O primeiro semestre foi, no mínimo, intenso para o investidor. As bolsas americanas e brasileira sangraram e as criptomoedas também tiveram fortes quedas. O alento foi a renda fixa, que passou a pagar mais à medida que os juros subiam. O balanço do período dá uma sinalização do que vem pela frente – e é melhor que a cautela impere.
No acumulado do ano, o IMA-B5 teve o melhor desempenho. Esse indicador é formado por títulos públicos indexados à inflação, o Tesouro Selic, e que possuem vencimento em até cinco anos. A alta foi de 6,61%.
“Esses títulos capturam melhor a variação do IPCA de curto prazo. É indicado para o investidor que quer ter essa proteção nesse período”, explica Michael Viriato, estrategista da assessoria de investimentos Casa do Investidor.
Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 11,73%, mas o estrategista lembra que é esperado uma desaceleração no curto prazo.
O investidor não pode “comprar” IMA-B5, que é medido pela Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), mas pode investir em fundos que tenham esse indicador como referencial.
Na lanterna, o Bitcoin, criptomoeda mais conhecida. A queda no semestre foi de 62,1%, sendo que a maior parte do tombo veio em junho (desvalorização de 34,4%).
Essa queda está atrelada ao momento atual, de maior incerteza, em que os investidores preferem sair das opções de maior risco, como renda variável, e vão para opções mais seguras.
Também foi esse movimento que explica a sangria das Bolsas em junho e no acumulado do ano.
Guerra na Ucrânia, elevação dos juros nas principais economias do mundo para lidar com uma inflação persistente e constantes lockdowns na China mostraram aos investidores de todo o mundo que o crescimento em 2022 será menor que o esperado, o que causou uma onda de precificação, jargão para dizer que agora acreditam que as ações valem menos do que acreditavam.
O índice de maior queda é o de Small Caps, que reúne as empresas de menor valor de mercado, que recuou 19,7%, mas o tombo também foi grande no principal indicador, que é o Ibovespa, com queda de 6% – só em junho, o recuo foi de 11,5%.
Mas o pior desempenho ficou com as Bolsas americanas. O S&P 500 caiu 20,6% e a Nasdaq, 29,5% nos primeiros seis meses do ano.
Natural o investidor se desesperar ao ver essa sangria, mas não é hora de vender – e nem de comprar.
“Se o investidor não saiu até agora, esse não é o momento. E não é hora de comprar. A Bolsa está barata, mas as condições externas e internas podem fazer com que ela caia ainda mais”, diz Viriato.
Já no mês, o destaque foi a valorização do dólar, que usubiu 10,8% em junho. O problema é que esse é um ativo extremamente volátil e é pouco recomendado por especialistas em investimentos.
O que fazer então?
A visão de que o mercado acionário não está em um bom momento também é compartilhada pela Guide Investimentos.
A relação entre preço da ação e o lucro da empresa está em sete vezes. Esse múltiplo, chamado de P/L, é um dos mais usados para avaliar se a Bolsa, ou uma ação, está cara ou barata.
A relação atual é a menor desde a crise financeira de 2008 e indica que está barato para comprar, o problema é que a recuperação não virá no curtíssimo prazo.
“O fato de o Ibovespa estar barato está mais associado ao potencial de retorno elevado no médio prazo e não que o retorno deve ser elevado na próxima vez”, avaliam os analistas da corretora.
Em momentos de muitas incertezas sobre os rumos da economia, como o atual, os investidores tiram o dinheiro de ativos arriscados e buscam proteção em opções com rendimentos mais garantidos – saindo da renda variável, por exemplo, para títulos de dívida soberana, por exemplo.
Mas qual o melhor caminho a tomar na segunda metade do ano?
O investidor terá que se preparar para enfrentar um cenário não muito animador na segunda metade do ano. No front externo, as preocupações com uma recessão global. No Brasil, esse temor ganha o adicional da volatilidade causada pelas eleições.
Nesse cenário e com uma taxa Selic de 13,25% ao ano, que deve subir mais um pouco, a recomendação é que os novos aportes sejam feitos em renda fixa.
Rodrigo Simões Galvão, professor de finanças da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), lembra que o investidor pessoa física deve levar em conta o cenário de curto prazo na hora de fazer novas alocações.
“É um cenário desafiador, com inflação e juros em alta. Isso deve aumentar a inadimplência e coibir novos investimentos, o que não é favorável para as empresas na Bolsa”, explica Galvão.
Sem muitas opções, sobra ao investidor a renda fixa, que está pagando os saudosos 1% ao mês. Ainda assim, a alocação dessa carteira deve levar em conta o perfil de cada investidor.
A Levante Investimentos indica que, para os mais conservadores, o melhor é ter uma maior concentração em papéis públicos atrelados à variação da Selic (Tesouro Selic), com ao menos 60% dos investimentos nesses títulos. A outra parcela a sugestão é alocar em papéis corrigidos pela inflação, sobretudo títulos públicos (Tesouro IPCA).
Para os moderados, a parcela de alocação em Selic cai para 50% e em inflação, para 35%. O restante pode ser dividido entre prefixados e crédito privado.
E, para os investidores mais agressivos, a Levante indica que é possível ter uma exposição de até 15% da carteira em crédito privado.