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BC interrompe alta de juros, mas sinaliza manutenção da taxa em patamar elevado por tempo prolongado

BC não descarta voltar a subir a taxa Selic se o processo de convergência da inflação para meta não ocorrer como esperado

Foto: Shutterstock

Como esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75%, interrompendo o ciclo de alta de juros iniciado em março de 2021. A autoridade monetária, no entanto, reforçou no comunicado o tom mais duro que vinha adotando recentemente e destacou que deve manter a taxa básica em patamar elevado por “período suficientemente prolongado” até assegurar a convergência da inflação para a meta, não descartando voltar a subir os juros.

Em decisão não unânime, o Copom manteve a taxa Selic em 13,75%. Dois membros votaram a favor de mais uma alta de 0,25 ponto da Selic: a diretora de Assuntos Internacionais e Riscos Corporativos, Fernanda Guardado, e o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Dias de Brito Gomes.

Desde março, o BC elevou a Selic em 11,75 pontos percentuais, no maior choque de juros desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o Banco Central aumentou a taxa básica em 20 pontos percentuais em uma única reunião.

Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, o comunicado do BC deve ser visto como hawkish (mais austero) pelo mercado e levar a uma redução das apostas de que o Copom poderá começar a cortar a Selic no início de 2023.

O Banco Fibra manteve o cenário de Selic estável em 13,75% até o fim do próximo ano, mas o mercado futuro de juros refletia até esta quarta-feira (21) uma queda de 2,50 pontos da Selic em 2023. Oliveira cita três pontos do comunicado que reforçam sua visão.

O primeiro é o fato de a decisão do Copom não ter sido unânime, o que não acontecia há muito tempo.

O segundo é a questão de o BC destacar no comunicado que não “hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Por fim, o economista-chefe do Fibra ressalta que a autoridade monetária destacou que se “manterá vigilante” e que vai avaliar se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação para a meta.

“A vigilância vale para os dois lados. Se tiver uma queda significativa da inflação global e isso atingir o Brasil, o BC pode antecipar o corte de juros. Mas, se a inflação voltar a surpreender, ele pode retomar o ajuste”, disse Oliveira.

No cenário de referência do BC, que considera uma taxa de câmbio de R$ 5,20, a projeção de inflação recuou de 6,8% para 5,8% para 2022, e se manteve estável em 4,6% para 2023, acima da meta de 3,25% para o ano que vem. Para 2024,  que começa a ganhar relevância no horizonte de política monetária do BC, a projeção para a inflação recuou de 3,5% para 2,8%, abaixo da meta de 3%.

Para Igor Barenboim, sócio e economista-chefe da Reach Capital, o comunicado do Copom veio levemente “hawkish“, ao reforçar que o BC vai se manter  vigilante na estratégia de assegurar a convergência da inflação para a meta.

Entre os riscos de alta para a inflação, Barenboim cita o nível de atividade forte e a queda da taxa de desemprego, que recuou pela quinta vez consecutiva em julho para 9,1%. O próprio BC mencionou esses fatores de riscos no comunicado.

Já uma queda maior dos preços das commodities pode contribuir para a convergência mais rápida da inflação para a meta. “Estamos mais otimistas com os preços de commodities e achamos que a tendência é para baixo”, diz Barenboim.

O BC ainda ressaltou no comunicado a incerteza sobre a política fiscal como um risco para a inflação. O corte de impostos sobre os preços de energia e combustíveis contribuiu para a queda da inflação, com o IPCA apresentando deflação em agosto pelo segundo mês consecutivo. “Não acho que deve ter uma reversão rápida do corte de impostos”, diz Barenboim.

Da mesma forma, o economista da Reach Capital não vê um grande impacto de um ciclo maior de alta de juros nos Estados Unidos para o Brasil. O banco central americano elevou a taxa básica em 0,75 ponto percentual nesta quarta-feira e sinalizou a continuidade do ciclo de aperto monetário.

“Nosso juro real [descontando a inflação] já está muito alto, perto de 9%, muito acima da taxa de equilíbrio [isto é, mais alta que o nível para estimular o crescimento]”, afirma Barenboim.

A Reach Capital espera quatro cortes de 0,5 ponto da taxa Selic a partir do segundo semestre de 2023.

Impacto da Selic sobre os mercados

A manutenção da taxa Selic em 13,75% deve levar os investidores a se desfazerem as apostas em uma alta de 0,25 ponto da Selic em setembro, como esperado por uma minoria no mercado, o que pode levar a um recuo das taxas de juros de curto prazo.

Contudo, a sinalização do BC de manutenção da taxa Selic por um período prolongado deve reduzir as apostas em uma antecipação do corte de juros, levando à elevação das taxas para 2023, afirma Oliveira, do Fibra.

“A estratégia do BC foi de trazer uma mensagem dura para evitar que a curva de juros passe a antecipar um corte prematuro da taxa no começo do próximo ano”, diz Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital. A gestora espera uma taxa Selic em 11,0% no fim de 2023.

O fim do ciclo de aperto monetário, agora finalmente concretizado, pode trazer um impulso para as ações de setores na Bolsa mais sensíveis aos juros, afirma Barenboim.

“Mas não vejo uma reação muito forte na Bolsa neste momento. Agora todo mundo está esperando a eleição”, disse.

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