Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Retomada da China acende novo temor de inflação global, mas efeitos ainda são incertos

Retomada da segunda maior economia ocorre em meio à escalada dos juros no mundo

Foto: Shutterstock/FOTOGRIN

O avanço da reabertura da economia na China renovou os temores de inflação global em patamares elevados, mas ainda deixa dúvidas sobre os impactos nas estratégias dos bancos centrais ao redor do mundo.

Desde o fim do ano passado, o governo de Pequim demonstra sinas de reversão das rígidas políticas de “Covid Zero” instauradas para mitigar a disseminação da pandemia no país.

O movimento, porém, ocorre com as principais economias em um ritmo muito mais avançado na escalada dos juros do que em anos anteriores, quando a retomada global pós-Covid se deu em um ambiente de políticas monetárias mais frouxas.

Ricardo Hammoud, economista e professor do Ibmec, afirma que o momento atual conta com duas forças divergentes: enquanto as principais economias buscam frear a demanda com a alta dos juros, a China estimula o consumo por meio da reabertura das atividades.

“Dado o tamanho da China, a demanda por produtos, sobretudo o petróleo, vai aumentar e isso vai chegar no Brasil. A resposta que se dará é a grande dúvida”, pontua.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, apesar de os efeitos na inflação estarem no radar dos analistas, a tese com maior probabilidade é a de extensão dos juros em patamares elevados, e não de novas altas das taxas.

“A China está reabrindo no contrapé da maior parte dos outros países. Isso gera efeitos na inflação, mas não tão drásticos”, ressalta. “O que pode mudar é quanto tempo manter essas taxas mais altas.”

Saiba mais:

Durante participação no Fórum Econômico de Davos, em janeiro, a presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, explicitou a preocupação dos impactos da reabertura da China nas pressões inflacionárias globais, sobretudo na questão energética.

Para Pedro Brites, professor de relações internacionais na FGV, o impacto deverá ser sentido na economia global, porém, ainda não está claro onde será mais forte.

Minério e petróleo devem ser os mais afetados

Ele pontua que a recente retomada da China está focada em serviços e consumos, áreas que geram menos pressão sobre itens de energia, como o petróleo.

“Ao que tudo indica, não tem um crescimento forte em pontos centrais de pressão inflacionária, como as áreas de infraestrutura”, pontua.

A expectativa do mercado é que o aumento da demanda chinesa pese mais sobre commodities metálicas e energéticas.

O minério de ferro negociado no porto de Dalian subiu 4,73% entre o início de 2023 e esta terça-feira (8), superando a marca de US$ 125 a tonelada, segundo dados do Trading View.

Já o barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência na maior parte do mundo, voltou a se firmar próximo de 85.

Desde o início do ano, porém, a commodity perdeu 2,17% diante dos tombos observados nos últimos dias, com o temor de recessão global voltando ao radar dos investidores.

No médio prazo, a visão é oposta. Em janeiro, a AIE (Agência Internacional de Energia) divulgou um relatório prevendo que a demanda recorde por petróleo em 2023, sendo a China responsável por metade deste consumo, “mesmo que a forma e a velocidade da reabertura econômica continuem incertas”.

Antes, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) também disse esperar forte expansão na demanda da China pela commodity.

A valorização das commodities, sobretudo as energéticas, pode desencadear uma alta inflacionária no preço do petróleo na América Latina, segundo informou a Capital Economics, em relatório, mas o aumento tende a ser pouco expressivo.

Essa pressão, no entanto, não deve gerar mudança nas políticas monetárias da região, apesar de as taxas inflacionárias já estarem bastante acima das metas.

“Em geral, o impacto provavelmente será relativamente pequeno, e duvidamos que isso altere as perspectivas para as taxas de juros”, informaram os analistas da consultoria.

A Capital Economics revisou a expectativa de PIB (Produto Interno Bruto) da China para 5,5% ao fim deste ano, mesmo caminho seguido pela Julius Baer, que agora espera crescimento de 5,3%, com reflexos também positivos sobre o cenário para outros países da Ásia, inclusive o Japão.

O desempenho, no entanto, não deve surtir grandes efeitos sobre a inflação, visto que a retomada da economia da China deve ocorrer de forma mais comedida e sem grandes atropelos nas cadeias de logística e produtivas.

“Em termos de inflação, a combinação de uma recuperação da produção fabril e das cadeias de suprimentos na China com uma recuperação bastante gradual e moderada da demanda chinesa elimina o risco de que a reabertura da China reavive a dinâmica da inflação global”, destacou a instituição suíça.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.