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Mercado ainda não incorporou risco fiscal nos preços, diz ex-diretor do BC

Fabio Kanczuk, da ASA Investments, acredita que o Brasil pode entrar em recessão nos próximos trimestres

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

Os ativos brasileiros ainda não incorporaram em sua totalidade o risco fiscal gerado pelo governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que trabalha para aprovar no Congresso a PEC que permite a exclusão de R$ 145 bilhões do teto de gastos.

Esta é a opinião de Fabio Kanczuk, ex-diretor de política monetária do Banco Central e atual responsável pela área de macroeconomia da ASA Investments. O economista afirma que é difícil prever quando o mercado começará a precificar o risco fiscal, mas avisa que quando isso acontecer, será de forma intensa.

“A regra de mercado é essa. Demora mais do que se espera, mas depois acontece de forma mais rápida do que se achava”, afirmou em entrevista à Agência TradeMap.

A turbulência gerada pelo aumento do endividamento do Brasil também deve jogar o país em recessão nos próximos trimestres, na avaliação dele. Para Kanczuk, o efeito fiscal se somará à manutenção dos juros em patamares restritivos, inclusive com possibilidade de maior aperto pelo BC.

Veja abaixo a entrevista completa, concedida por Kanczuk na última sexta-feira (9).

Qual a projeção para os juros em 2023? Como o Banco Central vai lidar com o aumento do risco fiscal?

O mais provável é que essa questão de solvência fiscal aos poucos vai entrando mais firme nas discussões de mercado. Os preços ainda não indicam uma preocupação com o fiscal. Ela vai começar ter mais importância, a vamos começar a ver isso nos preços e nas expectativas de inflação.

Com isso, o Banco Central deve avançar na direção de mudar o balanço de risco das projeções de inflação. Nesse último Copom, ele falou que continua um balanço de risco simétrico.

Disse que vai observar o que vai acontecer com o fiscal, mas não considerou que as notícias fiscais vão mudar esse balanço de risco na projeção.

Acho que ele avança nas próximas reuniões do Copom no sentido de falar: “olha, o balanço de risco mudou, eu estou notando os preços e expectativas diferentes, e com isso apareceu uma assimetria nas minhas projeções. Apesar de eu colocar projeções de inflação que convertem para a meta, eu vejo que tem sinais com alta probabilidade de a inflação ser acima disso”.

E com isso ele vai eliminando a sinalização de redução de juros que ele deu nesta semana.

Recentemente vimos títulos do Tesouro Direto voltando à taxas de 14%. Mesmo com essa alta, o risco fiscal ainda não está no preço?

Teve um movimento grande, mas vimos que voltou. Não voltou tudo, mas uma boa parte do estresse que apareceu naqueles dias. Os juros foram o que mais sentiram. Bolsa e câmbio não sentiram quase nada.

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Quando o risco fiscal deve começar a aparecer nos preços?

Não sei quando isso vai entrar na agenda. Tem sempre essa questão de uma coisa importante, mas que ainda não entrou no radar do mercado. Em alguma hora entra, e quando for, entra com tudo.

A regra de mercado é essa. Demora mais do que se espera, mas depois acontece de forma mais rápida do que se achava.

Por que há tanta resistência do mercado financeiro ao nome de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda?

É diferente ter surpresa e ter resistência. As pessoas têm uma resistência ao Haddad pelo histórico dele, as preferências de economia dele, e já sabiam que ele ia ser o ministro com uma probabilidade muito alta. Só deu o que todo mundo esperava, nenhuma surpresa no anúncio, mas existe uma resistência do mercado, sim, às políticas que ele prefere.

O mercado é super preocupado com solvência fiscal, e o Haddad, e, em geral o PT, tem uma tendência de estar mais preocupado com o gasto. O Haddad, em todas as manifestações, coloca a preocupação com o gasto, com o social e melhora de gestão para conseguir atender as pessoas.

E o foco do mercado é: “tudo bem, entendo isso, mas quero ver de onde você vai arrumar o dinheiro”. Essa é a fonte da discórdia.

A economia brasileira vai entrar em recessão em 2023?

Acredito que a gente deve ter recessão nos próximos trimestres. Essa recessão já estava meio encaminhada com o aperto das condições financeiras que aconteceu nos últimos trimestres, e ela se juntou com outro aperto, que é esse começo de preocupação com o fiscal.

Para mim não sei quando vai cair a ficha, mas uma hora ela vai. Muito difícil saber o timing disso, mas já se está com dois efeitos, um que já apareceu, que é a Selic, e outro que vai vir alguma hora devido ao risco fiscal.

O que esperar da economia no final de 2023 para IPCA, Selic, PIB e câmbio?

IPCA em 2023 em torno de 6%. Selic, temos uma projeção de manutenção dos juros [no patamar de 13,75% ao ano], mas acho que vai acabar subindo. PIB vemos estabilidade. Para câmbio, R$ 5,80. Não é diferente de um preço neutro, se pensar nos juros brasileiros contra dos Estados Unidos [ou seja, o diferencial de juros entre os dois países, que deve cair no ano que vem, reduzindo a atratividade de ativos brasileiros].

Qual é a melhor solução para ajustar a trajetória da dívida?

A solução para a dívida será o aumento de impostos para conseguir equilibrar esse aumento de gastos. A grande pergunta é como eles vão conseguir tantos impostos para conseguir estabilizar a dívida pública. É a discussão que vai ser mais relevante em 2023.

 

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