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Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3): quem foi melhor no 2º trimestre?

As três principais companhias do setor já divulgaram seus números referentes ao período entre abril e junho

Foto: Shutterstock

A temporada de resultados do segundo trimestre de 2022 caminha a passos largos para seu fim. Alguns dos principais temas sendo monitorados pelo mercado dizem respeito ao aumento das despesas financeiras e, sobretudo, à inflação de custos, que está diretamente ligada aos supermercados.

As três principais companhias do setor já divulgaram seus números referentes ao período entre abril e junho deste ano, com reações distintas do mercado. Por um lado, as vendas dos supermercados foram positivas, mas a eficiência das operações ainda coloca um ponto de interrogação.

A reabertura econômica do pós-pandemia já está nos livros de história, mas a alta da inflação de alimentos nos primeiros meses do ano e os futuros benefícios sociais são variáveis que fazem preço.

Enquanto isso, as empresas do setor majoritariamente sustentam-se no forte retorno de clientes B2B (business to business) e as atividades de atacado que, quando misturado ao varejo, se transformam no conhecido “atacarejo”.

Esse é o nome da vez no segmento. O termo remete a uma mistura de modelo de negócio entre varejo e atacado em um mesmo local, levando diversidade de oferta e preços acessíveis aos clientes, com os conceitos de cash & carry e self-service.

O segundo trimestre deste ano mostrou como Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3) têm desenvolvido seus negócios para que cresçam acima da inflação (que em um caso não se concretizou) e com maior rentabilidade – ainda que muito pressionada no curto prazo. 

Vendas brutas do Carrefour superam expectativas

No intervalo entre abril e junho deste ano, o Carrefour surpreendeu o mercado com a disparada de 35,6% de suas vendas brutas em 12 meses, para R$ 26,5 bilhões. Excluindo a operação do BIG, o crescimento sólido foi de 25,5%. 

Um dos principais destaques também foram as vendas em mesmas lojas (chamadas pela empresa de LfL, ou like-for-like) que avançaram 22,4%, com volumes positivos. O dado desconsidera a volatilidade das vendas de combustíveis. 

A notícia é positiva em função dos novos esforços da companhia no que se refere às unidades físicas, voltadas às iniciativas mais rentáveis e sinergias com o BIG. 

Entre dezembro de 2021 e o fim de junho deste ano, foram abertas, de forma orgânica, apenas dez lojas (resultado de oito aberturas de Atacadão, oito lojas conveniência e fechamento de seis unidades de conveniência). Além da chegada das 401 lojas do BIG. 

Atualmente, são 1.190 lojas. No segundo trimestre, foram inauguradas seis novas lojas cash & carry no Nordeste. 

Mesmo com a queda de margens, que era esperada pelo mercado, o resultado foi bem recebido sobretudo em função do Atacadão – mais uma vez – que agora ganhou tração no ambiente digital.

A vertical teve um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 1,1 bilhão, o equivalente a 64,6% do indicador na visão consolidada do grupo. O LfL do Atacadão, sem o BIG, foi de 22,4%, carregando o varejo do Carrefour.

A despeito da inflação alimentar, os alimentos impulsionaram o forte desempenho nas vendas. Isso foi alcançado por meio do movimento comercial da marca mais forte, o que elevou os volumes e diluiu as despesas no período.

A capacidade de repasse de preços coloca o Atacadão (e, consequentemente, o Carrefour) em uma boa posição no atacarejo. 

O grupo ainda precisa ser mais eficiente em termos de custos e despesas, visto que o VG&A (vendas e custos gerais e administrativos) ficaram acima da inflação de 12 meses na comparação anual, o que pesou na margem. Mas, no saldo final, o trimestre foi amplamente positivo. 

Assaí: caso de crescimento no varejo alimentar

O Assaí foi um dos casos mais elogiados da temporada de balanços na Bolsa brasileira. Apesar da reação dos investidores ter sido dúbia, os números apresentados pela companhia bateram quase todas as previsões do mercado.

A empresa se viu beneficiada pela fuga dos consumidores rumo a opções mais baratas em meio à pressão inflacionária. O famoso atacarejo fez preço para as vendas totais da empresa, já que podem oferecer produtos com preços mais em conta aos clientes. 

A receita líquida da empresa avançou 32,8% em 12 meses, para R$ 13,29 bilhões. A despeito das despesas VG&A, a companhia conseguiu elevar seu Ebitda, que mostra uma aproximação da geração de caixa, em quase 30%.

O lucro líquido subiu 20,7%, para R$ 319 milhões. A forte tendência de crescimento está intrínseca ao modelo de negócio, que sugere abertura de novas lojas focadas no que tem dado certo, que é o atacarejo.

No segundo trimestre deste ano, a empresa investiu R$ 1,28 bilhão em novas lojas e aquisição de terrenos, 140,5% maior do que o investido no segundo trimestre de 2021 – isso tudo em meio ao cenário macroeconômico mais conturbado, com a taxa de juros subindo de 4,25% para 12,75%. 

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Em 12 meses, houve a abertura de 33 lojas e, mesmo desconsiderando as novas unidades, as vendas em mesmas lojas cresceram 14,7% no período.

A empresa também surfou uma boa retomada do B2B e sólido crescimento orgânico, que contribuíram para uma geração de caixa operacional de R$ 2,79 bilhões.

É esperado que o forte desempenho operacional continue, a despeito da variação do capital de giro e alto Capex (investimentos), voltado à expansão da marca e pelo projeto de conversões de hipermercados – os quais já tiveram algumas inaugurações em julho e devem acelerar ao longo dos próximos meses. 

O ponto de atenção aos investidores, porém, gira em torno do endividamento da empresa. A alavancagem financeira, dada pela relação entre dívida líquida e Ebitda, subiu de 1,9 vez para 2,72 vezes, próximo do limite considerado prudencial, de três vezes.

A boa notícia é que 98,5% da dívida bruta da empresa vence no longo prazo, ou seja, a partir daqui 12 meses. A empresa tem R$ 3,1 bilhões em caixa e disponibilidade de caixa, com dívida líquida de R$ 8,09 bilhões. 

Pão de Açúcar perde dinheiro com mais despesas financeiras

No segundo trimestre deste ano, o Pão de Açúcar teve um desempenho neutro. Assim como Carrefour e Assaí, o GPA teve uma expansão nas vendas, de 9,3%, para R$ 11,06 bilhões – portanto, abaixo da inflação no período. 

Contudo, viu sua rentabilidade ser pressionada e as despesas financeiras aumentarem de forma significativa. 

Também foi negativo o aumento das despesas com vendas, gerais e administrativas, que cresceu pouco em proporção da receita líquida, mas em números absolutos atingiu R$ 1,89 bilhão, 11,4% acima do registrado um ano atrás.

O resultado não poderia ser outro, e a companhia teve um Ebitda ajustado 9% menor do que o reportado no segundo trimestre do ano passado, em R$ 706 milhões. 

Com isso, a empresa saiu de um lucro consolidado (atribuído aos controladores que considera as operações continuadas e descontinuadas, como de hipermercados) de R$ 3 milhões para um prejuízo de R$ 172 milhões. 

O resultado financeiro foi negativo em R$ 250 milhões, resultado de uma receita financeira praticamente estável na comparação anual, mas despesas financeiras dobrando de tamanho. O vilão foi o custo da dívida, que subiu 130,9%. 

Em suma, a operação da empresa foi sustentada pelo Grupo Éxito. As atividades no exterior foram beneficiadas pela reabertura econômica completa e, consequentemente, maior gasto em unidades físicas e retomada do turismo nos países em questão. 

O maior tráfego de volume nas lojas trouxe aumento nos volumes, que ficaram abaixo da inflação nos últimos meses, mas que devem apresentar ganhos reais com a perspectiva de desaceleração do aumento de preços.

Chama atenção positivamente a aposta da companhia, dentro do GPA Brasil, que são as lojas de proximidade. 

Nessa categoria, houve um aumento de 18% nas vendas totais (13,6% em mesmas lojas), resultado do foco em alimentos perecíveis, como padaria, frutas e legumes, o que traz um ar literalmente de proximidade com os clientes, que passam a consumir consistentemente nas unidades.

A categoria, além disso, perfaz uma maior rentabilidade à empresa, que tem observado sua rentabilidade ruir. Entre junho de 2021 e junho de 2022, as margens bruta, Ebitda ajustada e líquida caíram 0,4 ponto percentual, 1,4 ponto percentual e 2 pontos percentuais, respectivamente. 

O terceiro trimestre dos supermercados

A dinâmica inflacionária ainda fará preço nos mercados conforme as informações vêm à tona, sobretudo sobre os setores que lidam diretamente com a economia interna.

Em favor do setor de supermercados, a taxa de desemprego está em 9,3%, no menor patamar desde 2015, o que sugere que mais renda está disponível para consumo por parte da população.

É verdade, porém, que um grande contingente de pessoas tem dívidas a pagar e coloca a prioridade na frente de novos compromissos financeiros. Mas, muitas vezes, o consumo em supermercados se trata de gastos prioritários e abocanham boa parte da renda familiar. O sinal disso é o aumento do uso do cartão de crédito no Brasil. 

Além disso, também deve beneficiar os supermercados o fato de que o Auxílio Brasil turbinado, no valor de R$ 600, passará a ser pago a partir da próxima terça-feira (9). 

A princípio com cinco parcelas, o benefício social deve dar um gás na economia até o fim deste ano e, consequentemente, os supermercados serão beneficiados.

Todavia, os investidores devem ficar atentos ao desempenho das margens das companhias. O modelo de negócio de supermercados, por si só, já perfaz margens apertadas, com pouca capacidade de precificação dos produtos. Nesse sentido, caso iniciativas como as unidades de proximidade sejam bem-sucedidas, a tendência é que a rentabilidade seja fortalecida.

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