O mercado brasileiro acordou de muito bom humor no início desta semana. No primeiro dia após as eleições presidenciais, o Ibovespa, que vê praticamente todos seus ativos em alta, avançava mais de 4,60% às 11h50, e operava aos 115.143 pontos.
O resultado do pleito da véspera mexia com os ativos da B3. Na ponta positiva, a estatal de saneamento Sabesp (SBSP3) subia 17,62% e liderava as altas do pregão.
No domingo, ficou decidido que o comando do governo de São Paulo, controlador da empresa, será disputado num segundo turno por Tarcísio Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
O resultado surpreendeu os eleitores. Freitas encerrou o primeiro turno com 42,32% dos votos e Haddad com 35,70% dos votos, resultado inverso ao das pesquisas prévias. Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, destaca que o papel da empresa avança após o resultado. Isso porque agora, os investidores avaliam que há mais chance de privatização da empresa.
“Quando as empresas estão sob o controle estatal, elas negociam na Bolsa com um ‘desconto’ em relação a um ‘valor justo’ em função de todo o processo que o controle estatal exige que ela obedeça” e que tende a ser mais ineficiente, ressalta o portfolio manager da Kilima Asset, Luiz Adriano Martinez.
Segundo turno presidencial animou os mercados
A disputa presidencial também surpreendeu, sendo mais acirrada que o esperado.
De acordo com o TSE, com 99,99% das urnas apuradas nesta manhã, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o candidato mais votado no primeiro turno, com mais de 57 milhões de votos, atingindo 48,43% do eleitorado.
O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição, ficou em segundo lugar, com pouco mais de 51 milhões de eleitores, ou 43,20% do total.
As pesquisas de intenção de voto divulgadas até o final da semana passada apontavam Lula mais perto de 50% e Bolsonaro com cerca de 35% dos votos.
Na visão do analista da Empiricus, Matheus Spiess, o resultado foi positivo para o mercado pois sugere que Lula, que lidera o pleito, precisará flutuar para o centro do espectro político tanto na campanha quanto num eventual novo governo.
“Ele já vinha dialogando para uma postura moderada e mais centrista, o que diluiria eventuais riscos sobre o mercado como regulações e estatizações”, comenta Spiess. A formação de um Congresso com diversos candidatos mais de direita e centro-direita também contribui para este cenário.
Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) também estavam entre os destaques de alta do Ibovespa e avançavam 9,19% e 9,33%, respectivamente. Outra estatal que subia com intensidade era o Banco do Brasil (BBAS3), com valorização de 7,76%.
“Os resultados eleitorais favorecem o desempenho do Ibovespa, em meio à percepção de que um Congresso mais à direita aumenta as chances de reformas estruturais serem aprovadas, além de forçar Lula a ter um governo mais ao centro. Isso leva o Ibovespa a performar melhor do que os pares globais”, comenta o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.
Candido, da RPS Capital, avalia que os papéis da Petrobras e do BB, que eram ações que “embutiam prêmio de risco em relação a possíveis intervenções em um governo Lula”, avançam com essa nova perspectiva de um governo centrista.
“Ainda não dá para prever quem vai vencer eleição, mas a possibilidade de Bolsonaro ganhar aumentou em relação ao que tínhamos antes nas pesquisas. Como ele tem esse viés mais liberal com projetos de privatização, essas companhias também performam bem”, avalia Martinez, da Kilima Asset.
Além dessas, outras ações que subiam com intensidade eram Locaweb (LWSA3 +10,11%), Ultrapar (UGPA3 +7,97%), Cyrela (CYRE3 +8%), Magalu (MGLU3 +7,37%) e Grupo Soma (SOMA3 +7,51%).
Esses ativos de consumo pegam carona no otimismo pós-eleições e também na queda das expectativas de juros por aqui.
Os contratos DI com vencimento em janeiro de 2026 operavam em queda de 23 pontos-base, a 11,27%, enquanto que os contratos com vencimento em janeiro de 2028 recuavam 27 pontos-base, a 11,32%.
Vale ressaltar que desde a manhã, antes da abertura do pregão, o mercado já dava sinais de uma sessão positiva para o Ibovespa. No pré-mercado, por volta das 9h15, o EWZ, um dos principais ETFs de ações brasileiras negociados nos EUA, subia 4,62% no pré-mercado. Por aqui, o contrato futuro do Ibovespa valorizava 2,76%.
No mesmo horário, os ADRs – recibos de ações – das empresas brasileiras negociados por lá também avançavam. O da Vale subia mais de 2%, enquanto o ADR da Petrobras ganhava mais de 6% e o do Itaú Unibanco valorizava pouco mais de 1%.
As baixas do Ibovespa
Nesta manhã, Yduqs (YDUQ3) recuava 4% e Cogna (COGN3) perdia 4,42%. Vale ressaltar que esses papéis valorizaram com intensidade nas últimas semanas por causa de comentários de Lula sobre a expansão do financiamento estudantil.
O ex-presidente afirmou em seu Twitter que o Fies (Fundo de Financiamento estudantil) e o ProUni (Programa Universidade para Todos), que tiveram grande expansão durante os governos petistas no passado, iriam “voltar com força” em seu eventual governo.
Isso foi suficiente para fazer com que as ações desse setor tivessem forte valorização em setembro. Os analistas viram a possibilidade de ganho para esses papéis em um eventual governo petista e gestores montaram posição nesses ativos.
Agora, com um cenário incerto na vitória de Lula, fica a dúvida sobre esse futuro benéfico para as empresas.