Depois de passar o dia todo no positivo, o Ibovespa fechou o pregão desta quarta-feira, dia 22, em baixa de 0,24%, aos 105.244 pontos, descolado das bolsas do exterior, que encerram o dia no azul.
Em Wall Street, o Dow Jones fechou em alta de 0,74%, o S&P 500 subiu 1,02% e o Nasdaq, 1,18%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 terminou o dia em alta de 1,01%, o DAX, da Alemanha, subiu 0,95%, enquanto o FTSE 100, de Londres, teve avanço de 0,61%, mesmo depois da divulgação final do PIB do Reino Unido do terceiro trimestre, que foi revisado de 1,3% para 1,1%.
Nos EUA, o PIB do terceiro trimestre cresceu 2,3%, acima das expectativas do mercado, mas muito abaixo da leitura do trimestre anterior, de 6,7%.
Na análise de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, ainda que o número evidencie uma desaceleração, o movimento é natural. “É bom lembrar que os EUA começaram a vacinar antes, então eles tiveram um processo de reabertura antecipada em comparação ao Brasil, por exemplo, que espera os efeitos da reabertura para o segundo semestre. Então é natural ter uma contração agora”, explica.
O dólar também terminou o dia em baixa em relação ao real, refletindo a melhora no sentimento de risco no exterior, que contrasta com a cautela no Brasil. A moeda americana fechou em queda de 1,24%, a R$ 5,6684, na maior baixa diária em duas semanas.
No Brasil, o Congresso aprovou, na noite de terça-feira, o Orçamento de 2022, que destina R$ 4,9 bilhões para o fundo eleitoral, R$ 16,5 bilhões para as emendas do relator e R$ 1,7 bilhão para o reajuste dos policiais federais.
A aprovação do projeto tem um impacto negativo no mercado. “Tem uma sensação de descaso com todo o problema fiscal que o Brasil tem passado nos últimos anos. O governo federal não aprovou durante esse ano praticamente nenhuma medida que fortalecesse a questão fiscal. Muito pelo contrário, arranjou uma forma de driblar o teto e gastar mais no ano que vem”, diz Cruz.
Além disso, a FGV divulgou seu Índice de Confiança do Consumidor (ICC) para dezembro, que ficou em 75,5 pontos, alta de 0,6 ponto em comparação ao mês anterior. Em relação a dezembro de 2020, o número representa queda de 3 pontos.
Ainda, ao longo do dia, o Tesouro Nacional divulgou os dados de estoque da Dívida Pública Federal, que cresceu 2,34% em novembro, terminando o mês em R$ 5,498 trilhões.
Agora, o mercado fica na expectativa pelos dados de inflação de dezembro, que serão divulgados amanhã às 9h. A projeção para o IPCA-15 é de alta de 0,80%, de modo que o acumulado do ano ficaria em 10,45%. Um resultado abaixo do esperado, na visão de Rafael Ribeiro, analista de investimentos da Clear Corretora.
As maiores baixas do índice no fechamento eram de Rede D’Or (RDOR3), Magazine Luiza (MGLU3) e Natura (NTCO3), com recuos de 5,67%, 4,05% e 4,02%, enquanto as principais altas foram de GetNet (GETT11), Banco Pan (BPAN4) e Méliuz (CASH3), que avançaram 23,4%, 7,92% e 6,77%.
A queda em bloco do setor de saúde é resultado de temores com o avanço da Ômicron. Pela manhã, a operadora Hapvida publicou um balanço em que afirma que notou um “aumento nos atendimentos de pacientes com sintomas típicos de viroses (como Influenza) em praticamente todas as regiões onde atuamos”.
Uma nova onda de internações é algo que preocupa os investidores de companhias de saúde porque causa superlotação nos hospitais e gera uma postergação dos procedimentos eletivos. Segundo a analista Giovana Scottini, sócia da Meraki Capital, em entrevista à Agência TradeMap, a queda das empresas é um reflexo do que tem acontecido no exterior, espelhando notícias de outros países.
Para ela, porém, trata-se de uma visão superficial, uma vez que já há estudos que indicam que, com a Ômicron, o risco de hospitalização é 80% menor em relação às outras variantes.
O gestor Luís Felipe Amaral, por sua vez, fundador da gestora Equitas, reconhece que a pandemia pode piorar de novo, mas demonstra pouca preocupação com o longo prazo. “Pode haver flutuações de curto prazo, uma nova onda de fechamento, uma nova postergação de procedimentos, mas é questão de tempo para que as coisas voltem à normalidade”, diz.
Na opinião dos analistas do Itaú BBA, a reação negativa do mercado em relação aos papéis da Hapvida, um dos mais penalizados, “parece excessiva”. “É importante destacar que, por enquanto, não vimos esse aumento nas consultas de pronto-socorro levando a internações”, afirmam os analistas Lucas Figueiredo, Emerson Vieira e Lucca Generali Marquezini.
A ação fechou em queda de 3,24%, cotada a R$ 11,05.
O rali da GetNet vem um dia depois de a empresa anunciar o pagamento de juros sobre capital próprio referente aos valores apurados nos exercícios de 2016, 2019 e 2021, no valor bruto de R$ 298 milhões.
Além disso, conforme explica Felipe Vella, analista técnico da Ativa Investimentos, o fato de o valor da ação ter caído muito recentemente o torna barato frente a seus pares, o que faz com que o JCP com dividend yield (taxa de retorno dos dividendos) de mais de 7% pareça ainda mais interessante.
“Isso leva a uma corrida pelo papel. Gera uma demanda que não existia, com muitas pessoas querendo comprar o papel porque está barato e ainda assim irá pagar proventos interessantes”, explica Vella.
A alta nas ações de Banco Pan e Banco Inter (BIDI11), que subiu 1,24%, fechando a R$ 28,59, é um movimento de reajuste após fortes quedas.
Notícias corporativas
A PetroRio (PRIO3) protocolou a declaração de comercialidade da descoberta de Wahoo e o plano de desenvolvimento em regime de operação exclusiva junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O papel teve alta de 1,22%, a R$ 19,87.
Ainda entre as petroleiras, a 3R Petroleum (RRRP3) concluiu a aquisição de 50% do Campo de Sanhaçu por US$ 6 milhões. O campo possui 5,3 milhões de barris de óleo equivalente (boe) em reservas e sua produção média alcançou aproximadamente 954 boe nos nove primeiros meses deste ano. Na esteira da notícia, a ação fechou em alta de 2,08%, a R$ 31,48.
Em outra frente, Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou sem restrições a joint venture entre a Cosan (CSAN3) e a Porto Serviços e Comércio, cujo objetivo será o aluguel e a terceirização de frotas e veículos. Negociado a R$ 21,40, o papel da Cosan teve alta de 0,28%.
Em outra notícia relativa a transportes, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings elevou sua perspectiva de crédito corporativo da Simpar (SIMH3), de estável para positiva, devido ao aumento de escala e à manutenção de uma abordagem prudente em relação à alavancagem. A ação subiu 0,33%, a R$ 12.
Os controladores da Alliar (AALR3) fecharam um contrato para a venda de até 62.399.842 ações para o fundo de investimento do empresário Nelson Tanure, pelo valor de R$ 20,50 por ação. A operação pode atingir R$ 1,27 bilhão. Depois da notícia, o papel despencou 20,35%, a R$ 14,25.
O dia foi especialmente agitado para o setor de energia elétrica. A AES Brasil (AESB3) e a Unipar Carbocloro (UNIP6) fecharam um acordo para criar uma joint venture focada em energia eólica, que terá capacidade de produção de 91 megawatts de energia. Com isso, a AES Brasil elevou sua previsão de investimentos para o período até 2026 em R$ 359 milhões, para R$ 3,86 bilhões.
A R$ 11,02, o papel da AES Brasil terminou o dia em alta de 0,73%, enquanto o da Unipar cedeu 2,04%, a R$ 93,84.
O governo de Minas Gerais concedeu à Isa CTEPP (TRPL4) licenças ambientais prévias para a instalação de três novas subestações, duas linhas de transmissão e 303 torres no no Triângulo Mineiro. A ação teve alta de 1,32%, a R$ 24,62.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou novos valores para contratos de concessão para capitalização da Eletrobras (ELET3). O valor adicionado pelos novos contratos de concessão foi fixado em R$ 67 bilhões, e a empresa pagará R$ 25,3 bilhões à União por outorgas de usinas. A ação subiu 2,25%, a R$ 33,68.
A Neonergia (NEOE3) confirmou a venda de toda a capacidade disponível da Termopernambuco no leilão de reserva de capacidade, garantindo a receita fixa de R$ 207 milhões por ano até 2041. A ação perdeu 0,46%, a R$ 17,30.