O Ibovespa opera próximo da estabilidade no segundo pregão da semana. Na ponta negativa do índice, ações mais sensíveis aos juros recuavam com mais intensidade após o mercado trabalhar com a possibilidade de juros mais altos por mais tempo no Brasil.
Já na parte positiva, ações ligadas ao minério sobem com notícias positivas vindas da China.
O papel da Via (VIIA3) liderava as perdas do pregão com uma baixa de 6,28%, seguida por CVC (CVCB3), que recuava 5,72% e Méliuz (CASH3), que perdia 6,40%. Enquanto isso, o principal índice da B3 recuava 0,34%, aos 108.363 pontos às 13h10.
Na segunda-feira (26), investidores voltaram a prever uma queda mais lenta dos juros a partir do próximo ano, segundo dados do Boletim Focus. Agora, o mercado espera que a Selic feche 2023 em 12%, ante 11,75% na semana passada. Atualmente, a taxa oficial de juros do Brasil está em 13,75% ao ano.
Os agentes financeiros também voltaram a prever aumento da inflação em 2023 e 2024, para 5,23% e 3,60%, respectivamente.
Como consequência, nesta terça-feira, os contratos futuros de juros, os DIs, operavam em alta, segundo dados da plataforma do TradeMap. As taxas dos contratos de juros futuros com vencimentos em fevereiro de 2024, 2026 e 2028 avançavam 0,02 p.p (ponto percentual), 0,09 p.p. e 0,09 p.p., respectivamente, cotados a 13,59%, 12,98% e 12,96%.
Na avaliação da Genial Investimentos, em comentário enviado ao mercado, os ativos de risco brasileiros são afetados por essa perspectiva. “O aumento da expectativa do mercado em relação à inflação para os próximos anos causou uma abertura da curva de juros, impactando o índice local”, comenta a corretora.
Ainda dentre as principais baixas, GPA (PCAR3) caía 4,63%, Petz (PETZ3) perdia 4,29%, Yduqs (YDUQ3) recuava 4,42% e MRV (MRVE3) apontava em 4,79% para baixo.
O movimento baixista da MRV compõe uma queda em bloco das ações do setor de construção civil. Além do efeito negativo que a Selic pressionada tem sobre o financiamento imobiliário, mais cedo a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que o nível de confiança dos empresários do setor de construção civil é o menor desde março.
O Índice de Confiança da Construção (ICST) teve um recuo de 0,3 ponto em dezembro ante novembro, para 95,3 pontos, o menor nível desde março de 2022 (92,9 pontos). Em médias móveis trimestrais, houve queda de 2,1 pontos.
Dentre as companhias do setor, a maior queda era protagonizada pela Tenda (TEND3), com recuo de 6,67%. Enquanto isso, a Cyrela (CYRE3) amargava desvalorização de 2,95% e a Eztec (EZTC3) caía 2,93%.
Somado a isso, o líder de renda variável da One Investimentos, Cássio Bambirra, destaca que os custos do setor permanecem elevados.
Mais cedo foi divulgado também pela FGV o INCC-M (Índice Nacional de Custo da Construção), que mostrou um avanço de 0,27% em dezembro, acumulando alta de 9,40% no ano de 2022. Em dezembro de 2021, o índice subiu 0,30%, com alta de 14,03%, em 12 meses.
“Isso mostra que os custos dos insumos do setor ainda estão elevados e acima da inflação”, comenta Bambirra.
Notícias da China impulsionam altas do IBOV e bolsas internacionais
Na ponta positiva do Ibovespa, ações de siderúrgicas e de mineradoras lideram as altas do pregão, ao repercutir novas notícias relacionadas a uma reabertura econômica na China.
Gerdau (GGBR4) liderava as altas, com um avanço de 3,66%, seguida por Metalúrgica Gerdau (GOAU4), que subia 2,23%. Além delas, Vale (VALE3) ganhava 1,19% e Usiminas (USIM5) se valorizava 1%.
Na segunda, autoridades chinesas anunciaram que os requisitos de quarentena para viajantes que chegam ao país serão suspensos a partir de 8 de janeiro do ano que vem, em mais um passo rumo ao fim da política de zero Covid.
O governo também comunicou que o nível de severidade da doença deve se aproximar de uma doença respiratória comum. “Como consequência, os mercados reagem positivamente, impulsionando índices acionários e preços de commodities, o que é positivo aos países emergentes como o Brasil”, avalia a XP, em relatório.
O minério de ferro negociado na bolsa de Dalian, também na China, teve alta de 1,83% no pregão da manhã, com sua tonelada cotada a a US$ 120, o maior patamar dos últimos cinco meses.
Fora do Brasil, os mercados operam em direções distintas nesta terça após um dia sem pregão nos Estados Unidos e na Europa na véspera.
Mercado de olho em Brasília
Os investidores permanecem atentos aos acontecimentos em Brasília, e monitoram novas indicações de ministros do governo eleito.
A apenas cinco dias da posse, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda precisa anunciar 16 ministros das 37 pastas definidas pelo novo governo.
Mais cedo, o jornal O Globo informou que a senadora Simone Tebet (MDB) deve ser a nova ministra do Planejamento a partir do ano que vem. Tebet deverá comandar o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos) e também o IBGE e o Ipea.
Apesar disso, deverão ficar de fora do comando da ministra os bancos públicos como o Banco do Brasil (BBAS3) e a Caixa Econômica Federal. As ações do banco federal recuavam 2,19% nesta terça.
Simone Tebet foi a terceira colocada no pleito presidencial, com quase 5 milhões de eleitores, o equivalente a 4,16% dos votos válidos na ocasião. Após a derrota no primeiro turno, apoiou Lula no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL).