Ibovespa sobe e resiste à pressão negativa do exterior com ajuda da Ambev (ABEV3) e varejistas

Mesmo iniciando o pregão no vermelho nesta quarta, acompanhando a movimentação das bolsas americanas, o Ibovespa passou a subir perto das 12h. A ponta positiva do índice contava com a Ambev (ABEV3) que subia 5,66% por volta das 12h55. No mesmo horário, o principal índice da B3 subia 0,34% e operava perto dos 98.605 pontos.

A Ambev subia após o banco americano JPMorgan passar a recomendar a compra da ação, com preço-alvo aumentando de R$ 15 para R$ 17, refletindo a queda dos preços das commodities. Esta era a “peça que faltava” para a revisão da empresa, de acordo com os analistas Lucas Ferreira, Ulises Argote e Sebastian Hichman.

Também ajudava a sustentar a alta da ação da Ambev a expectativa positiva de especialistas para os resultados da companhia no segundo semestre.

As ações de empresas mais ligadas ao varejo e a economia doméstica, que lideraram os avanços de ontem por causa da expectativa de mais auxílios do governo à população mais pobre, continuavam subindo hoje, com destaque para CVC (CVCB3 +2,60%), Natura (NTCO3 +2,39%) e Lojas Renner (LREN3 +2,23%).

Desde terça, essas empresas sobem na esteira da votação da “PEC dos Benefícios”, que iniciou ontem e deve se encerrar nesta quarta. O projeto pretende elevar o valor do programa de transferência de renda Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 mensais. Isso, na teoria, beneficia essas empresas expostas à economia interna pois os recursos a mais aumentam o poder de compra da população.

Porém, nem tudo são flores. O custo da medida, que deve ser aprovada com facilidade pelos deputados, é de mais de R$ 40 bilhões até o final de 2022 fora do teto de gastos, mecanismo que limita as despesas públicas à inflação do ano anterior e que é a âncora fiscal do país.

Além da mudança no Auxílio Brasil, a PEC institui um auxílio de R$ 1.000 a caminhoneiros e amplia o vale-gás em ano eleitoral.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus, a Bolsa tem apresentado uma dinâmica favorável para essas empresas que ele considera “cíclicas domésticas” – ou seja, que seguem rumos semelhantes aos da economia local. Ele também acredita que, em um eventual governo Lula no ano que vem, o setor pode continuar a subir.

Ponta negativa do Ibovespa

Na ponta da parte vermelha do índice, Yduqs (YDUQ3) perdia 4,17%. Na sequência, empresas ligadas ao setor de saúde recuavam em bloco – Rede D’Or (RDOR3) caía 3,70%, Qualicorp (QUAL3) recuava 3%, Hapvida (HAPV3) desvalorizava 2,50% e SulAmérica (SULA11) apontava em 2,48% para baixo.

Na noite de terça-feira (12), a Câmara dos Deputados aprovou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Enfermeiros, que estabelece um piso salarial aos trabalhadores – aumentando os custos das empresas de saúde.

A PEC fixa em R$ 4.750 o piso salarial de enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras em todo o país. A proposta foi aprovada em primeiro turno, mas ainda precisa passar por votação em segundo turno.

Nos cálculos de analistas do BTG Pactual, em relatório distribuído a clientes no início de junho, a medida pode impactar entre 6% e 7% o Ebitda anualizado da Hapvida. Para operadores de hospitais puros, como Rede D’Or, Dasa e MaterDei, o impacto estimado sobre o Ebitda é de 2% a 3%.

“Apesar de ser negativo para todos os players, acreditamos que as grandes consolidadoras são as mais preparadas para compensar qualquer alta de custo por meio de ganhos de eficiência ou aumento de preços”, dizem os analistas do BTG, acrescentando que a PEC poderá acelerar a consolidação do setor.

Mercados externos

O movimento positivo do Ibovespa é, contudo, descolado dos seus pares internacionais. Nos Estados Unidos, o mercado repercute os dados de inflação divulgados mais cedo.

A inflação nos Estados Unidos já ultrapassou os 9% em 12 meses, maior aumento desde novembro de 1981, segundo a secretaria de estatísticas trabalhistas americana (BLS). O dado veio acima do esperado pelo mercado e mostra um aumento de preços bastante disseminado pela economia, o que é uma má notícia para o Federal Reserve.

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“Anteriormente o mercado estava vendo uma chance maior de o Fed elevar os juros em 0,75 ponto neste mês e reduzir o ritmo de alta para 0,50 ponto em setembro. Mas depois dos dados de hoje, a avaliação é que ele pode ter que manter um ritmo mais agressivo por mais tempo”, apontou Tomás Urani, economista do Santander que acompanha o cenário internacional.

Enquanto isso, em Wall Street, Dow Jones caía 0,66%, S&P 500 perdia 0,42% e o índice Nasdaq recuava 0,11%. Na Europa, o movimento também era negativo perto do fechamento.

O FTSE 100, de Londres, caía 0,50% enquanto o DAX 30, de Berlim, recuava 1%. No mesmo momento, o índice Euro Stoxx 50, que conta com empresas de toda a zona do euro, perdia 0,80%.