O Ibovespa opera em terreno negativo nesta segunda-feira, puxadas por ações mais expostas à economia doméstica e, por consequência, mais sensíveis à curva de juros, que recuam em bloco, como papéis da construção civil e do varejo.
As baixas acompanham uma alta nos contratos futuros de juros, que avançam após o mercado mostrar que espera um “atraso” no fim do ciclo de aperto monetário. De acordo com dados da plataforma do TradeMap, os contratos futuros para juros em 2024, 2026 e 2028 avançavam 0,17 p.p (ponto-percentual), 0,22 p.p. e 0,24 p.p., avaliados a 13,99%, 12,80% e 12,64% ao ano.
A Positivo (POSI3), empresa que produz eletrônicos como notebooks e celulares, liderava as perdas do índice às 13h25, com uma baixa de 9,29%, seguida por Americanas (AMER3), que recuava 6,21%, e Qualicorp (QUAL3), que apontava em 7,57% para baixo.
No mesmo sentido, o Ibovespa recuava 1,54%, e operava aos 110.205 pontos.
Os analistas ouvidos semanalmente pelo Boletim Focus, do Banco Central, apontam para uma redução menor na Selic no ano que vem, de acordo com o levantamento mais recente, publicado nesta segunda. Antes, a projeção era de retração da Selic para 11,50% ao fim de 2023. Agora, espera-se uma diminuição para 11,75%. A Selic está em 13,75% ao ano.
A nova expectativa sobre os juros reflete o temor do mercado sobre a responsabilidade fiscal do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que trabalha para aprovar a PEC da Transição com quase R$ 200 bilhões fora do teto de gastos, a lei que limita o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior, em 2023.
Somado a isso, Nicolas Farto, head de renda variável da Renova Invest, ressalta que parte dos investidores americanos passou a projetar que a taxa terminal do juros nos EUA possa ficar acima do esperado, o que também contribui para o “estresse” da curva brasileira.
Além desses papéis, a ação da Ecorodovias recuava 6,71% e figurava entre as principais baixas do dia. Mais cedo, analistas do Itaú BBA adotaram uma postura mais conservadora em relação à empresa em um relatório enviado ao mercado.
O banco citou pontos que podem dificultar uma melhora dos indicadores financeiros da empresa e também das ações. O primeiro ponto que preocupa o BBA é um possível “atraso” no fim do ciclo de alta de juros no Brasil.
Outro ponto avaliado pelo banco é o alto nível de alavancagem, que mede o quanto as dívidas de uma empresa superam a geração de caixa. Quanto maior, naturalmente, pior. De acordo com o BBA, a alavancagem deve encerrar 2022 em 4,6 vezes. No final do ano passado, esse indicador estava em 3,4 vezes, segundo dados da plataforma do TradeMap.
Cyrela (CYRE3) e outras construtoras desabam na Bolsa
A Cyrela (CYRE3), a EzTec (EZTC3) e o setor de construção civil caem em bloco após a Caixa Econômica Federal, principal banco ligado ao financiamento imobiliário, reduzir o volume de crédito nos últimos meses do ano, em função da baixa da carteira de crédito da poupança, já que este recurso é utilizado pelo banco estatal para financiar boa parte dos imóveis.
As ações recuavam 5,68% e 6,07%, respectivamente. Os papéis de construtoras focadas na baixa renda também caíam, com destaque para a Tenda (TEND3), que tinha queda de 8,13%, a Direcional (DIRR3), que caía 4,78%, e a MRV (MRVE3), com baixa de 4,47%.
Empresas ligadas ao minério operam em alta
As novas notícias de flexibilização nas medidas contra a Covid-19 na China voltaram a impulsionar algumas commodities e ajudaram as ações ligadas ao minério e ao petróleo a avançarem no Ibovespa.
No final de semana, Pequim retirou as cabines de testes para a doença, enquanto em Shenzhen o governo deixou de exigir resultado de testes para pessoas se locomoverem para trabalhar.
O minério de ferro negociado na bolsa de Dalian, que repercutiu no noticiário, teve uma alta de 2,45% no pregão da manhã, com a tonelada da commodity cotada a US$ 114,42.
Ainda que China apresente altos números nos casos de Covid, as cidades têm adotado medidas para aliviar as tensões no país.
Na Bolsa brasileira, a ação da CSN Mineração (CMIN3) avançava 1%. Além dela, CSN (CSNA3) subia 1,52%, Usiminas (USIM5) ganhava 1,20% e Vale (VALE3) se valorizava 1,16%.
O petróleo avança 0,8% nesta segunda, cotado a US$ 86. Na visão de Farto, da Renova Invest, a performance ajuda os papéis da Petrobras (PETR4), que se valorizam 0,35% no pregão. “Os papéis da Petrobras e da Vale ‘seguram’ um pouco o índice, mantendo o Ibovespa com uma queda ‘menos pior”, comenta.
Bolsas internacionais em baixa
Os mercados globais também operam no negativo nesta segunda, repercutindo os dados do relatório de empregos nos EUA acima do projetado pelos analistas, levantando dúvidas sobre o ritmo da desaceleração do aperto monetário americano.
Na última sexta-feira, os dados revelaram uma criação de 263 mil novos postos de trabalho, ante uma expectativa de 193 mil. Além disso, a inflação de salários ficou em 0,4%, também acima do esperado.
“Os números sugerem um mercado de trabalho ainda apertado e riscos para uma inflação ainda alta. Com isso, o mercado começa a ponderar sobre o ritmo que o Federal Reserve (banco central americano) conseguirá desacelerar as novas altas na taxa de juros”, avalia a XP, em relatório.
Veja a performance dos principais índices globais nesta segunda: