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Banco central dos EUA deve enfrentar mais pressão interna para desacelerar alta de juros

Sinais de que economia americana está em recessão devem deixar mais membros do Fed desconfortáveis com alta acentuada nos juros

Foto: Shutterstock

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, vai anunciar nesta quarta-feira (27) mais um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) na taxa de juros do país. No entanto, menos autoridades da instituição devem apoiar integralmente a decisão, segundo especialistas, dados os sinais de encolhimento da economia americana.

O Fed está aumentando rapidamente os juros dos EUA desde o início deste ano. O objetivo da medida é tentar conter a inflação no país, que nos 12 meses encerrados em junho atingiu 9,1% – a maior leitura desde novembro de 1981.

No mês passado, a instituição elevou os juros em 0,75 pp, para a faixa de 1,50% a 1,75% ao ano, e o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que neste mês a taxa poderia subir na mesma proporção.

É isso o que a maioria dos investidores espera, segundo dados do CME Group baseados nos contratos futuros de juros americanos.

Apesar disso, indicadores recentes que mostraram sinais preliminares de fraqueza da economia americana podem deixar preocupados alguns dos membros do Fomc, o comitê de política monetária do Fed. Isso, de acordo com especialistas, aumenta as chances de divergências formais no grupo.

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“Pode haver um ou dois dissidentes que prefiram uma alta menor de juros, de 0,50 pp, dada a evidência de que a economia está perdendo fôlego e que tanto as expectativas de mercado quanto a dos consumidores sobre a inflação estão diminuindo”, disse o banco ING em um relatório.

EUA entraram em recessão?

A economia americana encolheu no primeiro trimestre deste ano e os dados referentes ao segundo trimestre ainda vão ser publicados pelo governo do país, na quinta-feira (28).

Fato é que alguns indicadores divulgados até o momento sugerem que a atividade econômica pode encolher de novo, o que tecnicamente caracterizaria um período de recessão.

O Fed de Atlanta, por exemplo, calcula que no segundo trimestre a economia dos EUA pode ter encolhido 1,6%. Isso baseado em números como os da balança comercial, o mercado imobiliário, a produção industrial e os gastos dos americanos, que são divulgados mensalmente pelo governo do país.

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O Wells Fargo, que prevê expansão de 0,2% no PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA no segundo trimestre, ressalta que não necessariamente dois trimestres consecutivos de contração na economia significam que há uma recessão em andamento.

“Cada recessão tem um catalisador diferente”, disse o banco, acrescentando que é preciso analisar alguns dados específicos para se chegar a esta conclusão – em particular os de produção, renda, emprego e gastos.

Neste grupo, os números de emprego ainda estão fortes demais para taxar a atual fraqueza econômica de recessão, disse o Wells Fargo. Mas as boas notícias param por aí.

“Embora a economia esteja desacelerando e isso não seja consistente com uma recessão, está começando a parecer que é apenas uma questão de tempo”, avaliou o banco.

Alta de juros atual já enfrenta dissidências

Na reunião anterior do Fed, em junho, o banco central elevou os juros em 0,75 pp, mas uma das integrantes do Fomc, Esther George, apresentou voto dissidente, pedindo que a taxa subisse menos.

Além disso, depois de o governo dos EUA divulgar que a inflação de junho acelerou para o maior nível em mais de 40 anos, o mercado chegou a cogitar a possibilidade de o Fed elevar os juros em 1,00 pp neste mês.

No entanto, dois integrantes do Fomc que costumam defender altas mais intensas nos juros, James Bullard e Chris Waller, disseram que seria desnecessário pisar no acelerador agora, o que deu força à hipótese de que nos próximos meses as taxas devem subir menos.

Boa parte das instituições financeiras acha que em setembro, quando acontecerá a próxima reunião do Fomc, as autoridades vão diminuir o ritmo de alta de juros para 0,50 pp. Mas a linguagem usada pelo Fed amanhã é que vai de fato cimentar as expectativas.

“Caso a comunicação abra alguma brecha que revele preocupação maior do que a esperada para a trajetória de crescimento econômico, entenderemos a sinalização como ‘dovish'”, disse o BTG Pactual.

“Dovish” é o termo usado pelo mercado para dizer que um banco central está mais propenso a tolerar a inflação e, consequentemente, menos inclinado a apertar a política monetária com juros maiores.

Inflação pode forçar Fed a ser mais austero

Outra possibilidade – que é vista como menos provável pelo mercado – é que o banco central americano decida ser mais rigoroso no aumento dos juros. Isso poderia ocorrer com uma alta maior que a prevista amanhã ou com altas de 0,50 pp não só em setembro, mas também em novembro.

“O Fomc colocou o controle da inflação acima de todas as prioridades e citou a necessidade de aumentar os juros rapidamente para restaurar a estabilidade de preços. O índice de preços ao consumidor de junho mostrou que a inflação acelerou, ante expectativa de moderação, o que eleva o risco de ela estar ficando entrincheirada”, disse o Wells Fargo em um relatório.

O Rabobank acha que o Fed, depois de ter avaliado erroneamente que a inflação seria transitória, esteja subestimando o quão persistente é a alta de preços atual.

O banco aponta que a alta nos preços de habitação nos EUA, que têm grande peso nas medições de inflação do país, chegou a 5,6% no acumulado em 12 meses até junho, devendo chegar a 6,0% nos meses seguintes.

“Ao mesmo tempo, os salários nominais tiveram aumento anual de 6,7% em junho. Isto sugere que a espiral de preços e salários que o Fed quer evitar já está aqui”, acrescentou.

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