As taxas dos títulos públicos com rendimentos atrelados à inflação negociados via Tesouro Direto sobem nesta sexta-feira, 26, refletindo o movimento de maior aversão a ativos de risco no exterior, diante de preocupações com a nova variante do coronavírus que surgiu na África do Sul.
O receio foi desencadeado após alerta feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificou a nova cepa como “preocupante”. A organização fará uma reunião nesta sexta-feira para discutir o assunto.
Com base na atualização de preços do Tesouro Direto das 11h50, as taxas de papéis com retorno indexado à inflação (Tesouro IPCA) com vencimento em 2026 avançavam de 5,10%, ontem para 5,15%, hoje, enquanto as dos títulos com prazo em 2035 avançavam de 5,15% para 5,20%.
Já entre os prefixados, o movimento parece ter perdido força. A taxa do título prefixado com vencimento em 2026 chegou a subir de 11,79% para 11,83%, mas recuou para 11,74% na atualização mais recente. Já o retorno do papel prefixado com juros semestrais e vencimento em 2031 avançou de 11,67% para 11,76%, mas já caiu para 11,66%.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto:

Alguns países da Europa já anunciaram a restrição de voos vindos da África Austral. “Ainda é cedo para fazer qualquer diagnóstico. O ponto crucial é descobrir se a variante é resistente às vacinas e se será necessária a implementação de novas medidas restritivas”, afirma Luciano Rostgano, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
Para ele ainda é prematuro analisar o impacto dessas medidas para a economia. “Vai depender de como essa questão da nova variante vai evoluir”, diz.
Os receios relacionados ao cenário fiscal, em meio à expectativa da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios prevista para 30 de novembro, também contribuem para aumentar a cautela dos investidores no mercado local.
A reação nos mercados é de fuga de ativos de maior risco, como ações e de mercados emergentes, e busca por segurança o que leva à valorização do ouro e à queda das taxas dos títulos do Tesouro americano de dez anos (Treasuries) de 1,644% para 1,528%, por volta das 12h10. Já as moedas de mercados emergentes recuavam frente ao dólar.
Preocupação com fiscal aumenta cautela no mercado local
A expectativa para a votação da PEC dos Precatórios no Senado na semana que vem aumenta a cautela dos investidores. A provação da PEC é vista como essencial para reduzir a incerteza fiscal e para o governo poder aprovar o Orçamento de 2022.
“Há um problema sério fiscal e também uma grande incerteza econômica a partir de 2023, dependendo do cenário eleitoral. Essa combinação faz com que os investidores demandem mais prêmio para investir nos papéis do governo”, diz Rostagno.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse estar empenhado para acelerar a aprovação da proposta, mas afirmou que não garante que ela seja votada na semana que vem. O governo trabalha para garantir o mínimo de 49 votos necessários para aprovar a proposta apresentada pelo relator Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) nesta semana.
A PEC prorroga o pagamento de uma parcela dos precatórios para os anos seguintes e altera o teto de gastos (que restringe a alta de despesas públicas à inflação), abrindo espaço de mais de R$ 100 bilhões no Orçamento do ano que vem para permitir o pagamento de R$ 400 de Auxílio Brasil. Essa mudança precisa ser implementada ainda neste ano, já que a legislação veda a criação de programas sociais em ano eleitoral.
Segundo Rostagno, o mercado já incorporou no preço a possibilidade de manobra do teto fiscal. Já a não aprovação da reforma, segundo Rostagno, poderia levar a uma piora dos ativos domésticos, com aumento das taxas de juros no mercado local, o que provocaria nova desvalorização dos preços dos papéis do Tesouro Direto.
Com uma situação fiscal mais frágil, o Brasil também tenderia a sofrer mais em um movimento mais prolongado de aversão a risco devido à preocupação com novo avanço da Covid-19, afirma Rostagno.
Esse cenário, contudo poderia levar o Federal Reserve, o banco central americano, a postergar uma alta de juros. De outro lado, um dólar mais forte poderia levar o Banco Central a ter que agir em quadro de inflação já elevada.
O Banco Mizuho espera que o dólar oscile entre R$ 5,50 e R$ 5,70 no curto prazo, terminando o ano em R$ 5,60. Já a previsão do banco para a Selic é de uma alta para 9,25% no fim de 2021, terminando o ciclo de aperto monetário no ano que vem, em 11,25%.