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Fed vai reduzir alta de juros no fim de 2022 para levar taxa mais longe em 2023 – entenda

Previsão é de aumento de 0,50 ponto porcentual nos juros e de discurso mais duro contra a inflação

Foto: Shutterstock/sasirin pamai

Na quarta-feira (14), quando anunciar sua última decisão do ano a respeito dos juros, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, terá um trabalho difícil.

Isso porque precisará fazer duas coisas a princípio contraditórias: reagir à suavização da inflação e indicar ao mercado que continuará sendo rigoroso no combate à alta de preços.

No mês passado, o governo americano divulgou que a inflação acumulada nos 12 meses até outubro foi de 7,7% – um nível alto considerando o histórico recente dos Estados Unidos, que nos últimos dez anos viram os preços subirem pouco menos de 2% ao ano.

No entanto, o indicador também revelou que a inflação desacelerou consideravelmente em relação ao pico atingido em junho, de 9,1%.

Nesta terça-feira (13), serão publicados os dados a respeito da inflação de novembro, e a expectativa dos especialistas é de um índice ainda mais baixo – com alta perto de 7,3%.

O problema é que, nos próximos meses, a inflação americana não deve desacelerar com tanta força como recentemente, e um dos motivos reside no fato de o mercado de trabalho americano estar muito aquecido.

“As folhas salariais ainda estão crescendo a uma taxa surpreendentemente alta, considerando o quão difícil as empresas dizem ser encontrar novos funcionários”, disse o banco Nordea, em um relatório. “O crescimento elevado dos salários provavelmente vai continuar alimentando a alta nos preços”, acrescentou.

Na prática, essa pressão impede o Fed de parar de aumentar os juros. Se fosse nessa direção, correria o risco de abrir espaço para um repique nos preços em 2023. No entanto, nada impede que o banco central pegue mais leve.

O presidente da instituição, Jerome Powell, indicou no fim de novembro que muito provavelmente a próxima alta de juros será de 0,50 ponto porcentual – menor que a das reuniões anteriores, quanto a taxa subiu 0,75 ponto porcentual.

Mas isso não quer dizer que a instituição vai afrouxar o combate à inflação. Os juros, no fim das contas, continuarão a subir, o que significa freios cada vez mais fortes à atividade econômica.

Fed decide em 2022 de olho em 2023

É por isso que o mercado estará muito atento ao que Powell dirá na entrevista coletiva de quarta-feira. É o tom do discurso dele que vai dosar as expectativas a respeito dos próximos passos da instituição.

Vale ressaltar que juros em alta nos EUA tendem a ser um mau negócio para as ações, tanto no país quanto no Brasil.

É que a alta das taxas impõe obstáculos ao crescimento da maior economia do mundo, o que prejudica a atividade global e, consequentemente, o lucro das empresas. Além disso, juros altos nos EUA aumentam o apelo da renda fixa americana, que passa oferecer retornos mais altos e a receber um fluxo maior de investimentos em detrimento de outros ativos.

Segundo o Rabobank, a expectativa é que Powell reforce a ideia de que, mesmo desacelerando em dezembro, a alta de juros continuará.

“Achamos que Powell vai continuar a refutar cortes nos juros em 2023, e repetir que restaurar a estabilidade de preços exigirá manter os juros num nível restritivo por algum tempo”, disse Philip Marey, estrategista sênior do Rabobank para os EUA, em relatório.

O Fed também deve indicar ao mercado que os juros irão mais longe do que se previa. A última projeção oficial, divulgada pelo banco central em setembro, sugeria que os juros dos EUA terminariam o ano que vem perto de 4,6%. Agora, o mercado espera que o banco central indique uma taxa próxima a 5,1% para o mesmo período.

“A retórica recente do Fed sugere hesitação em cortar juros em 2023, e podemos presumir que o pico da taxa e o valor dela ao fim do ano que vem serão iguais ou muito próximos”, disse Colin Asher, economista sênior do banco Mizuho, em relatório.

Como o mercado vai reagir

Os investidores já esperam que o Fed amenize o ritmo de alta de juros, mas compense isso indicando que os juros vão subir por mais tempo. Por isso, esse endurecimento no discurso pode acabar ignorado pelo mercado, segundo o ING.

O banco ressalta que os investidores estão agindo como se o Fed estivesse enganado em relação às perspectivas econômicas. Nas últimas semanas, por causa dos dados mais recentes sobre a inflação, tanto as taxas de juros quanto o dólar caíram – indo na direção contrária da desejada pelo banco central.

“Essa reação do mercado parece excessiva para nós, visto que a inflação anual ainda está três vezes acima da meta”, disse o ING em relatório.

Por isso, é possível esperar uma reversão desses movimentos se a mensagem do Fed for muito mais dura do que se prevê – por exemplo, se o banco central afirmar que há risco de a inflação acelerar ou se a instituição menosprezar o efeito que uma eventual recessão teria sobre a alta de preços.

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