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Mercados têm reação negativa após Fed sinalizar ciclo de juros maior que esperado nos EUA

Bolsas caem e dólar sobe frente às principais moedas após Powell reforçar que Fed precisa ir além do esperado no ciclo de alta de juros para trazer inflação de volta à meta

A sinalização do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de que os juros no país terão um ciclo de alta maior que o esperado aumentou a percepção dos investidores de que a economia americana pode entrar em recessão e provocou alta do dólar e a queda das bolsas.

Em entrevista após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que é preciso trazer a taxa de juros para um patamar restritivo e mantê-la por lá por algum tempo para a inflação voltar à meta de 2%. O banco central acha que este nível será alcançado apenas em 2025.

A reação inicial dos mercados de ações à decisão do Fed foi negativa. Na sequência, as bolsas chegaram a ensaiar uma recuperação, mas a preocupação com um ciclo de juros maior que o esperado acabou prevalecendo.

Nos EUA, os três principais índices de ações – Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq Composto – terminaram o pregão com queda de 1,7%. A Bolsa brasileira acompanhou o movimento no exterior, e o Ibovespa recuava 0,5% antes do ajuste final. Já o dólar subiu 0,4% frente ao real, para R$ 5,17.

O banco central americano elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto porcentual pela terceira vez consecutiva para uma faixa entre 3% e 3,25% como precificado no mercado. Contudo, a instituição revisou para cima as projeções para juros, que ficaram acima da expectativa dos investidores.

As projeções dos membros do Fomc, o comitê de política monetária do Fed,  apontam para uma taxa básica de juros de 4,4% no fim de 2022 – maior que a de 3,4% estimada em junho, último mês em que as estimativas tinham sido divulgadas. Para 2023, a previsão subiu de 3,8% para 4,6%. Em 2024, a expectativa do Fed é de que a taxa de juros caiam, terminando o ano em 3,9% (de 3,4% anteriormente).

“O comunicado do Fed foi bem hawkish [inclinado ao aperto monetário] e as projeções passam uma mensagem mais dura que o mercado estava esperando”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

O estrategista da RB espera que o banco central americano eleve a taxa básica em mais 0,75 ponto na reunião de novembro, desacelerando o ritmo para 0,50 ponto em dezembro. “Se a inflação continuar forte no ano que vem, a taxa de juros pode chegar a 5% em 2023”, diz Cruz.

Para a economista-chefe da Upon Global Capital, Nicole Kretzmann, chamou a atenção o fato de uma parcela relevante dos membros do Fomc ver a taxa básica de juros entre 4,75% e 5% no fim do ciclo, acima do patamar esperado pelo mercado.

Contudo, apesar de reduzir as projeções para crescimento da economia americana, o Fed ainda não vê uma recessão e espera um “pouso suave” da economia americana em meio ao processo de alta de juros.

“Achamos que o Fed vai precisar ir para o limite superior das projeções [que preveem uma taxa de juros entre 4,75% e 5%] para fazer a inflação convergir para a meta”, diz Kretzmann.

Logo após o discurso de Powell, as taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) avançaram com os investidores esperando uma alta maior da taxa básica americana. A taxa do papel com vencimento em dois anos subiu de 4,0015% para 4,0420%.

Dados do CME Group mostram que o mercado de juros futuros reflete 63,6% de chance de o Fed subir a taxa básica de juros em 0,75 ponto na próxima reunião de política monetária, em novembro.

Impacto para os mercados

No comunicado após a reunião, o Fed apontou que as projeções de inflação continuam acima da meta de 2%, e se situavam em 5,4% para o fim deste ano, acima dos 5,2% da projeção anterior, e em 2,8% para 2023, acima dos 2,6% da projeção de junho, segundo as projeções do Fed.

O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) dos Estados Unidos avançou 0,1% em agosto, acima do esperado pelo mercado, que apostava em queda de 0,1%, acumulando avanço de 8,3% em 12 meses.

“O Fed parece buscar recompor a credibilidade com o mercado através de uma postura mais hawkish frente ao cenário inflacionário que teima em não ceder”, diz William Castro Alves estrategista-chefe da Avenue Securities.

Os impactos disso, segundo ele, são um dólar mais forte e um cenário desafiador para o mercado de ações diante da desaceleração ou recessão nos EUA.

Taxas de juros mais altas na economia americana são negativas para mercados emergentes, mas a economista da gestora Upon Global Capital afirma que no caso do Brasil alguns fatores podem mitigar esse impacto.

“Tem alguns pontos a nosso favor. O Banco Central já subiu bastante a taxa de juros, temos um nível de reservas internacionais está saudável e não temos problema no balanço de pagamentos, o que seria suficiente para nos colocar em um bom patamar em relação aos pares”, diz.

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