A ação do GPA (PCAR3) lidera as baixas do Ibovespa no pregão desta terça (28) após ter apresentado um balanço para o quarto trimestre que surpreendeu negativamente os investidores com um prejuízo bilionário.
Por volta das 13h15h, a ação da varejista tinha uma desvalorização de 9,38%. No mesmo momento, o Ibovespa caía 0,53%, aos 105.153 pontos. Lá fora, os mercados internacionais operavam em direções mistas.
O Grupo Pão de Açúcar surpreendeu o mercado e anotou um prejuízo líquido de R$ 1,1 bilhão no quarto trimestre de 2022, revertendo o lucro líquido de R$ 777 milhões visto no período equivalente em 2021. De acordo com o grupo, boa parte das perdas foi motivada por “elementos excepcionais” relacionados a impostos e gastos com reestruturação de lojas que tiveram um efeito negativo total de R$ 956 milhões no resultado.
O mercado esperava um resultado líquido positivo no trimestre. A XP previa lucro de R$ 188 milhões, enquanto a Genial projetava lucro ainda maior, de R$ 315 milhões. Mesmo sem as despesas extraordinárias reportadas pelo GPA, os resultados não corresponderiam às expectativas dos analistas.
Em análise, o analista CNPI da Agência TradeMap Sérgio Castro destacou que, embora o GPA tenha apostado em lojas do segmento de proximidade e tenha enxugado seu portfólio, o cenário de juros e inflação altos prejudicam o poder de compra da população, o que leva “a uma migração para lojas de atacarejo, como as do Assaí e Atacadão, do Carrefour”.
Outras baixas do pregão
Ainda na ponta negativa, a CVC (CVCB3) caía 4,60%, o Carrefour (CRFB3) perdia 3,73% e a MRV (MRVE3) apontava em 3,41% para baixo. Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destaca que os contratos futuros de juros sobem nesta terça, o que acaba pressionando essas empresas mais sensíveis à economia doméstica.
Segundo dados da plataforma do TradeMap, os contratos futuros de juros para 2024, 2026 e 2029 avançavam em bloco, cotados a 13,21%, 12,83% e 13,28%, respectivamente.
No caso específico do Carrefour, a empresa informou mais cedo uma mudança na sua diretoria executiva. A companhia disse que David Murciano, diretor vice-presidente de finanças e de relações com investidores no Brasil renunciou ao referido cargo, com efeitos a partir de 1º de março, para retornar para a Europa.
Diante de tal decisão, o conselho de administração do Carrefour disse que Stéphane Maquaire, diretor-presidente, acumulará a função interinamente, até a eleição de um substituto, cujo nome será oportunamente informado ao mercado. Paulo, da Manchester, ainda destaca que o resultado negativo do GPA pode estar pressionando o desempenho da ação do Carrefour.
Distribuidoras sobem na Bolsa
Ações de empresas distribuidoras de combustível figuravam entre as principais altas, ainda na expectativa do anúncio oficial do governo federal sobre a reoneração do PIS e do Cofins sobre o etanol e a gasolina. Raízen (RAIZ4) ganhava 1,32%, Vibra (VBBR3) subia 0,61% e Eneva (ENEV4) apontava em 1,60% para cima.
Nesta terça (28), último dia da validade da isenção do PIS/Cofins sobre a gasolina e o etanol, o governo deve anunciar detalhes da reoneração dos combustíveis, que vem sendo costurada em conjunto com a Petrobras (PETR4). Na noite de ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo pode usar um “colchão” dentro da política de preços da estatal para compensar o aumento nos preços.
O presidente da companhia, Jean Paul Prates, se reúne hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para bater o martelo sobre as medidas. Ontem, a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda informou que os combustíveis voltarão a pagar tributos federais a partir da quarta-feira (1º).
O jornal Valor Econômico afirmou em reportagem que é possível uma volta de 75% dos tributos sobre a gasolina e 25% sobre etanol, com ganho fiscal de R$ 28,8 bilhões, equivalente à reoneração total de ambos os combustíveis.
Dentre as demais altas, a ação da Embraer (EMBR3) subia 2,24% e figurava entre os maiores ganhos do dia. Por acreditar que o mercado não esteja precificando adequadamente as expectativas de crescimento da empresa, a XP atualizou as estimativas para a companhia, reiterando a recomendação de compra, mas introduzindo um preço-alvo de R$ 22,50 para o fim de 2023.
Para a corretora, embora o preço-alvo já implique um upside (potencial de valorização) de 40% em relação ao fechamento de ontem (27), há opcionalidades como a Eve e uma eventual conclusão bem-sucedida no processo de arbitragem contra a Boeing, que podem acrescentar R$ 9,50 ao preço da ação, levando a um preço-alvo de R$ 32, o que corresponde a uma alta de 99%.
Bolsas internacionais
Fora do Brasil, o movimento é negativo nos principais mercados. Nos Estados Unidos, os investidores repercutem a divulgação do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) medido pelo ISM de Chicago, que recuou de 44,3 pontos em janeiro para 43,6 pontos em fevereiro. O resultado veio abaixo previsão de analistas.
Esse indicador serve para medir a força da economia e, portanto, ajuda o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a definir o futuro dos juros por lá.
Na Europa, os mercados europeus recuam e devolvem os ganhos da véspera, e aguardam mais dados de inflação que serão divulgados até quinta-feira. Esses indicadores podem também dar pistas adicionais sobre a trajetória de juros na zona do euro.