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Investimento estrangeiro direto no Brasil é o maior em uma década; saiba a razão

Maior interesse é de empresas de setores como infraestrutura, energia limpa e tecnologia; chinesas ligadas a ecommerce estudam entrada no país

Foto: Shutterstock/naytoong

Pandemia de coronavírus, guerra entre Rússia e Ucrânia e juros subindo forte nos EUA e Europa para combater a disparada nos preços, sem falar na hiperinflação da Turquia, crise de energia na zona do euro e China crescendo menos pelas restrições à circulação.

Nesse cenário ruim para a economia global, o Brasil vem sendo beneficiado em pelo menos um aspecto importante: os investimentos produtivos de estrangeiros no país estão no maior patamar em uma década, segundo dados do Banco Central, e a expectativa é que essa atração maior de recursos gringos se mantenha pelos próximos anos.

O IDP (Investimento Direto no País) somou US$ 70,6 bilhões no ano até setembro, o que representa um crescimento de 63% na comparação com o mesmo período de 2021. É o maior valor desde 2011, segundo o BC.

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Em parte, esses recursos refletem a busca internacional para reduzir a dependência de países mais afetados por lockdowns rigorosos ou conflitos geopolíticos.

“O Brasil surfa uma onda de problemas de outros países, como a Europa estagnada por causa da guerra na Ucrânia e a China com problemas pela política de Covid zero. Essas questões acabam nos beneficiando”, aponta Carlos Toro, sócio da área de International Tax, Deal Advisory e M&A Tax da KPMG Brasil.

Mas há méritos próprios do Brasil nesse jogo, diz o especialista. Além do cenário pior para outros países, que deixa o Brasil relativamente mais atraente ao investimento dos estrangeiros, o ciclo de aumento dos juros na economia brasileira começou bem mais cedo que em outros mercados.

Enquanto aqui a taxa básica de juros, a Selic, começou a subir em março de 2021, em economias avançadas, como nos Estados Unidos e na zona do euro, este aumento começou apenas neste ano.

Atualmente a Selic está em 13,75% ao ano, e a expectativa é que ela comece a cair no ano que vem – o que deve remover gradualmente o freio imposto pelo Banco Central à atividade econômica.

Ao mesmo tempo, as projeções para a alta do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano foram sendo revisadas para cima ao longo de 2022, com a retomada do consumo no pós-pandemia e a ampliação de benefícios sociais. Analistas ouvidos pelo Boletim Focus projetam que a atividade crescerá 2,77% neste ano e 0,7% em 2023.

“Ainda temos problemas com inflação e um crescimento aquém do que poderia ser, mas ao mesmo tempo não temos guerra nem controle de capitais”, pondera Toro. “A pandemia está controlada no sentido de não impactar tanto os negócios, e nossa demografia é favorável, já que temos uma população mais jovem e economicamente ativa”, afirma Toro.

Quando se detalha os dados do BC, a conclusão é que o comportamento do investimento foi puxado principalmente por fusões e aquisições, seguido da ampliação na participação no capital de empresas.

Cerca de R$ 53,6 bilhões foram enviados dessa forma, enquanto que outros R$ 16,9 bilhões chegaram via transferências intercompanhia (ou seja, recursos enviados internamente entre empresas com matrizes no exterior e filiais no Brasil).

O sócio da KPMG aponta que o interesse maior de empresas de fora pelo Brasil se intensificou em 2022, mas lembra que esse é um movimento que já vinha ocorrendo.

“Foram dois anos movimentados, com muitas aquisições, fusões e reorganizações societárias. São investimentos greenfield [do zero] e por associação, através de fusões e aquisições.”

Na mira do investimento do ecommerce e das redes sociais

Toro é responsável na KPMG pela assessoria em planejamento tributário e fusões e aquisições de empresas estrangeiras interessadas em estabelecer operações no Brasil, com experiência em setores como transporte, logística, energia e alimentos.

Ele destaca o interesse internacional em entrar em setores como infraestrutura, energia limpa e tecnologia. “Nos últimos anos notamos um crescimento forte de investimentos chineses em infraestrutura e energia, muito mais que em anos anteriores”, diz. “Outros setores de interesse são energia eólica e tecnologia.”

Neste último caso, ele explica que muitas empresas acabam investindo para estruturar operações no Brasil porque o país tributa pesadamente serviços internacionais de tecnologia. “Empresas como Netflix, Spotify e Google acabam sendo forçadas a ter operação local, para viabilizar o seu faturamento”, explica.

Toro vem notando também um aumento do apetite de empresas chinesas de tecnologia, que atuam em segmentos como ecommerce ou pagamentos através de redes sociais. “O Brasil é um grande usuário de tecnologia, e as empresas chinesas querem disponibilizar aplicativos oferecidos na China no Brasil. É um mercado que vem se tornando interessante, e essas companhias estudam se terão presença local ou se terão um facilitador de pagamentos.”

Na avaliação do especialista, a tendência é que esse movimento se mantenha nos próximos anos.

“São investimentos de longo prazo. A não ser que tenhamos uma crise muito séria, a tendência é que esse fluxo de recursos continue, até porque temos uma população jovem, diferentemente de países da Europa ou do Japão, por exemplo.”

Ele lembra ainda que o Brasil é considerado um bom candidato para liderar a agenda ESG, que sintetiza o compromisso com as agendas ambiental, social e de governança. “O Brasil pode ser o protagonista dessa agenda, já que é considerado um exemplo de produção de energia limpa.”

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