O alívio dos investidores com os resultados da inflação de novembro no Brasil e nos Estados Unidos levou o Ibovespa a fechar em alta de 1,38%, aos 107.758 pontos. Na semana, o índice acumulou avanço de 2,6%.
A inflação no Brasil desacelerou em novembro num ritmo maior que o esperado pelo mercado. O movimento refletiu a queda nos preços relacionados a alimentação e saúde e a alta menos intensa em outros segmentos. No entanto, transportes continuam segurando a inflação em níveis altos, principalmente por causa dos preços da gasolina.
Alguns especialistas apontaram que os dados sugerem que o pico inflacionário pode finalmente ter sido atingido. Se isso se confirmasse, abriria espaço para uma diminuição no rigor da alta de juros pelo Banco Central. Ontem, o Ibovespa caiu justamente por expectativas de que a instituição seria mais austera.
“Podemos estar vivendo um ponto de inflexão”, disse Marcelo Kfoury, ex-chefe do departamento de pesquisas do Banco Central e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. “O IGP-DI veio negativo no mês de novembro (-0,58%), o que pode significar alivio no IPCA nos próximos meses dado o recuo nos preços agrícolas no atacado”, afirmou.
Mauro Morelli, estrategista da Davos, considera que a desaceleração da inflação “é só mais um pequeno sinal” promissor a respeito do comportamento dos preços, mas tem valor no momento. “A gente tem um percurso muito grande para dizer que efetivamente a inflação está caindo e o Banco Central (BC) pode se considerar vencedor, mas com certeza é sinalização muito mais positiva.”
Ele afirmou que a combinação entre o indicador de hoje e o tom mais austero do BC na quarta-feira ajudam a abrir opções para a política monetária no ano que vem.
“Quando você tem o sinal de que está ganhando o jogo, não é hora de tirar o pé, é hora de ganhar de goleada. Aí ganha espaço de manobra, condições de fazer muito mais coisas”, afirmou, mencionando que as autoridades podem antecipar o fim do ciclo de alta, elevar os juros com menos intensidade ou, “numa situação realmente pouco provável, mas não impossível, não aumentar” as taxas.
Alívio também nos EUA
Nos Estados Unidos, a inflação terminou os 12 meses encerrados em novembro em 6,8%, a maior leitura para um intervalo de um ano desde março de 1982. O resultado, porém, veio em linha com o projetado pelo mercado, o que provocou alta nos preços das ações e queda nas taxas de juros americanas.
Os investidores ficaram aliviados com o indicador americano por acreditarem que, neste nível, a inflação não forçará o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, a remover com mais rapidez o estímulo à economia. Alguns analistas, porém, consideram que esta interpretação é equivocada, e que a instituição pode ser mais austera do que o mercado prevê.
“A preocupação no Fed será de que a inflação mais alta hoje pode alimentar as expectativa de inflação maior amanhã e depois”, disse James Knightley, economista-chefe internacional do ING. Segundo ele, na próxima quarta-feira a instituição pode decidir encerrar os estímulos em fevereiro, ou cerca de dois meses antes do previsto pela maioria dos especialistas até então.
Nos Estados Unidos, o Dow Jones subiu 0,6%, o S&P 500 avançou 0,95%, e o Nasdaq fechou em alta de 1,13%.
Destaques do dia
As ações da GOL (GOLL4) caíram 0,78% depois de a empresa anunciar que espera dobrar a receita e voltar a lucrar em 2022.
A BDR do Nubank (NUBR33), em seu segundo dia de negociação, teve mais uma alta expressiva, de 14,54%.
Entre as empresas que anunciaram pagamentos a acionistas, B3 (B3SA3 +5,72%) e Ambev (ABEV3 +0,89%) subiram , enquanto Bradesco caiu (BBDC4 -0,39%).
A Petrorecôncavo (RECV3) subiu 5,44% depois de a Agência Nacional de Petróleo (ANP) aprovar a redução da alíquota de royalties das concessões da Potiguar E&P.
A Movida divulgou que pretende investir de R$ 5,1 bilhões a R$ 6,0 bilhões em 2022 para aumento da frota e sem considerar aquisições. As ações (MOVI3) avançaram 2,82%.
Enjoei (ENJU3) avançou 2,61% depois de fechar acordo para comprar a empresa de venda de artigos de luxo Gringa.
Na próxima semana
O destaque dos próximos dias virá na quarta-feira, quando sai a decisão de política monetária do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos.
No início de novembro, os investidores foram avisados que o Fed está preocupado com a inflação e vai injetar cada vez menos dinheiro no sistema financeiro. No mês passado, foram injetados US$ 105 bilhões, e neste mês era esperado um volume menor, de US$ 90 bilhões. Mantido este ritmo, os estímulos terminariam em junho.
De lá para cá, porém, declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, e os números sobre a economia e a inflação americana fizeram os investidores recalcular este prazo, com alguns esperando que os estímulos terminem a partir de fevereiro. O mercado estará atento na quarta-feira a elementos que ajudem a fixar um prazo mais palpável para o chamado “tapering”.
“O banco central americano deve manter as portas abertas para um aumento de juros e vai aumentar o passo para a diminuição dos incentivos”, disse Morelli. “É muito pouco defensável aumentar os juros no momento em que ainda está recomprando títulos, então ele está querendo acelerar o término para poder ter espaço para aumentar os juros”, afirmou.
Além do Fed, também anunciam decisão de política monetária, mas na quinta-feira, os bancos centrais da zona do euro e da Inglaterra. No Brasil, o Banco Central detalha na terça-feira a decisão sobre a Selic e na quinta-feira anuncia suas projeções para a inflação e a economia.
No lado político, a Câmara dos Deputados vota na terça-feira os trechos remanescentes da PEC dos Precatórios, capazes de liberar pouco mais de R$ 46 bilhões em despesas adicionais no orçamento de 2022.