, movimento que vem se refletindo no mercado acionário brasileiro.
“Estamos vendo ações com múltiplos altos apanhando bem mais, enquanto outras estão relativamente bem, como Petrobras, Vale e siderúrgicas”, explica Komura. “Enquanto isso, ações de tecnologia, ou que têm crescimento mais projetado para o futuro, como BTG (BPAC11), Inter (BIDI11) e Magalu (MGLU3), têm caído”. As principais quedas do Ibovespa desta terça refletem essa visão.
Na análise de Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA, pesaram também os rumores de uma possível alteração na PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados, o que faria com que o texto precisasse voltar ao Senado; e a decisão da Fitch de determinar “perspectiva negativa” para a nota soberana do Brasil, apesar de manter o rating em BB-.
O maior destaque doméstico do dia, porém, foi a repercussão da ata do Copom, divulgada nesta manhã, após elevação da taxa Selic para 9,25% na última quarta-feira (8). O documento mostrou que as altas de juros praticadas nas últimas decisões foram adequadas para o combate à inflação e indicou outro ajuste da mesma magnitude para a próxima reunião.
O aumento da Selic vem em detrimento da atividade econômica, e estas expectativas, na visão de Bruno Komura, já vêm sendo refletidas nas ações de varejo. O papel de Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, fechou em forte queda de 5,12%, enquanto Lojas Renner (LREN3) apresentou recuo de 4,89%.
O dólar, por sua vez, recuperou as perdas que registrou durante a sessão e terminou o dia em alta de 0,37%, a R$ 5,6955, máxima desde abril.
Destaques corporativos
O principal anúncio desta quarta foi a redução de 3,13% dos preços da gasolina para as distribuidoras pela Petrobras. A mudança de preço, segundo comunicado, reflete a evolução dos preços internacionais e da taxa de câmbio. O valor médio do combustível passará de R$ 3,19 para R$ 3,09 por litro.
O anúncio foi recebido de maneira neutra pelo mercado. Na análise do Credit Suisse, os preços dos combustíveis seguem alinhados à política de paridade de importação da empresa e, por isso, a alteração não afeta a visão do banco sobre a empresa, de recomendação de compra.
Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, “o anúncio é neutro para a empresa, porque a Petrobras estava com um certo prêmio de mais de 8% em relação ao preço da paridade internacional da gasolina. Há certa margem para se aproximar da paridade”.
O corte no preço da gasolina também não exerceu impacto sobre as expectativas de inflação, que permanecem em 0,7% em dezembro, de acordo com analistas consultados pelo TradeMap.
Ainda entre as bluechips, a Vale (VALE3) fechou praticamente de lado, em leve queda de 0,01%, após forte derrapada do minério de ferro durante o pregão asiático.
Para além dos frigoríficos, também os grandes bancos tiveram fortes altas, pois o setor se beneficia de um cenário de alta de juros. Bradesco (BBDC4) fechou em alta de 1,51%, seguido de Itaú (ITUB4), que subiu 0,97%, e Santander (SANB11), com avanço de 0,06%.
Ainda em notícias corporativas, a Itaúsa informou a venda de parte das ações que detinha na XP, o que deve aumentar em R$ 900 milhões seu resultado no quarto trimestre. A empresa anunciou ainda o pagamento de juros sobre capital próprio e bonificação em ações aos acionistas. O papel da Itaúsa (ITSA4) fechou em alta de 0,73%, enquanto os BDRs da XP afundaram 6,35%.
Exterior
Os principais índices do exterior fecharam o dia no vermelho, puxados pelo índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, que veio acima do esperado, e por temores relativos a uma postura mais agressiva do Fed em relação à política monetária do país.
Também pesa sobre os mercados externos a manutenção da cautela relativa aos possíveis impactos da variante Ômicron do coronavírus sobre as economias.
Em Wall Street, o Nasdaq fechou em baixa de 1,14%, seguido pelo S&P 500, que recuou 0,74%, e pelo Dow Jones, que terminou o pregão com queda de 0,3%.
Os principais índices europeus também fecharam em queda generalizada, derrubados pelos mesmos motivos. O EuroStoxx 50 fechou em baixa de 0,92%, o FTSE 100, de Londres, caiu 0,18%, e o DAX, da Alemanha, perdeu 1,08%.
Para os próximos dias, o mercado aguarda uma série de decisões dos principais bancos centrais ao redor do mundo e a reunião do Fomc (Federal Open Market Committee, do Fed) na quarta-feira (15), seguida por discurso de Jerome Powell, presidente da instituição, que pode dar pistas da percepção do banco central sobre a economia americana.
Calendário
Devem repercutir amanhã os dados de vendas no varejo, produção industrial e desemprego da China, que serão publicados durante o pregão asiático.
Nos EUA, os principais indicadores esperados, além da decisão do Fomc, são vendas no varejo e estoques de petróleo.
Internamente, o mercado estará de olho no IGP-10 e no IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto.