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Virou mainstream: Bitcoin perde fama de proteção contra altas e baixas do mercado tradicional

Por muito tempo, as criptomoedas se mantiveram à margem das oscilações do mercado financeiro tradicional. Essa espécie de imunidade fez com que esses ativos, em especial o Bitcoin (BTC), fossem apontados por analistas como boas opções de diversificação de portfólio – sempre com a ressalva de aportar apenas uma pequena fração do patrimônio.

A independência era fruto da exclusão dos ativos criptografados do radar dos grandes investidores, algo natural, visto que o projeto do BTC foi lançado há pouco mais de uma década e apresentava uma volatilidade muito maior do que a vista atualmente.

Mas as coisas mudaram. A crescente entrada de investidores institucionais no mercado de criptoativos nos últimos dois anos elevou a categoria ao mainstream. Ou seja, quem mexe com dinheiro parou de ver o BTC como o vilão que trazia altos riscos ao sistema financeiro e começou a incorporar o ativo em suas carteiras.

O aporte massivo de capital – que passou de US$ 150 bilhões em março de 2020 para o pico de US$ 2,9 trilhões em novembro de 2021 -, expôs o BTC aos mesmos fatores que mexem com o humor dos mercados, como juros altos e inflação pressionada, criando uma correlação com o comportamento de outros ativos.

Por ser um produto nativo dos meios digitais, o Bitcoin ficou muito atrelado ao movimento da Nasdaq, a bolsa de valores americana que concentra as maiores companhias de tecnologia. Os papéis de techs também são mais associados ao risco, já que lidam com projetos ainda não solidificados e com grande margem para erros.

Essa correlação fica nítida quando se observa o comportamento da cripto com o da Nasdaq, sobretudo nos últimos 12 meses. Em novembro do ano passado, as ações de tecnologia e a cotação do BTC operavam em topos históricos, e, juntas, oscilaram nos meses seguintes.

 

Variação da Nasdaq em um ano. (Foto: Reprodução/Nasdaq)

 

Variação do Bitcoin em um ano. (Foto: Reprodução/TradeMap)

Pessimismo

O recente clima de pessimismo que tomou conta do mercado global pela “tempestade perfeita” de juros altos nos Estados Unidos e disparada da insegurança com a guerra na Europa e Covid-19 na China também impactou a criptomoeda e o índice Nasdaq de forma semelhante.

Desde a segunda semana deste mês, o Bitcoin luta para se manter na faixa dos US$ 30 mil com a fuga dos investidores de ativos arriscados. Em momentos mais críticos, a cotação chegou na casa dos US$ 26 mil, a mais baixa desde o fim de 2020. A linha de queda da Nasdaq seguiu caminho bastante semelhante.

“A tendência é essa falta de correlação [das criptomoedas com o mercado tradicional] diminuir porque ele vai começar a fazer parte do portfólio de todos os investidores, então qualquer crise mexe no portfólio como um todo”, explica Roberta Antunes, sócia e CGO da Hashdex.

Esse movimento casado atesta o grau de correlação da cripto com o mercado tradicional, e dá força para quem combate a tese de que os ativos digitais são uma forma de proteção das intempéries que afetam os ativos.

Em nota divulgada aos investidores na semana passada, o UBS informou que a estratégia de usar os criptoativos como defesa de patrimônio falhou, assim como a tese de diversificação.

“O Bitcoin e outras moedas também falharam em atuar como um ‘ouro digital’ ou hedge de inflação – com os preços dos ativos deflacionando rapidamente com a alta da inflação e o regime de taxas mais elevadas, demonstrando a sua dependência na expansão monetária e de condições políticas”, escreveu a equipe de analistas do banco suíço.

Para o economista Fernando Ulrich, head de educação na Liberta Investimentos, a correlação já foi vista em outros momentos de forte estresse nos ativos financeiros, como em março de 2020, quando os mercados despencaram por causa da crise da Covid-19.  “No mercado pessimista, a tendência é tudo estar correlacionado”, afirma. 

Até onde vai?

Apesar dos movimentos conjuntos, Antunes afirma que ainda não é certo afirmar que a paridade entre o BTC e o mercado de ações seja algo consolidado. “É uma janela de curto prazo para dizer se a correlação realmente existe”.

Após a queda conjunta em março de 2020, o mercado cripto se recuperou de forma mais ágil que o geral, diz a executiva, mas isso não significa que isso vá se repetir. “Fica a expectativa que isso aconteça também nesse ano, mas estamos em um momento de mundo bem complicado.”

Segundo Ulrich, não há razão para que esse movimento de correlação se estenda no longo prazo, já que as bases que norteiam o mercado de ativos diferem das que mexem com as empresas de tecnologia.

“Falando especificamente do Bitcoin, não tem porque valorar como uma empresa de tecnologia. Não é uma empresa, não tem geração de caixa, tem seus próprios fundamentos de oferta e de escassez, então deveriam ser outros drivers de valuation, e não os mesmo que são realizados em uma empresa de tecnologia”, afirma.

A tendência, diz o analista, é que no próximo ciclo de valorização da criptomoeda essa correlação se dissipe. O momento que isso vai ocorrer, porém, ainda é muito incerto e não está no radar para o curto prazo.

 “Vamos ver quedas generalizadas, com ações caindo, Bitcoin caindo, até ouro caindo. É o momento que todos os ativos que estão caindo quase que em sincronia”, diz. 

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