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Gestores brasileiros apostam contra a libra; veja os fundos que ganharam com queda da moeda

Divisa britânica sofreu maior tombo em 32 anos após a premiê Liz Truss anunciar pacote de corte de impostos

Foto: Shutterstock

O tombo da moeda do Reino Unido em 23 de setembro, maior queda em 32 anos, trouxe ganho para alguns gestores brasileiros que estavam com posição vendida (apostando na queda) na libra esterlina, enquanto outros aproveitaram para apostar contra a moeda do Reino Unido.

Gestoras como WHG, Opportunity, Novus e Gauss ganharam com a queda de 3,98% da libra em setembro, enquanto outras casas, como a Verde e Vinci, aproveitaram o enfraquecimento da moeda para montar uma posição vendida (apostando na queda) na moeda do rei Charles III.

A WHG aproveitou a forte correção da divisa britânica para embolsar parte dos ganhos e reduzir a aposta contra a moeda do Reino Unido no fundo WHG RF Dinâmico, que acumula 120% do CDI no ano.

“Montamos uma posição vendida na libra antes da eleição da Liz Truss [primeira-ministra britânica eleita em 5 de setembro], porque antes de ser eleita ela já tinha uma plano fiscal mais expansionista que seus adversários, e agora reduzimos bastante essa posição, que hoje é feita via opções”, diz Rafael Gaspar, gestor do fundo macro da WHG.

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A WHG também ganhou com a aposta na alta recente das taxas dos títulos do governo do Reino Unido (gilts) diante da preocupação com estabilidade da dívida do país.

A gestora do Opportunity foi outra que ganhou com a queda da libra. A gestora vinha com visão mais pessimista em relação ao euro e libra frente ao dólar dada a divergência da política monetária e de perspectiva de crescimento entre a Europa e os Estados Unidos.

“Estávamos comprados em dólar contra essas moedas já que a Europa enfrenta uma crise energética e uma guerra na porta [na Ucrânia] e nos Estados Unidos a inflação continua resiliente, levando o banco central a avançar no ciclo de alta de juros“, diz Marcos Mollica, sócio e head de gestão do Opportunity Total, que acumula alta de 11,34% no ano até 14 de outubro, contra variação positiva de 9,41% do CDI no período.

A gestora reduziu a posição vendida na libra em outubro, mas vê uma tendência de dólar forte contra o euro e contra a libra.

A Gauss Capital também reduziu a posição vendida na libra, que mantinha há nove meses, depois de ganhar com a queda da moeda. O fundo da gestora Gauss II Multimercado acumula alta de 15,43% no ano até 18 de outubro, contra variação positiva de 9,50% do CDI.

“Reduzimos a posição porque a volatilidade da libra aumentou muito, mas seguimos com visão pessimista para moeda devido a três fatores: a perspectiva de contração da atividade no Reino Unido em 2023, elevado déficit fiscal e na conta corrente e inflação ainda pressionada pelos preços altos de energia”, diz Matheus Abuchaim, gestor internacional da Gauss Capital.

Já a Novus Capital zerou a posição vendida em euro e libra contra o dólar após o anúncio da troca de ministro das Finanças do Reino Unido e reversão dos cortes de impostos anunciados pela premiê britânica Liz Truss.

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“Estamos aguardando o melhor momento para voltar com essa posição. O déficit em conta corrente vai seguir muito alto e o fundamento vai exigir uma moeda mais desvalorizada”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Novus Capital.

Por que a libra está caindo?

Por trás desse cenário, está a preocupação com a sustentabilidade das contas públicas do país.

Em 23 de setembro, a libra bateu o menor patamar desde 1985 e quase atingiu a paridade com o dólar, após o governo do Reino Unido anunciar um grande pacote de corte de impostos.

gráfico da libra

 

O anúncio aumentou a preocupação com a sustentabilidade da dívida do Reino Unido e levou a uma venda dos gilts, títulos públicos do governo britânico, o que fez disparar as taxas desses papéis.

O plano malsucedido, que implicava em um impacto fiscal de 45 bilhões de libras (R$ 255 bilhões) acabou gerando a demissão do ministro das Finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, e colocou maior pressão sobre a premiê britânica Liz Truss.

Para tentar acalmar o mercado, o novo ministro das Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, reverteu, em 17 de outubro, cerca de 32 bilhões de libras em cortes de impostos, do total de 45 bilhões que haviam sido anunciados por Truss.

Hunt anunciou ainda que o plano de subsídio de energia, que a princípio duraria por dois anos, valerá somente para as famílias britânicas mais pobres a partir de abril do ano que vem.

No próximo dia 31, Hunt deverá anunciar os detalhes de um novo plano fiscal para médio prazo, que deve incluir mais aumentos de impostos e cortes de gastos.

Libra deve seguir sob pressão

Para os gestores, embora a troca do ministro das Finanças e reversão de boa parte do corte de impostos tenham ajudado a acalmar o mercado, a moeda britânica ainda deve continuar sob pressão de baixa no médio prazo.

“No curto prazo, a troca de ministros pode ajudar a frear uma aposta mais pessimista na moeda. Mas temos uma visão estrutural mais negativa para a libra, uma vez que o Reino Unido tem déficits gêmeos [déficit no Orçamento e de conta corrente] e precisa de financiamento externo”, diz Gaspar.

A dívida pública do Reino Unido alcançou, em agosto, 100% do PIB e o déficit em conta corrente estava em 5,5% do PIB no segundo trimestre, dado que o país mais importa que exporta.

Apesar de reduzirem a posição, os gestores não descartam o risco da libra atingir a paridade com dólar no médio prazo.

Queda da premiê pode trazer mais instabilidade

Uma eventual queda da primeira-ministra britânica, Liz Truss, o que vem sendo defendido pelos conservadores, pode trazer mais instabilidade para o mercado dependendo como acontecer.

“A queda da Truss traz o risco de trazer instabilidade financeira, mas o mercado já está com uma visão bem pessimista”, diz Mollica.

Para o gestor da Gauss, o importante é saber quem será o próximo ministro se Truss renunciar.

“Se for o Rishi Sunak [ex-ministro de Finanças do Reino Unido], ele seria visto com bons olhos”, diz Abuchaim.

Aumento de juros em novembro traz incerteza

As apostas para a próxima alta da taxa básica de juros no Reino Unido, hoje em 2,25%, estão divididas entre 0,75 ponto e 1 ponto.

“Não tenho convicção que o BoE [Banco da Inglaterra] aumentará a taxa básica em 1 ponto dado o risco de recessão. E se isso não acontecer é outra decepção para o mercado, que pode aumentar a pressão de venda da libra”, diz Mollica.

O BoE vem sendo acusado de ser mais lento que o esperado no processo de alta da taxa de juros diante de uma inflação que alcançou o patamar de 9,9% em 12 meses até agosto.

A consultoria Capital Economics espera que a taxa básica na Inglaterra alcance o pico de 5% no fim de 2023.

Contudo, o mercado vê pouco espaço para a aceleração da vendas dos títulos públicos em carteira do banco central britânico, cujo início foi adiado para 1º de novembro, conforme anunciado pelo BoE ontem.

“Acho que se a venda de títulos pelo BoE causar algum estresse no mercado eles recuariam”, diz Gaspar.

Embora a libra tenha estado sob pressão, o gestor da WHG afirma que o cenário é diferente do episódio conhecido como a Quarta-Feira Negra, quando em 16 de setembro de 1992 o empresário e economista George Soros ganhou 1 bilhão de libras esterlinas especulando a desvalorização da libra esterlina.

“Naquele momento o câmbio era fixo, hoje é flutuante, a libra é livre para cair”, diz Gaspar.

Como o cenário no Reino Unido pode afetar o real

Uma nova queda forte da libra pode aumentar a aversão a risco nos mercados, levando os investidores a buscarem proteção no dólar. O real, assim como outras moedas emergentes, sofreria com esse movimento como aconteceu em 23 de setembro.

No caso do real, outros fatores têm afetado a moeda brasileira, como o cenário eleitoral e a perspectiva de piora da balança comercial brasileira por conta de uma queda da demanda de commodities metálicas por parte da China, além da incerteza sobre a política fiscal no próximo governo.

“Além desses fatores, o diferencial de juros não vai mais jogar a favor, uma vez que o Banco Central parou de subir juros no Brasil e os EUA continuam apertando a taxa básica”, diz Mollica. “Por isso, o nível de R$ 5,30 não parece tão fora do preço justo”, diz.

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