IPCA: Inflação mais amena que a prevista pode ganhar força com dólar e pacote de auxílios

Aumento de gastos do governo via PEC dos Benefícios coloca mais pressão no indicador

Foto: Shutterstock

A queda nos preços da energia e combustíveis segurou uma alta maior no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de junho, que subiu 0,67%, abaixo do esperado pelo mercado. Apesar disso, o indicador oficial de inflação do Brasil deve continuar sob pressão nos próximos meses com a alta do dólar e aumento do Auxílio Brasil, que deve ser aprovado na semana que vem no Congresso.

O IPCA foi divulgado na manhã desta sexta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O órgão apontou que no mês passado houve queda de 1,20% nos preços de combustíveis, com a gasolina, item de maior peso individual no índice, caindo 0,72%.

Para a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, a inflação já atingiu seu pico – de 12,13% nos 12 meses até abril – e deve seguir em trajetória de queda. “A força dessa queda, entretanto, ainda é incerta”, afirmou, destacando que a expectativa é que os efeitos da redução da alíquota de ICMS sobre combustíveis, energia, comunicações e transporte sobre os preços sejam sentidos somente a partir de julho.

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Na avaliação da especialista, a composição do IPCA continua ruim. “A inflação de serviços e os núcleos do Banco Central [indicador que exclui os preços mais voláteis] continuam altos e acelerando.”

Para a economista Tatiana Nogueira, da XP Investimentos, a deflação maior que a esperada da gasolina contribuiu para a surpresa.

“A dinâmica inflacionária parece ter permanecido a mesma: desaceleração gradual de bens industriais, mas vários itens seguem pressionados, especialmente vestuário e automóveis”, disse.

A alta de preços continua preocupando os economistas principalmente no setor de serviços, como destaca o economista-chefe da RPS, Victor Cândido.

“É o que mais preocupa, ganhando espaço no acumulado em 12 meses com o comércio, restaurantes e academias voltando [após a melhora da pandemia de Covid-19]”, afirmou. “Os serviços vêm sendo os grandes propulsores da atividade econômica, e isso se reflete na inflação.”

Risco fiscal e dólar alto

Os especialistas ressaltam que o cenário se mantém desafiador para a inflação, com o aumento do dólar, eleições presidenciais e o risco fiscal representado pela PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Benefícios.

O texto, que aumenta o valor do Auxílio Brasil e institui um auxílio a caminhoneiros, será votado na semana que vem na Câmara, e amplia as despesas fora do teto de gastos em mais de R$ 40 bilhões até o final do ano.

“O IPCA cheio veio abaixo do esperado, mas continua exibindo uma abertura bastante negativa”, apontou João Savignon, economista da Kínitro Capital. “Mesmo que o o pico da inflação tenha ficado para trás, temos um cenário desafiador, seja pela forte correção do câmbio no curto prazo, que pode atrapalhar a volta dos bens industriais, seja por um mercado de trabalho mais forte, que pressiona os serviços.”

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