Cenário de inflação alta e desemprego baixo nos EUA aumenta risco de recessão, diz Larry Summers

Atual política monetária do Fed tem grande chance de conduzir a economia americana a estagflação, diz ex-secretário do Tesouro dos EUA

A atual condução da política monetária do banco central americano (Federal Reserve) tem grande chance de conduzir a economia americana a um cenário de estagflação (combinação de inflação alta e recessão), diz Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro americano e ex-diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca no governo de Barack Obama em evento da Principal nesta quinta-feira (17).

Ontem, o Fed elevou a taxa básica de juros em 0,25 ponto pela primeira vez desde 2018, com a inflação nos EUA chegando a 7,9% em 12 meses, maior nível desde 1982.

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Para Summers, o objetivo do Fed de atingir a meta de inflação de 2% ao ano em 2024 sem ter uma recessão é “ilusória”. “Historicamente, quando você tem uma inflação acima de 4% e uma taxa de desemprego abaixo de 4% [como é o caso agora] , a chance de recessão é acima de 80%”, diz.

Ele lembra que Paul Volcker e Ben Bernanke (ex-presidentes do Fed) não tiveram sucesso em buscar um pouco suave da economia no ciclo de aperto de juros para trazer a inflação para baixo.

Segundo o ex-secretário do Tesouro americano, a inflação residencial com preços de alugueis tem um peso de 30% no índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI), superior à inflação de combustíveis e de semicondutores. Após um forte aumento, esse indicador deve mostrar algum alívio, contribuindo para compensar a aceleração da inflação dos demais itens, como aumento de preços de energia em função da guerra na Ucrânia ou mesmo a alta de preços causada pela disrupção na cadeia de suprimentos com a nova onda de covid-19 na China.

Sobre os próximos passos do Fed, Summers destaca que é preciso ficar atento à rotatividade no mercado de trabalho e a composição da força de trabalho e seus impactos para a inflação. Além disso, o mercado deve prestar atenção nas falas de importantes membros dos Feds regionais, que votam no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) nas decisões sobre a taxa de juros. “É importante olhar cuidadosamente o que é dito pelo presidente do Fed de Nova York, John Williams e outros dois membros ‘top’ do Fomc, que podem indicar para onde a política monetária está indo”, diz.

Summers acredita que a principal estratégia do Fed para conter a inflação será usar o aumento da taxa de juros, juntamente com a redução do balanço de ativos.

Dívida pública americana é administrável

Summers afirmou que os Estados Unidos deve conseguir administrar o aumento da dívida, que está em 146% do PIB americano, em função da adoção de estímulos fiscais, como os pacotes de infraestrutura anunciados pelo presidente dos EUA, Joe Biden.

“Estou menos preocupado com a sustentabilidade fiscal. Em um economia crescendo, acho que seremos capazes de administrar esse nível de dívida”, diz ressaltando que os estímulos estão sendo direcionados para o aumento de investimentos, por exemplo, em energia limpa e podem aumentar a receita fiscal.

Sanções à Rússia foram necessárias

Para Summers, apesar do custos para os americanos das sanções à Rússia, que incluíram a restrição à importação de petróleo e devem ter impacto nos preços dos combustíveis, essa medida foi a alternativa encontrada para não entrar em um conflito direto.

Ele espera que a União Europeia tenha sucesso em conseguir não importar mais petróleo da Rússia.

“Se olharmos o encargo sobre o custo da gasolina comparado com o que a Ucrânia está passando ou que a geração americana passou há 50 anos, nós somos capazes de aguentar”, apontou, destacando que esse é o custo para se ter um mundo decente.

Investimento em energia limpa

Summers destaca que investir em tecnologia de baixo carbono tem um custo menor do que as pessoas acreditam e que Biden fez a coisa certa ao trocar os subsídios a combustíveis fósseis por incentivos à energia limpa.

O ex-secretário do Tesouro americano lembra, contudo, que foi um erro, inclusive do seu partido democrata,  exagerar na hostilização dos combustíveis fósseis, destacando que o gás natural é usado na energia solar (na fabricação de geradores) . “Eu mudei de ideia há uns cinco a 10 anos”, diz.

 

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