O Ibovespa encerrou próximo da estabilidade nesta sexta-feira (10), após passar toda a sessão oscilando entre perdas e ganhos, com investidores repercutindo a temporada de balanços e rumores da mudança da meta de inflação do Banco Central (BC).
O desempenho segue as principais Bolsas globais, que operaram sem direção definida diante do temor de alta dos juros americanos. Na semana que vem, dados da inflação em janeiro devem dar novas pistas aos investidores.
Diante destas pressões, o Ibovespa fechou com leve alta de 0,07%, aos 108.078 pontos e R$ 20,85 bilhões em volumes negociados, segundo dados da plataforma TradeMap.
O resultado faz a Bolsa brasileira encerrar a semana com queda de 0,41%, enquanto a parcial do mês registra tombo de 4,71%, e a do ano, de 1,50%.
BC segue no radar
O mercado voltou a repercutir os rumores de que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou ao governo federal aumentar a meta da inflação de 2023 de 3,25% para 3,50%.
O atual debate sobre mudanças na meta ocorre na esteira dos embates entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a autoridade monetária. Desde a semana passada, o petista contesta a decisão do BC em manter a taxa de juros – principal instrumento para conter a inflação – em 13,75% ao ano.
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A meta é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que se reúne pela primeira vez no ano na próxima quinta-feira (16). Além de Campos Neto, o colegiado é composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
“Apesar de boa parte do mercado concordar com o presidente Lula em relação a um exagero da atual taxa de juros no país, ameaçar a independência do Banco Central poderia ser um grande erro a ser cometido”, destaca Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital.
Alpargatas despenca
O grupo de baixas do Ibovespa foi liderado com folga pela Alpargatas (ALPA4), com recuo de 18,68%. O desempenho reflete a decepção do mercado com os dados do quarto trimestre de 2022, segundo balanço divulgado na véspera.
A dona da Havaianas reportou prejuízo líquido de R$ 21 milhões no período, revertendo o lucro líquido de R$ 303,1 milhões anotado em igual período de 2021.
O resultado surpreendeu casas do mercado, que projetavam um resultado menor que o visto no ano anterior, mas ainda positivo. A XP, por exemplo, esperava um lucro líquido de R$ 134 milhões no trimestre.
Em relatório divulgado nesta sexta-feira, os analistas da corretora ressaltaram que os resultados vieram fracos diante de uma “dinâmica de receita pressionada pelo cenário macroeconômico mais desafiador no Brasil, além de ajustes operacionais nas operações internacionais”.
A sequência de baixas era acompanhada pelos papéis do Bradesco (BBDC4; BBDC3), também em repercussão aos dados do último trimestre divulgados ontem. As ações preferenciais tombaram 8,19%, enquanto as ordinárias caíram 6,08%.
O banco decidiu provisionar 100% de sua exposição à Americanas (AMER3). O Bradesco possuía uma exposição de R$ 4,8 bilhões junto à varejista, o que fez com que o lucro tombasse na comparação com igual período de 2022.
Diante disso, o resultado líquido contábil somou R$ 1,43 bilhão, queda de 72,4% em três meses e 54,7% em um ano, ficando abaixo de toda e qualquer expectativa do mercado, que esperavam um lucro de pouco mais de R$ 4 bilhões.
Em análise, Jader Lazarini, analista CNPI da Agência TradeMap, considerou o resultado ruim, porque além da exposição ao risco Americanas ter sido elevado, o índice de inadimplência acima de 90 dias subiu 1,5 ponto percentual em um ano, atingindo 4,3%.
Ao mesmo tempo, em relação ao mesmo trimestre de 2021, o índice de cobertura caiu 56,7 pontos percentuais. “Além disso, o guidance de 2022 não foi atingido para a carteira de crédito e PDD expandida, que inclui baixas contábeis em aplicações financeiras”, destacou Lazarini.
TIM lidera altas
No lado oposto, as ações da TIM (TIMS3) valorizaram 4,44%. O ânimo do mercado foi impulsionado pelos dados acima do esperado para a empresa no quarto trimestre do ano passado.
A companhia telefônica reportou lucro líquido de R$ 590 milhões entre outubro e dezembro do ano passado, queda de 23,2% ante o mesmo período de 2021, mas ainda acima das expectativas dos analistas.
Já a receita líquida ficou em R$ 5,87 bilhões, aumento de 22,4% contra o último trimestre do ano anterior.
O BTG Pactual pontuou que o lucro líquido da TIM ficou acima do esperado e classificou o resultado como “surpreendente e positivo”.
O banco de investimentos também chamou a atenção para o aumento de 22,7% da receita de serviço móvel, impulsionado pela soma das operações da Oi.
“Além da consolidação dos clientes da Oi, reajustes de preços dos planos da TIM e ajuda do governo impulsionaram o sólido resultado”, escreveram os analistas.
Ainda no grupo positivo, Banco Pan (BPAN4) teve alta de 3,98%, enquanto CPFL Energia (CPFE3) apontou 3,61% para cima.
Petrobras amortece perdas do Ibovespa
O avanço das ações de petroleiras, especialmente da Petrobras (PETR4; PETR3), evitou um desempenho pior para o Ibovespa nesta última sessão da semana.
Os papéis preferenciais da estatal subiram 3,05%, enquanto os ordinários tiveram ganho de 2,73%. No mesmo setor, PRIO (PRIO3) ganhou 1,88%.
O fluxo positivo reflete a alta do petróleo após a Rússia afirmar que vai cortar sua produção de petróleo em 500 mil barris por dia (bpd) em março, em resposta à iniciativa do Ocidente de limitar os preços do petróleo russo em função da guerra na Ucrânia. A informação veio do vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak.
“A partir de hoje, vendemos totalmente nossa produção de petróleo, mas, como declaramos antes, não venderemos petróleo àqueles que direta ou indiretamente aderirem ao ‘teto de preço’”, disse Novak, segundo a agência de notícias russa Tass.
O barril do tipo brent, usado como referência na maior parte do mercado, encerrou com alta de 2,37%, a US$ 86,51, segundo dados da ICE.
Mercados globais e criptos
As principais Bolsas globais fecharam sem direção definida em meio à temporada de balanços dos Estados Unidos e temor de recessão global com o aumento dos juros.
Em Wall Street, o Dow Jones avançou 0,50%, enquanto o S&P 500 subiu 0,22% e a Nasdaq perdeu 0,61%. Na Europa, o Euro Stoxx 50 perdeu 1,24%.
“Durante a semana, Powell e outros membros do banco central americano enfatizaram a necessidade de novos aumentos na taxa de juros, o que resultou em um salto nos rendimentos dos títulos de 2 anos para 4,51% e pressionou o mercado acionário”, destacou a XP, em relatório.
O clima de tensão voltou a pressionar as criptomoedas. Por volta das 17h15, o Bitcoin (BTC) perdia 2%, negociado a US$ 21,7 mil. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) caia 2,5%, a US$ 1,5 mil.