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Para onde vai o Bitcoin? Cripto passa por “batismo de fogo” após avançar em protagonismo

Pela primeira vez, BTC enfrenta quadro de inflação global e alta dos juros generalizada; fim de paridade com mercados tradicionais ainda é incógnita

Foto: Shutterstock

Depois de dois meses de resistência na faixa de US$ 30 mil, o Bitcoin (BTC) despencou no início desta semana e regrediu para a casa dos US$ 22 mil, a mais baixa desde dezembro de 2020.

O movimento se alastrou por todo o mercado de criptoativos, que viu o volume de capitalização ficar abaixo de US$ 1 trilhão pela primeira vez em mais de um ano.

A sangria da “segunda-feira negra” ainda não foi estancada enquanto investidores aumentam o ritmo de fuga dos ativos de risco nesta quarta-feira (15), comportamento que também reflete em baixas nas bolsas globais.

Por volta das 11h55, o BTC registrava queda de 1,36%, a US$ 22.074, conforme dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap. A maior cripto em capitalização chegou a ser vendida a US$ 21.930 – queda de quase 70% desde o pico de US$ 70 mil atingido em novembro passado.

Testes de pressão

Em 13 anos de existência, esta é a primeira vez que o Bitcoin passa por um quadro macroeconômico de inflação pressionada em escala global e com os bancos centrais das principais economias do mundo tendo que correr para adotar estratégias mais agressivas na elevação dos juros.

Este também é um momento inédito de pressão sobre a criptomoeda desde início da aproximação do mercado financeiro tradicional, em especial a bolsa americana Nasdaq, que concentra ações de empresas de tecnologia.

O movimento começou a ser observado em maior nível a partir do início da pandemia da Covid-19, com o aumento do volume de dinheiro no mercado a partir da entrada de investidores institucionais, como bancos e fundos de investimento.

Até o momento, o “novo normal” do Bitcoin não deu sinais claros de qual direção vai seguir diante desta realidade de turbulência global e com indícios de recessão já aparecendo no horizonte das análises mais pessimistas.

Também é incerto a capacidade de recuperação da cotação nos próximos meses. Enquanto analistas apontam para um caminho tortuoso e brecha para novas quedas, outras opiniões apontam para um novo ciclo de crescimento já no segundo semestre deste ano com a atualização de parte da tecnologia da blockchain Ethereum, esperada para agosto, que sustenta os criptoativos.

Copo meio vazio

As criptomoedas – e os ativos de risco em geral – estão pressionados há semanas pelo clima global negativo com o aumento dos juros americanos, e o temor que isso leve à recessão, a volta de medidas de restrição na China para conter a Covid-19 e a falta de perspectiva de resolução na guerra da Ucrânia.

A gota d’água para a mais nova queda foi o anúncio da Celsius, uma plataforma que faz empréstimos com base em criptomoedas, anunciar na madrugada de segunda-feira (13) que iria suspender todas as atividades de saques, negociação de swap e transferências entre contas devido às “condições extremas do mercado”.

O anúncio fez os investidores correrem para tirar o dinheiro dos ativos criptografados. Horas depois, foi a vez da Binance, platadorma líder em volume negociado, anunciar a suspensão de saques em BTC. A medida durou três horas, o suficiente para enterrar ainda mais as cotações.

Nesta quarta-feira, a Three Arrows Capital, um fundo de investimento em cripto baseado em Dubai, ganhou as manchetes após informações indicarem risco de insolvência. Segundo matéria publicada no site The Block, já liquidou R$ 400 milhões em criptos.

Na segunda semana de maio, o colapso da blockchain da Luna Foundation já havia afundado o mercado e criado a resistência para o BTC passar da resistência de US$ 30 mil. Os indícios foram o suficiente para que os analistas começassem a apontar que o segmento passa por um novo “inverno cripto”.

Um dos sintomas dessa tormenta se mostrou presente nas últimas semanas com grandes demissões ocorridas em bolsas de criptomoedas, ainda que o clima ruim não tenha sido o único fator para a necessidade dos cortes.

As tensões em relação à decisão sobre os juros americanos, a ser anunciada nesta quarta, alimentam a análise de que o BTC pode experimentar novas quedas com a piora do quadro geral.

“O próximo grande nível para o bitcoin psicologicamente será de US$ 20 mil. Será interessante ver se esse nível, caso falhe [ou seja, fique abaixo desse patamar], estimule outra onda de vendas”, escreveu Jeffrey Halley, analista de mercado sênior da corretora e casa análise Oanda.

Em um título sugestivo de “A pior fase do urso”, em alusão ao recente mercado de baixa, a Glassnode, provedora de dados de blockchain e inteligência, afirmou que informações analíticas apontam que o Bitcoin está prestes a entrar no cenário “mais profundo” de aversão.

“Os preços mal se sustentam acima da base de custo”, destacou a entidade ao comentar a recente queda do BTC para próximo dos US$ 20 mil. “Historicamente, esta fase leva de oito a 24 meses para passar enquanto o mercado atinge o fundo.”

Mudanças de sistema podem desencadear nova alta

Apesar de reconhecer o momento de desafios, outros observadores do mercado de criptoativos acreditam que há mais razões para crer na recuperação do que em novos tombos no Bitcoin.

Um dos principais motivos para esse otimismo é o lançamento da atualização da rede Ethereum no processo chamado de “a fusão” (the merge, em inglês), que deve otimizar o sistema de blockchain com o lançamento do Ethereum 2.0.

O lançamento é cercado de mistério e muita expectativa entre os investidores e analistas. Nesta semana, o principal desenvolvedor da Ethereum, Justin van Loon, afirmou que o processo deve ser realizado em agosto.

Para Isac Costa, professor em direito corporativo do Insper e especialista em direito financeiro, o lançamento da nova versão do sistema dará ânimo para uma retomada do mercado cripto ainda no segundo semestre deste ano.

“É mais provável vermos a cotação do Bitcoin voltando ao patamar de US$ 30 mil do que descer até US$ 10 mil”, afirma.

O atual problema de insolvência da Celsius e a onda de demissões em bolsa de criptoativos também podem não ter o efeito devastador que muitos apontam. Para Marcus Sotiriou, analista da gestora GlobalBlock, os eventos servem como uma forma de separar empresas que conseguem superar diversidades de outras que ficarão pelo caminho.

“Eventos infelizes com credores, como da Celsius e outras empresas de criptografia, não impedirão que investidores experientes invistam diretamente nas principais criptomoedas”, afirma. “O valor intrínseco de ativos sem fronteiras, sem permissão e nativos de blockchain continuará a prosperar a longo prazo.”

Na contramão da maré, a Binance anunciou nesta quarta-feira a contratação de dois mil trabalhadores, indicando que também acredita na retomada do mercado.

“Não foi fácil fizer não aos anúncios no Super Bowl, aos direitos de nome em estádios e grandes contratos de patrocínio alguns meses atrás, mas nós fizemos”, escreveu no Twitter o CEO da companhia, Changpeng Zhao, em uma crítica aos gastos feitos pelas concorrentes em estratégias de marketing nos últimos meses.

Fim da correlação ainda é incógnita

Um dos caminhos para o Bitcoin realmente mostrar a que veio seria o afastamento da correlação com o mercado financeiro tradicional. Até lá, o BTC vai ser considerado apenas mais um ativo de risco e não uma opção para a proteção do patrimônio contra os ventos que movem as outras opções de investimentos.

Essa “independência”, porém, parece não estar perto de ser declarada. Para Costa, do Ibmec, o BTC apenas vai conseguir voar livre quando o mercado enxergar nele algo além de apenas um ativo de especulação financeira.

Atualmente, uma das maiores críticas ao Bitcoin é que ativo não possui função, fora a mera prospecção financeira em adquiri-lo esperando que alguém pague um valor maior posteriormente.

Essas novas funções, afirma o professor, já estão pipocando com a aproximação de grandes players do mercado financeiro, como as bandeiras de cartão de crédito, para transformar o BTC em uma solução de pagamento.

Há também formas de explorar o sistema de blockchain para fins distintos, como o envio da remessa de recursos ou forma de proteger a propriedade intelectual.

“É provável que ele continue tendo paridade com os mercados tradicionais enquanto não apresentar uma solução disruptiva”, diz Costa. “O Bitcoin só vai voar livremente quando entregar algo com valor distinto, mais eficiente e superior aos serviços do mercado tradicional.”

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