O Ibovespa seguiu os pares globais e fechou em forte queda nesta sexta-feira (10) após os dados de inflação aos consumidores dos Estados Unidos em abril virem acima do esperado pelo mercado. O índice de referência para a B3 encerrou a sessão com queda de 1,51%, aos 105.481 pontos e R$ 23,63 bilhões em volume negociado.
Com este desempenho, o Ibovespa encerra a semana com retração de 4,27%, enquanto desde o começo de junho o índice desvalorizou 5,27%. Apesar dos tombos, na parcial de 2022, o indicador soma alta de 0,63%, conforme dados disponíveis na Agência TradeMap.
Este foi o sexto dia seguido de queda do Ibovespa em uma semana marcada por pressões locais e internacionais. Na pauta doméstica, o destaque negativo foi para a disparada do risco fiscal após o governo federal propor compensar com recursos “extraordinários” da União os estados que reduzirem a tributação sobre os combustíveis.
A medida integra o PLP 18/2022, que já foi aprovado na Câmara e deve ser colocado em votação no Senado na próxima segunda-feira (13). Apesar de tirar parte da pressão sobre a política de reajustes da Petrobras, agentes do mercado não viram com bons olhos o programa do governo e afirmaram que a medida é eleitoreira e tende a pressionar ainda mais a inflação em 2023.
Já o noticiário internacional foi marcado pelo anúncio de aumento dos juros na zona do euro em 25 pontos-base em julho. Atualmente, a taxa está zerada. O Banco Central Europeu (BCE) também se comprometeu a fazer novos ajustes em setembro. Será a primeira elevação dos juros no bloco desde 2011.
A China também voltou a mexer com os mercados globais ao anunciar novas medidas de restrição para conter o avanço da pandemia de Covid-19. Desta vez, o governo de Pequim anunciou que vai isolar uma área de Xangai com 2,7 milhões de habitantes para fazer testagem em massa.
Inflação americana, pânico global
O índice de preço ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) subiu 1% em maio na comparação com o mês anterior, e bateu a casa de 8,6% em 12 meses, conforme dados divulgados nesta sexta-feira. Este é o maior patamar para o indicador desde a década de 1980.
O avanço veio acima do esperado pelos analistas e coloca ainda mais pressão sobre o Fed (banco central dos EUA) em aumentar o aperto monetário nos próximos meses além do combinado.
Em maio, a autoridade monetária subiu os juros em 50 pontos-base e encomendou nova alta de mesma magnitude para o encontro na semana que vem.
Agora, crescem as expectativas de um aumento mais significativo, na ordem de 75 pontos-base. O temor dos investidores é que a elevação dos juros jogue a maior economia do globo em uma recessão, o que deve impactar os mercados de forma generalizada.
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“Se você abrir o dado do CPI, vai ver que é o setor de energia que está pressionando. E tende a continuar pressionado, com o petróleo em alta”, diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus. “O Fed não vai ter como amenizar a curva de juros. Uma possível parada em setembro, que alguns cogitaram, é zero possibilidade. Vai ter que seguir com o ciclo de alta até o final do ano.”
O cenário penalizou as empresas mais expostas aos juros, principalmente as ligadas ao varejo, consumo e tecnologia. As perdas do Ibovespa foram puxadas pelas Americanas (AMER3), com queda de 10,63%, Banco Inter (BIDI11 -6,87%) Azul (AZUL4 -6,62%), Positivo (POSI3 -6,39%), Embraer (EMBR3 -5,71%) e Gol (GOLL4 -5,68%) também estavam entre as que mais desvalorizaram.
O receio gerado pelos dados da inflação americana trouxe pânico em todo o mundo. Em Nova York, o Dow Jones recuou 2,63%, o S&P 500 perdeu 2,89% e a Nasdaq caiu 3,45%. Na Europa, o Euro Stoxx 50 perdeu 3,43%, o DAX desvalorizou 3,08% e o FTSE 100 apontou em 2,12% para baixo.
Eletrobras cai após privatização
Após estar entre as maiores altas da véspera em meio ao processo de precificação das ações, a Eletrobras passou para o time de maiores perdas da B3 nesta sexta-feira. Os papéis preferenciais (ELET6) e ordinários (ELET3) caíram 6,59% e 4,74%, respectivamente.
Ontem, a companhia registrou demanda suficiente pelas novas ações da companhia e foi adiante em seu processo de privatização. Foram vendidos 802 milhões de papéis na operação, a R$ 42 cada – um desconto de 2,5% em relação ao preço de fechamento de quinta -, movimentando cerca de R$ 33,7 bilhões.
“Historicamente, quando há uma oferta muito grande, tende a haver uma precificação. Mas o dia também é negativo, então a soma desses fatores faz com que a queda da Eletrobras fosse mais forte do que deveria”, afirma Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos.
A demanda por ações da Eletrobras recebeu um impulso relevante de investidores que decidiram usar recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para comprar os papéis da companhia.
Cerca de 370 mil pessoas fizeram a opção por usar dinheiro do Fundo na operação via Fundos Mútuos de Privatização – FGTS, segundo informou uma fonte com conhecimento da oferta à Agência TradeMap.
Altas do dia
O campo positivo teve bastante participação de empresas ligadas à área da saúde, como farmacêuticas e drogarias, setor beneficiado pela decisão do STJ (Supremo Tribunal de Justiça) nesta semana sobre a mudança de regras nos planos de saúde com a não-obrigatoriedade da cobertura de procedimentos médicos que não estão previstos em lista da Agência Nacional de Saúde (ANS).
A alta do dia foi puxada pela Qualicorp (QUAL3), com avanço de 7,39%, com destaque também para a Hypera (HYPE3 0,57%), Fleury (FLRY3 0,46%) e RaiaDrogasil (RDL3 0,73%).
O tom positivo também teve participação da CSN (CMIN3 3,98%), Cielo (CIEL3 0,53%) e da Marfrig (MRFG3 0,53%).
Varejo surpreende, mas indica desaceleração
As vendas no varejo subiram 0,9% em abril ante março, o quarto mês seguido de resultado positivo, conforme dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em paralelo com abril do ano passado, o salto foi de 4,5%.
O desempenho do comércio veio bem acima do esperado pelo mercado, mas também indicou a desaceleração do segmento. Em janeiro, as vendas subiram 2,4%, seguidas de duas altas consecutivas de 1,4% em fevereiro e março.
Para analistas, a redução tende a se manter nos próximos meses quando a economia parar de ser beneficiada pelas medidas de estímulo lançadas pelo governo federal entre o fim de 2021 e início de 2022, como liberação do FGTS e o saque do 13º por pensionistas e aposentados.
A atividade também deve começar a ser mais impactada pela corrosão do poder de compra dos brasileiros pelo aumento da inflação e da dificuldade na tomada de crédito com a manutenção dos juros acima de dois dígitos.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os dados de abril são um prenúncio de uma queda a partir dos próximos meses. “Seguimos com a visão de que comércio e serviços estão tomando um último fôlego antes da desaceleração projetada para o segundo semestre”, disse.
Bitcoin
Seguindo o clima péssimo nas bolsas globais, o mercado de criptoativos também encerra a semana com fortes quedas.
O Bitcoin (BTC) perdeu a resistência dos US$ 30 mil e traz expectativas de como a cotação vai se comportar durante o fim de semana, já que, ao contrário de outros ativos, o mercado de criptomoedas funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Por volta de 17h, o BTC registrava queda de 4,50% em 24 horas, cotado a US$ 29.111, conforme dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.
As altcoins, ativos além do BTC, também iam na onda negativa. O Ethereum (ETH) registrava queda de 6,5%, enquanto a Solana (SOL) perdia 5,6%, segundo informações da CoinGecko.