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BC inicia em setembro testes no laboratório para implementação do real digital, diz coordenador

Intenção da autoridade monetária é implementar a moeda digital em grande escala

Foto: Shutterstock

O BC (Banco Central) vai iniciar no próximo mês os testes dos projetos selecionados dentro do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT), chamado de LIFT Challenge Real Digital, para a implementação da moeda digital brasileira, afirmou Fábio Araújo, coordenador da iniciativa do real digital na instituição, após palestrar na Febraban Tech.

Em março, foram selecionadas as nove propostas para participar do projeto. Mas, segundo Araújo, a evolução do projeto ficou paralisada por conta da greve dos funcionários do BC.

Com isso, em setembro, serão iniciados os testes de potenciais casos de uso do real digital, que deve durar quatro meses. Em 2023, o BC deve divulgar os resultados para só depois iniciar os testes pilotos com a moeda digital brasileira.

Para o coordenador, a intenção da autoridade monetária é implementar uma aplicação da moeda digital emitida por banco central (CBDC) em grande escala para o varejo.

Diferente das criptomoedas, que são emitidas de forma privada e têm o registro descentralizado na rede de blockchain, as CBDCs são emitidas pelos bancos centrais. A ideia do BC é que a implementação do real digital vá além dos meios de pagamentos.

“A CBDC será uma moeda fiduciária, mas com expressão digital do real, que vai utilizar os benefícios tecnológicos das criptomoedas”, disse Thamilla Talarico, sócia e líder da área de Blockchain e Criptomoeda da EY no evento.

Enquanto as criptomoedas têm alta volatilidade, as CBDCs são reguladas e afetadas por outros fatores, como risco fiscal e inflação, assim como o papel moeda, explicou Rafael Morais, vice-presidente de finanças e controladoria da Caixa na Febraban Tech.

De acordo com Morais, mais de 90 países estão discutindo a criação de moedas digitais. “Bahamas já emite sua própria moeda, a China fez um projeto piloto com estrangeiros durante os Jogos de Inverno e nos EUA, o Fed [Federal Reserve, banco central americano] junto com o Digital Dollar Foundation já vêm fazendo ensaios para implementar a moeda digital”.

A ideia, com a moeda digital, é oferecer novos serviços que possam ser processados em um ambiente seguro. “Posso comprar em site de e-commerce e pagar usando recursos de um wallet [carteira] digital, por exemplo”, garante Araújo.

“A entrega conta pagamento [quando o ativo e o correspondente são mutuamente condicionados e ocorrem no mesmo momento] é apenas uma das nove categorias de projetos selecionados pelo BC”, exemplifica a sócia e líder da área de Blockchain e Criptomoeda da EY.

Talarico vê grande potencial na tokenização de ativos, que pode permitir, por exemplo, que várias pessoas sejam donas de um imóvel, ou seja, possuírem uma fração de uma propriedade, ou fazer a compra ou pagamento de aluguel usando ativos tokenizados.

Há dentro do projeto do real digital ainda propostas envolvendo câmbio de moedas e de internet das coisas, podendo permitir a liquidação de pagamentos entre máquinas.

Real digital deve trazer concorrência para os bancos

À medida que a população passa a ter a opção de guardar seu dinheiro de forma digital, registrado na rede de blockchain, isso pode criar uma concorrência com os depósitos bancários, afirma Araújo.

Uma das preocupações dos bancos nesse cenário é com a alavancagem financeira, uma vez que as instituições precisam cumprir requerimentos de capital mínimo e usam os depósitos para se alavancar financeiramente e conceder empréstimos.

Nesse cenário, Araújo vê uma concorrência benéfica com as stablecoins, que poderão ser emitidas por bancos. As stablecoins são criptomoedas que têm uma volatidade menor e que podem ter como lastro moedas fiduciárias como o real e outros bens.

“Os depósitos dos bancos passam a ser passivos dos bancos. A CBDC é um passivo do BC”, diz o coordenador da iniciativa do real digital no BC.

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