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Inflação global surpreende, mas Brasil tem posição mais desafiadora que China e EUA, diz estrategista

Banco Central deve ficar em posição delicada ao tentar equilibrar controle de preços e impacto econômico, diz Luciano Rostagno, do Mizuho

Foto: Unsplash

Os dados divulgados ontem por China, Brasil e Estados Unidos mostraram que a inflação nestes países ficou acima do esperado pelo mercado e foi puxada por alguns fatores em comum, mas cada uma destas economias deve reagir de forma diferente aos indicadores, segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

A inflação ao consumidor da China acumulada nos 12 meses até outubro atingiu 1,5%, acelerando em relação a setembro, quando apresentou alta de 0,7%.

No Brasil, a alta nos preços em 12 meses passou de 10,25% para 10,67% no período, enquanto, nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor em um ano passou de 5,4%, em setembro, para 6,2%, em outubro – a maior leitura desde novembro de 1990.

Rostagno apontou que os dados reforçam a tese de que há componentes globais provocando um movimento sincronizado de alta de preços.

“Eu elencaria dois como os principais. Primeiro, a alta do preço do petróleo, no mercado internacional, que pressiona os preços de energia e combustíveis ao redor do mundo. Esta alta está atrelada à contenção na oferta por parte da Opep e seus aliados”, diz o economista, referindo-se à Organização dos Países Exportadores de Petróleo e a países temporariamente vinculados ao grupo, como a Rússia.

“O outro componente são os problemas na cadeia de suprimentos mundial, principalmente com o que aconteceu na Ásia, no Leste Asiático, com os governos da região adotando medidas restritivas para conter o avanço da variante Delta [do coronavírus]. Isso causou problemas na distribuição e elevou o frete para transporte de bens ao redor do mundo, o que encareceu os preços”, afirma.

O economista ressalta que há também alguns fatores locais puxando os preços para cima. No caso do Brasil, o problema vem do baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas, que força o acionamento de usinas de geração de energia termelétrica e encarece o preço da eletricidade. Além disso, o país enfrenta as consequências do clima adverso para a safra de alguns alimentos ao longo do ano.

No Brasil, cenário é mais desafiador

A inflação mais alta que a prevista por aqui em outubro deixa o Banco Central numa situação delicada, em que precisará calibrar o controle dos preços e o quanto isso impactará a atividade econômica, diz Rostagno.

“O dado realmente foi preocupante, não só pela surpresa altista que a gente viu, mas também pela composição da abertura dos dados, que mostrou cinco dos nove grupos de preços apresentando alta de mais de 1% no mês. Então, sim, é um dado que sugere um cenário de inflação ainda mais desafiador para o Banco Central”, afirma.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho observa também que é preciso levar em consideração, em conjunto com os dados sobre os preços, os números mostrando atividade econômica mais fraca que a esperada – em particular no setor industrial –, e os indicadores que estão previstos até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para avaliar melhor se o Banco Central mudará de postura em relação ao que já sinalizou ao mercado (uma alta de 1,50 ponto porcentual na Selic em dezembro).

“A tendência ainda é de o Banco Central manter o ritmo de alta de juros em 150 pontos-base, que aliás é um ritmo bastante forte”, comenta. “Precisaríamos de novas surpresas altistas na inflação para que o Banco Central decida acelerar o ritmo de altas”, afirmou.

Para Rostagno, o Banco Central está numa situação bastante complicada, de evitar que as expectativas de inflação se desancorem e evitar de jogar a economia numa recessão.

Nos EUA, tese de inflação temporária enfraquece

A leitura mais recente da inflação nos Estados Unidos surpreendeu mais que nos outros países para os padrões americanos, segundo Rostagno. “Foi 50% de surpresa para cima: era esperado 0,6% e veio 0,9%”, diz, em menção ao avanço mensal do índice de preços ao consumidor do país.

“O dado por lá desafia a visão ainda majoritária do banco central americano de que grande parte da alta da inflação é decorrente de fatores transitórios e que tenderiam a perder força no ano que vem”, acrescenta. Isso, no entanto, não significa que os juros vão subir antes do previsto nos Estados Unidos – até o momento, a expectativa é de que esse movimento de alta comece no fim do ano que vem.

“O banco central americano não atua observando apenas o número no determinado mês. Ele vai ter que realmente observar evolução de cenário para realmente definir o melhor momento para poder subir juros”, afirmou.

Inflação da China pode inibir estímulo monetário

A inflação chinesa, embora tenha acelerado bastante em outubro, ainda está em níveis que deixam as autoridades econômicas do país confortáveis, visto que por lá a expectativa não é de elevação dos juros, mas de estímulo à economia.

“O dado tem potencial para inibir um afrouxamento da política monetária, que estava sendo esperado dada a desaceleração da economia chinesa. O cenário lá é bem distinto”, diz Rostagno.

Ele chama atenção para a diferença de magnitude do dado de inflação chinês em relação aos números de Brasil e Estados Unidos, o que gera certa vantagem ao país asiático. “Tem uma inflação ainda abaixo de 2% por lá, há uma folga bem maior pensando em risco de desancoragem das expectativas e para o cenário inflacionário”, afirmou.

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