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PIB do 3º trimestre ainda mostra fôlego, mas indica final de ano fraco

Alta da economia brasileira ficou aquém do esperado; país está no 24º lugar em ranking mundial, mostra Austin Rating

Gabriel Bosa

Gabriel Bosa

Foto: Shutterstock/rafastockbr

Puxado por serviços e indústria, o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre mostrou resiliência da atividade brasileira, mas veio abaixo do esperado pelo mercado, sinalizando que a desaceleração chegou para ficar e que o final deste ano e 2023 devem ser fracos em um cenário de juros em patamar elevado e economia global em desaceleração.

Os dados do IBGE divulgados nesta quinta (1º) mostraram que a soma dos bens e serviços alcançou R$ 2,5 trilhões entre julho e setembro, alta de 0,4% ante o trimestre anterior, mostrando perda de ritmo após a alta de 1,2% no segundo trimestre.

De qualquer forma, é o maior valor da história para um trimestre, superando inclusive o primeiro trimestre de 2014. Economistas questionam, contudo, o quanto esse dinamismo é temporário, estimulado pela deflação e incentivos tributários como o corte do ICMS de combustíveis, energia e telecomunicações, além do Auxílio Brasil de R$ 600, que começou a ser pago em agosto e que será mantido pelos próximos anos.

O desempenho veio aquém da expansão de 0,7% imaginada por analistas de mercado, mas mesmo assim mostrou fôlego tanto do lado da oferta (serviços e indústria) como da demanda (consumo das famílias e investimentos).

“A economia brasileira cresceu em um passo forte por um ano, colocando a atividade em um nível 4,5% acima da pandemia”, apontou Lucas Maynar, economista do Santander. “O PIB atravessou 1,4% acima do pico registrado no primeiro trimestre de 2014, antes da pior recessão brasileira em um século”, lembrou – em 2015, o PIB brasileiro caiu 3,8%, pior resultado em 25 anos, e em 2016 tombou mais 3,6%, levando, no combinado dos dois anos, à maior recessão da história do país.

O especialista alerta que os efeitos da política monetária restritiva (a taxa básica, a Selic, foi elevada de 2% em março do ano passado para os atuais 13,75%) começam a aparecer.

“Vimos uma contribuição relevante para o crescimento do terceiro trimestre vindo de segmentos não cíclicos, como aluguéis, serviços públicos e serviços de informação, que foram fortemente beneficiados pelo corte de impostos no período [ele se refere ao corte do ICMS para telecomunicações].”

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O banco espera uma alta de 2,8% no PIB de 2022, com viés de alta, e crescimento de 0,7% em 2023. “Continuamos a ver uma desaceleração da demanda doméstica em componentes cíclicos, com a desaceleração da economia global e efeitos de uma política restritiva do Banco Central.”

Segmentos do PIB perdem força

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, espera uma alta de 2,7% do PIB de 2022, mas aponta que segmentos como construção, energia elétrica, gás e esgoto vão perdendo fôlego pela alta da Selic.

“Apesar de abaixo das nossas projeções, o PIB ficou em linha com um cenário econômico de desaceleração esperado por conta dos efeitos de uma política monetária restritiva”, avaliou. “Os dados do IBC-Br [Indicador de Atividade Econômica do Banco Central] já vinham mostrando essa desaceleração.”

Considerando os diferentes setores, os destaques foram os serviços, que respondem por 70% da atividade e que tiveram alta de 1,1%, e indústria, com crescimento de 0,8%. Já a agropecuária recuou 0,9% no período. A demanda doméstica continuou a se fortalecer, avançando 1% na margem, e os investimentos saltaram 2,8%.

Em relatório, o Bank of America avaliou que o consumo foi beneficiado pelo impulso fiscal (ampliação do valor do Auxílio Brasil, redução nos preços de combustíveis e cortes de impostos) e deflação. “Para o quarto trimestre de 2022, esperamos que a atividade seja mais impactada pelo aperto da política monetária e desaceleração global.”

PIB no quarto trimestre e em 2023

Essa é a mesma avaliação de Agostini, da Austin, para quem daqui para a frente a tendência é de desaceleração do consumo das famílias e do consumo do governo.

“A expectativa inicial para o quarto trimestre é que ficasse próximo de zero ou negativo. Porém, tem que ver como a população vai se comportar com a liberação de recursos do Auxílio Brasil. Se esse recurso for muito direcionado para pagamento de dívidas, que estão em níveis recordes, não vai ajudar o PIB. Se for para consumo, pode ser que de novo tenha PIB positivo”, avaliou.

É o mesmo cenário para o ano que vem. “Com certeza o crescimento vai ser muito menor do que deste ano, pelo cenário restritivo doméstico. Também tem a perspectiva negativa pela PEC da Transição, a preocupação fiscal. O cenário internacional que vai se formando é de uma desaceleração forte nas economias centrais e na China.”

A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, lembra que até o segundo trimestre o PIB vinha surpreendendo, em parte pela reabertura de setores que ficaram fechados na pandemia, pelo crescimento global e alta nos preços das commodities.

“Mas os fatores que impulsionaram a economia no primeiro semestre não se fazem mais presentes. As principais economias globais, como Estados Unidos, Europa e China, estão desacelerando fortemente. Quando o mundo tem baixo crescimento, dificilmente o Brasil segue um caminho diferente”, avaliou.

A especialista lembra que indicadores mensais mostram que a perda de fôlego já se reflete em indicadores do quarto trimestre. “Um exemplo claro disso foram as divulgações das sondagens da FGV de novembro. Elas mostram uma queda expressiva em todos os segmentos da confiança empresarial, que de maneira consolidada registrou a maior retração desde março de 2021, assim como na confiança do consumidor.”

Alta do PIB coloca Brasil em 24º no ranking mundial

O resultado do PIB do terceiro trimestre na comparação com o período imediatamente anterior coloca o Brasil na 24ª posição em um ranking de 50 economias, segundo levantamento da Austin Rating.

O país divide a posição com Portugal, Canadá e Tunísia, que também cresceram 0,4% entre julho e setembro. A lista é liderada com folga pela China, com crescimento de 3,9%. Filipinas e Arábia Saudita completam o pódio, com alta de 2,9% e 2,6%, respectivamente.

Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, registraram avanço de 0,7% e ficou com a 15ª colocação. Hong Kong ocupa a última posição, com contração de 10% da economia no terceiro trimestre. Estônia (-7%) e Letônia (-6,6%) fecham o trio com maiores quedas do PIB no período.

 

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