O Ibovespa fechou o pregão desta sexta-feira (2) em alta, refletindo a subida das ações de maior peso no índice, diante da expectativa de que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição possa ser desidratada, diminuindo o risco fiscal para os próximos anos. Além disso, o movimento foi na contramão dos mercados internacionais.
Com isso, o Ibovespa fechou o pregão em alta de 0,90%, aos 111.924 pontos. Com o avanço, o Ibovespa acumula alta de 2,88% na semana, enquanto no acumulado do mês o índice cai 0,5%.
A desidratação da PEC, que tanto aflige o mercado, viria por parte do Congresso. Nesta sexta, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Reginaldo Lopes, afirmou que o ponto de maior divergência na PEC é o prazo.
Segundo ele, o período de quatro anos, proposto inicialmente, pode ser reduzido, assim como o piso, que pode ficar em R$ 150 milhões.
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Blue chips impulsionam Ibovespa
As ações de mais peso no índice tiveram um dia de alta, o que acabou impulsionando a performance do Ibovespa nesta sexta. A Vale (VALE3) ganhou 0,72%, enquanto a Petrobras (PETR3 e PETR4) avançou 1,30% e 1,25%, respectivamente.
Na avaliação de Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B. Side Investimentos, a alta das blue chips, nome dado às ações de maior capitalização, reflete um movimento de investidores estrangeiros apostando em Bolsas emergentes, depois de o payroll (dados de emprego dos EUA) dar sinais de um caminho difícil para o mercado americano.
“Acreditamos que [o payroll] gerou um fluxo comprador em emergentes, principalmente o Brasil, que hoje, teoricamente, seria o melhor emergente à disposição dos investidores”, explica Mastromonico. “Não tem nenhuma outra notícia que explique a forte alta das blue chips, que é justamente onde o investidor estrangeiro entra”, completa.
Apesar de as blue chips serem as maiores responsáveis por puxar o Ibovespa para cima, devido a seu peso no índice, as ações que mais subiram foram as de Natura (NTCO3), Locaweb (LWSA3) e Hapvida (HAPV3), com avanços de 10,15%, 6,66% e 6,52%, nesta ordem.
Ademais, ações ligadas à economia doméstica subiram com um alívio nos juros futuros. Méliuz (CASH3) ganhou 6,31%, Via (VIIA3) se valorizou 5,29% e Magalu (MGLU3) subiu 4,52%.
Dentre as baixas, Eletrobras (ELET3) recuou 4,58%, Suzano (SUZB3) perdeu 3,37% e Pão de Açúcar (PCAR3) apontou em 2,18% para baixo.
A empresa de papel e celulose divulgou, na noite de quinta-feira (1), seu plano de investimento para o ano que vem, estimando investir 15% a mais do que o esperado para 2022.
De acordo com a papeleira, seu capex para o próximo ano alcançará R$ 18,5 bilhões, sendo que a previsão para este ano, de R$ 16,1 bilhões, deverá ser atingida.
Na visão do Itaú BBA, em relatório divulgado nesta sexta, esse valor é ligeiramente negativo, mesmo que o investimento tenha ficado apenas R$ 590 milhões a mais do que a sua projeção, que era de R$ 17,9 bilhões, acima, inclusive, do previsto pelo próprio mercado.
Exterior na contramão
Segundo os dados do payroll divulgados pelo escritório de estatísticas trabalhistas (BLS) nesta sexta, os Estados Unidos criaram 263 mil postos de trabalho em novembro, mostrando um mercado de trabalho ainda aquecido na maior economia do mundo. A taxa de desemprego permaneceu inalterada em 3,7%.
O número veio acima das 200 mil vagas projetadas por analistas de mercado e mostrou desaceleração na comparação com outubro, quando 284 mil empregos foram criados.
Com isso, os investidores passaram a ver uma probabilidade maior de o atual ciclo de aumento de juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) leve a taxa de juros americana para a faixa entre 4,50% e 4,75% no final de 2023. Antes, a aposta majoritária era de juros finais entre 4,25% e 4,50%.
Neste cenário, o S&P 500 teve baixa de 0,12%, o Dow Jones subiu 0,10% e o Nasdaq recuou 0,18%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 encerrou o pregão em queda de 0,15%.
Criptomoedas
O mercado de criptoativos estendeu nesta sexta o cenário de estabilidade visto na véspera. Com isso, as principais moedas conseguiram manter a cotação resgatada ao longo dos últimos dias.
Por volta das 18h30, o Bitcoin (BTC) operava em alta de 1,13% em comparação ao preço de 24 horas atrás, negociado a US$ 17,2 mil, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) ganhava 2%, a US$ 1,297.
“O Bitcoin se beneficiou do aumento do apetite por risco nos mercados financeiros mais amplos esta semana, permitindo uma pequena recuperação de alívio para US$ 17.000”, afirmou Craig Erlam, analista sênior da Oanda.
A semana encerra com o arrefecimento das projeções geradas pelo crash da FTX, com os investidores voltando a olhar mais para os dados da economia global.
Apesar do retorno da correlação com outros ativos, as criptos ignoraram os dados do mercado de trabalho americano, que vieram bastante acima do esperado pelo mercado e prejudicaram o desempenho das Bolsas em Nova York.
Para Ayron Ferreira, head de análise da Titanium Asset Management, os últimos dias indicam que o pior momento para o mercado ficou para trás, apesar de ainda haver bastante incerteza no radar dos investidores.
“Caso não surjam grandes notícias referentes a empresas com problemas no setor de cripto, é possível que o fundo do ano tenha sido feito. No entanto, o momento ainda é delicado”.
Vale lembrar que o mercado de criptoativos roda 24 horas, todos os dias da semana. Sábado e domingo são tradicionalmente dias com menor liquidez, o que tende a deixar as cotações ainda mais voláteis.