A despeito do clima de incerteza que ronda o horizonte, com alta dos juros globais e eleições no Brasil, os títulos prefixados ganharam mais espaço entre os investidores do Tesouro Direto em junho, em detrimento dos papéis indexados à taxa básica de juros, a Selic.
O movimento foi estimulado pela perspectiva de que a alta da Selic está perto de acabar. Com isso, o peso dos títulos prefixados nas vendas do Tesouro Direto subiu a 12,9% em junho, um aumento em relação aos 10,9% de maio.
Ao mesmo tempo, a participação do Tesouro Selic se reduziu, na mesma comparação, de 56,5% para 55,3%, enquanto os títulos atrelados à inflação caíram de 32,7% para 31,8%. Os dados foram divulgados pelo Tesouro Nacional nesta terça (26).
Os investimentos em títulos prefixados superaram os resgates e vencimentos destes papéis em R$ 87,8 milhões em junho. Este saldo positivo foi 73% maior que o observado em maio (R$ 50,7 milhões) e o mais elevado desde o início deste ano.
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No caso dos títulos prefixados com juros semestrais, também chamados de NTN-F, o aumento foi de 60,5%, para R$ 50,9 milhões.
Os investidores foram atraídos pela elevada taxa de juros oferecida pelos papéis – de mais de 13% ao ano – diante da do aumento no risco de descontrole das contas públicas.
Além disso, em junho a perspectiva era de que a Selic pararia de subir nos meses seguintes. Esse potencial limite à remuneração oferecida pelos títulos vinculados à taxa também favoreceu os prefixados.
Nas últimas semanas, porém, parte dos economistas passou a enxergar um ciclo de alta um pouco mais longo para a taxa básica de juros, prevendo que a taxa básica pode alcançar 14% ao ano, o que mudou um pouco esta dinâmica.
A maioria do mercado ainda acredita em uma última alta de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), o que levaria a taxa básica a 13,75% ao ano.
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Tesouro Selic recua
No caminho oposto, os investimentos em Tesouro Selic fecharam junho em R$ 842,5 milhões, recuo de 18% em paralelo a maio (R$ 1,03 bilhão). Na comparação semestral, o tombo é ainda maior, de 25%.
Os papéis do Tesouro Direto indexados à taxa básica de juros são os mais indicados em momentos de forte incerteza e quando se aposta em novos aumentos de juros e a manutenção das taxas em patamares pressionados.
O alto grau de liquidez e o acompanhamento da taxa de juros também fazem com que os papéis indexados à Selic sejam os mais recomendados para investidores mais conservadores e para a construção de uma reserva de emergência.
Papéis indexados à inflação têm resultados mistos
As opções de papéis indexados à inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) tiveram desempenho misto em junho.
O investimento líquido em Tesouro IPCA+ com juros semestrais totalizaram R$ 144,4 milhões, alta de 235% ao observado em maio (R$ 43,1 milhões), enquanto que o Tesouro IPCA+ teve queda de 32,4%, totalizando R$ 407,5 milhões.
Na demanda dos investidores, os dois títulos representaram 31,7% das vendas, com R$ 1,16 milhão.
Número de investidores bate novo recorde
O número de investidores ativos, ou seja, os que possuem aplicações no Tesouro Direto, foi a 2 milhões, contra 1,97 milhão em maio. Esse é o maior patamar desde o início da série histórica, em 2003.
O mês contou com 539 mil novos cadastros de pessoas que não necessariamente fazem aportes nos títulos públicos, totalizando 19,4 milhões de contas.