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Varejo surpreende em abril, mas 2º tri deve desacelerar em relação ao 1º

Comércio atinge o quarto mês consecutivo de alta com avanço de 0,9%; inflação pressionada e juros devem mudar cenário positivo

Foto: Shutterstock

As vendas no varejo subiram 0,9% em abril ante março, o quarto mês seguido de resultado positivo, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em paralelo com abril do ano passado, o salto foi de 4,5%.

O desempenho do comércio veio bem acima do esperado pelo mercado. Analistas ouvidos pela Reuters projetavam aumento de 0,4% na comparação mensal, e de 2,6% na base anual.

O resultado de abril indica que o consumo das famílias brasileiras deve se sustentar no campo positivo no segundo trimestre, apesar de em menor grau em relação ao avanço de 1,3% observado entre janeiro e março, afirmam analistas ouvidos pela Agência TradeMap.

Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, o desempenho é reflexo dos programas para estimular a economia lançados pelo governo federal nos últimos meses, como a liberação dos saques de FGTS e a distribuição do Auxílio Brasil para as famílias de baixa renda. 

“Os dados sugerem que o consumo continuou dando suporte para o crescimento da economia no começo do segundo trimestre”, afirma.

Eduardo Vilarim, economista do Banco Original, também chama a atenção para a manutenção da força do varejo a despeito da retomada mais robusta do setor de serviços, que subiu após o arrefecimento das medidas de distanciamento social impostas pela pandemia da Covid-19.

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“No começo do ano se acreditava que aconteceria uma troca entre os bens de consumo pelas atividades presenciais. Mas o que se observa é que os dois setores estão avançando”, diz.

Inflação e juros devem pressionar vendas

Apesar de os resultados de abril terem surpreendido positivamente, a desaceleração em comparação aos meses anteriores acende um sinal de alerta. Em janeiro, as vendas do varejo cresceram 2,4%, seguido por duas altas consecutivas de 1,4% em fevereiro e março, para o avanço de 0,9% em abril.

A perda de fôlego é reflexo da corrosão do poder de compra das famílias pela inflação. Em abril, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) bateu o pico de 12,13% em 12 meses, o registro mais alto para o mês desde 2003.

Mesmo com o corte para 11,73% nos 12 meses encerrados em maio, a inflação pressionada acima dos dois dígitos deve impactar no bolso dos brasileiros, e, consequentemente, na queda do consumo a partir do segundo semestre.

“É o mesmo movimento que observamos no passado, quando o governo também adotou medidas para alavancar o consumo, mas com efeito limitado e que depois perde força na medida que a inflação corrói o poder de compra”, diz Rostagno.

Copom se reúne na semana que vem

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os dados de abril são um prenúncio de uma queda a partir dos próximos meses. “Seguimos com a visão de que comércio e serviços estão tomando um último fôlego antes da desaceleração projetada para o segundo semestre”, disse.

O esfriamento econômico previsto para o segundo semestre também passa pelo aumento dos juros pelo Banco Central para tentar controlar a variação de preços.

O Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne na próxima semana para definir novo aumento da Selic, atualmente a 12,75% ao ano. O consenso do mercado é para o acréscimo de 50 pontos-base, elevando a taxa para 13,25%.

Há expectativa de novo aumento no encontro marcado para agosto, também de 50 pontos-base, encerrando o ciclo de alta em 13,75% ao ano.

Apesar de os juros estarem em elevação há mais de um ano, foi somente a partir do fim de 2021 que a taxa alcançou níveis contracionistas, ou seja, quando cria dificuldades para a economia com o encarecimento do crédito.

Como há o efeito de defasagem de cerca de seis meses, o impacto real do aperto deve começar a ser sentido a partir do segundo semestre.

Apesar das pressões do IPCA e dos juros, Vilarim chama a atenção para a recuperação acima do esperado do mercado de trabalho como um fator de alento ao setor.

“Dependendo da composição do IPCA e dos salários, podemos ver a massa salarial aumentando, e se for em um nível satisfatório, pode haver um efeito positivo”, explica.

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