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Fed elevará juros dos EUA amanhã, mas atenção estará nas entrelinhas da decisão

Banco central americano sinalizou aumento de 0,25 ponto porcentual, e dúvida agora é sobre trajetória da taxa até fim do ano

Foto: Shutterstock

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, deve anunciar na quarta-feira (16) um aumento de 0,25 ponto porcentual (pp) nos juros do país. É isso o que foi defendido recentemente pelo presidente da instituição, Jerome Powell, e é isso o que o mercado espera. O que os especialistas tentam adivinhar é o que acontecerá depois, visto que ainda não se sabe quanto tempo a guerra da Ucrânia vai durar e quais serão os efeitos totais dela na economia.

O Fed mostrará ao mercado sua estimativa preliminar a respeito destes potenciais impactos também amanhã, ao divulgar suas projeções para os próximos anos.

“Tanto a previsão de inflação quanto a de juros devem ser revisadas para cima, especialmente para 2022”, disse o Rabobank em relatório.

O banco Mizuho também prevê uma reformulação nas previsões, e aponta que o Fed deve indicar pelo menos cinco aumentos de 0,25 ponto porcentual (pp) nos juros neste ano. Da última vez em que estas projeções foram publicadas, em dezembro do ano passado, o banco central americano deixou implícito que esperava três altas de 0,25 pp em 2022.

“Provavelmente será apresentado um quadro de inflação muito maior no curto prazo e de menor crescimento. Achamos que a inflação nos anos mais distantes do horizonte de projeção voltarão à tendência de longo prazo”, afirmou.

O banco Nordea acha que as autoridades do Fed serão ainda mais conservadoras – sinalizando seis aumentos de juros neste ano e mais quatro altas em 2023 -, mas evitarão assumir um compromisso firme de elevar as taxas.

“O Fed vai optar por flexibilidade, e Powell vai simplesmente reiterar que o comitê de política monetária vai usar as ferramentas conforme for apropriado para evitar que a inflação mais alta fique entrincheirada”, acrescentou o Nordea, em relatório.

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Guerra e pandemia são a mesma coisa?

Segundo o Rabobank, do ponto de vista do Federal Reserve, a invasão da Ucrânia pela Rússia apenas agrava um problema que a instituição vinha enfrentando antes – o aumento nos preços de insumos e o efeito disso sobre a inflação.

Desde que invadiu a Ucrânia, a Rússia foi alvo de sanções internacionais que, na prática, colocaram vários obstáculos à exportação de petróleo, trigo e outras commodities produzidas no país, que subiram de preço.

Antes da guerra, este problema já existia, mas por causa da pandemia de Covid-19. As restrições à circulação de pessoas, aplicadas para coibir a disseminação da doença, dificultaram a produção de semicondutores e o funcionamento de fábricas em vários países, o que também provocou alta nos preços de alguns produtos.

Essas restrições à oferta somadas à retomada no crescimento da economia americana fizeram a inflação nos EUA atingir 7,9% nos 12 meses terminados em fevereiro – a maior taxa em 40 anos, muito maior que a de 2% buscada pelo Federal Reserve.

“A direção lógica para o Fed é [de juros] para cima, e eles estão bem atrás da curva porque estão começando do zero. Portanto, enquanto a taxa de desemprego continuar abaixo ou perto de 4%, a inflação acima da meta garante um ciclo de alta nos juros”, disse o Rabobank.

O que pode amenizar a alta de juros nos EUA

Os especialistas apontam que, embora o Fed esteja inclinado a passar uma imagem de austeridade no controle da inflação, a perspectiva de várias altas de juros este ano pode mudar a depender de como se comportar a economia americana.

O banco ING ressalta que a economia dos EUA está numa posição privilegiada para navegar no cenário atual, porque tem vínculos financeiros e comerciais limitados com a Rússia, mas ainda pode ser prejudicada pelo aumento nos preços da gasolina, que diminuiria os gastos com consumo.

“Presumindo que os motoristas usem os mesmos 139 bilhões de galões de gasolina observados em 2021, e que os preços sejam de em média US$ 4 por galão, em vez dos US$ 2,25 no ano passado, isto significaria US$ 250 bilhões (ou o equivalente a 1% do PIB) em despesas com gasolina que em vez disso poderiam ter ido para o consumo de bens em serviços”, afirmou.

O Rabobank acredita que eventuais impactos sobre a economia americana ficarão mais evidentes no segundo semestre, quando será possível verificar o quanto a Europa vai sofrer com a crise atual.

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Segundo o Rabobank, se isso culminar numa desaceleração do ritmo de crescimento global, a perspectiva para os EUA pode piorar a ponto de levar o Fed a interromper o ciclo de alta nos juros.

“No pior cenário, os EUA podem ser tragados para uma recessão também, e o Fed pode decidir cortar os juros de novo para zero”, acrescentou.

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