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Conflito na Ucrânia deve segurar tendência de alta de ativos brasileiros; saiba as ações mais afetadas

Com alta nos preços de commodities, setor aéreo e de alimentos e bebidas devem ser os mais afetados na Bolsa, diz Itaú BBA

O conflito entre Rússia e Ucrânia deve impactar o forte fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil, verificado no início do ano e que estava sustentando a valorização dos papéis na Bolsa diante do movimento global de maior aversão a risco.

“Enquanto tiver essa incerteza, não devemos ver um movimento expressivo de valorização dos ativos brasileiros”, diz Gabriel Fongaro, economista do Julius Baer Family Office.

O fluxo líquido dos investimentos estrangeiros na Bolsa está positivo em R$ 56,8 bilhões no ano. Em janeiro, a entrada líquida de investimentos estrangeiros em carteira no Brasil somou US$ 5,7 bilhões.

Diante da incerteza sobre a extensão e desdobramento da guerra, os investidores globais preferem adotar uma postura mais cautelosa de busca por ativos de menor risco, como títulos do Tesouro americano.

“Se tivermos um agravamento da guerra, com invasão de algum país participante da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte), o cenário é mais negativo para os ativos de risco”, diz Fongaro.

Por enquanto, os governos ocidentais anunciaram sanções à Rússia, mas sem uma intervenção militar na Ucrânia, o que ajudou a reduzir as perdas nos mercados.

O cenário, contudo, ainda é de cautela. No caso do Brasil, o impacto maior deve ser pelo lado do aumento do preço das commodities, que pode pressionar ainda mais a inflação que já está acima da meta do Banco Central. “O conflito traz choques de preços de energia importante e novas rupturas da cadeia de comércio global”, diz Fongaro.

O Julius Baer ainda não alterou o cenário para a taxa Selicx e prevê a taxa básica encerrando em 12,25% no fim do ciclo de aperto monetário neste ano, com o câmbio devendo terminar o ano em R$ 5.

Apesar da queda nesta sexta-feira (25), o preço do barril de petróleo deve se manter em patamar elevado. Às 11h47, o barril do Brent caía 0,81% para US$ 94,65.

A Rússia é o maior exportador de trigo, o segundo maior exportador de petróleo, e produtor relevante de commodities como ouro (9% da produção mundial), além de responde por 10% das exportações de cobre e alumínio.

No caso do Brasil, embora a Rússia não seja um parceiro relevante (responde por apenas 0,6% das exportações brasileiras), o país é um importante fornecedor de alguns insumos, como fertilizantes.

Como o conflito deve afetar as ações na bolsa

Com a alta do preço do petróleo e das commodities agrícolas, as empresas aéreas e de alimentos e bebidas devem ser os mais afetadas.

No setor aéreo, o Itaú BBA vê os papéis da GOL (GOLLL4) e Azul (AZUL4) provavelmente como os mais atingidos pelo aumento do custos com combustíveis, apontou o banco em relatório.

No lado de alimentos e bebidas, o banco destaca as ações da M.Dias Branco (MDIA3), já que 45% do custo dos produtos vendidos estão relacionados ao trigo. A BRF (BRFS3) também pode sofrer com o aumento preços do milho, o que pressionaria o custo dos produtos vendidos, embora esse efeito seja um pouco compensado pelo impacto do provável aumento dos preços das aves.

Na parte de consumo, o banco destaca que os papéis da Natura (NTCO3) tende a sofrer um impacto, uma vez que o Leste Europeu representa quase 50% das vendas da Avon International, grande parte das quais na Rússia.

“Embora a Avon represente quase 10% do Ebitda [sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização] da Natura (segundo nossa estimativa para 2022), a orientação da empresa para ganhos de margem é altamente dependente de uma melhoria na operação internacional da Avon”, diz o Itaú em relatório.

Entre os papéis que podem se beneficiar desse cenário estão as ações das petroleiras  PetroRio (PRIO3) e  3R (RRRP3). A implicação para a Petrobras, segundo o banco, é menos direta, dadas as preocupações com a capacidade da empresa de repassar o aumento dos preços dos combustíveis.

Já a SLC Agrícola (SLCE3) , grande produtor de algodão, milho e soja, deve se beneficiar do aumento de preço dos grãos, segundo o banco.

No setor de siderurgia e mineração, a CBA (CBAV3) deve se beneficiar com a alta do preço do alumínio.

Entre os setores menos expostos a esse cenário, o Itaú destaca as ações dos segmentos de shopping centers e imobiliários, telecom, bancos e utilities (serviços públicos).

Como proteger a carteira

A estrategista de mercados globais do J.P. Morgan Asset Management, Gabriela Santos, afirma que em momentos de volatilidade o investidor deve buscar ter uma carteira diversificada em ações e títulos de crédito de qualidade, ativos reais e ouro.

Além disso, ter uma exposição no setor de energia pode fornecer uma proteção à carteira no momento atual, destaca a estrategista do J.P.

“O importante é ter cautela nesse momento de eventos geopolíticos. Em geral, esse tipo de aversão a risco tende a ter uma acomodação natural e os ativos se recuperaram se não houver nenhum escalada conflito”, diz Fongaro.

 

 

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