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Com Selic perto dos 8,5% ao ano, retorno da caderneta de poupança está prestes a mudar: vale a pena investir?

Que a taxa Selic vai subir ainda mais, encerrando o ano em ao menos a 8,75% ao ano, todo mundo já sabe. Mas o que começa a entrar no radar dos investidores, em especial os mais tradicionais, é a avaliação de que essa elevação terá efeito direto sobre a remuneração da poupança. Sim, a tradicional caderneta vai voltar a entregar um retorno fixo ao mês.

Isso vai acontecer porque, pelas regras vigentes, toda vez que a taxa básica de juros fica acima de 8,5%, os poupadores passam a receber 0,50% de retorno ao mês, ou 6,17% ao ano, mais a variação da TR (taxa referencial, atualmente zerada).

Mas antes de falar o quanto a poupança passará a pagar, é preciso entender quanto ela rende hoje. A Selic está em 7,75% ao ano, portanto abaixo de 8,5%. Nesse caso, a remuneração da poupança ainda equivale a 70% dessa taxa, o que corresponde hoje a um retorno de 0,44% ao mês e que incide para os valores aplicados desde 4 de maio de 2012, quando a nova regra começou a valer.

O retorno, que tem ficado consistentemente abaixo da inflação, já foi menor. Ali no começo de 2021, quando a Selic estava em 2% ano ano, o poupador recebia uma remuneração de apenas 0,12% ao mês (ou 1,4% ao ano).

Quando a taxa básica passar dos 8,5%, o que não acontece desde setembro de 2017, os poupadores passarão a receber 0,50% ao mês, independentemente do patamar que a taxa básica alcance. O rendimento da poupança será um pouco maior que o atual, mas, em contrapartida, a Selic estará em níveis mais elevados e poderá proporcionar ao investidor retornos mais polpudos em outras aplicações de renda fixa.

“É uma mudança para pior para o poupador. A remuneração ficará travada em 6% ao ano e, com a Selic subindo, a caderneta ficará ainda mais distante (da rentabilidade de outros produtos)”, diz Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ocorre no início de dezembro. O relatório Focus aponta para a Selic terminando o ano em 8,75% ao ano e chegando a 9,50% em 2022.

E por que essa regra vale só para os recursos aplicados a partir de 4 de maio de 2012? Porque até aquela data, havia só uma regra de remuneração da poupança, que era de 6,17% ao ano mais a variação da TR.

Naquela época, a Selic estava em 9% ao ano e em trajetória de queda, mas a caderneta era vista como um entrave para a continuidade do movimento de redução dos juros. Havia o temor de que, com a taxa básica caindo, investidores que compravam títulos públicos, ou seja, que financiam a dívida do governo, migrassem para a poupança.

A saída foi a criação dessa regra, que atingiu os depósitos feitos a partir de maio de 2012 – o saldo anterior a essa data continuou sendo remunerado pela regra antiga.

Para Marcelo Lara, planejador financeiro com certificação CFP, nem mesmo todo o estoque da poupança sendo remunerado pela regra antiga a torna atrativa. “Deixar na poupança é melhor que deixar os recursos parados na conta corrente, mas, como investimento, não é um produto financeiro eficiente”, diz.

Maior que fundos de ações

A poupança é o investimento mais tradicional do Brasil, não tem limite mínimo para aporte e seu rendimento é isento de Imposto de Renda. E mesmo com uma rentabilidade que muitas vezes não é vantajosa, o estoque desse instrumento financeiro gira em torno de R$ 1,031 trilhão – superior ao patrimônio dos fundos de investimentos em ações, que é de R$ 639,4 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Ser isenta de tributação é um atrativo, mas, em geral, a poupança costuma apanhar na rentabilidade em relação a outras aplicações de renda fixa. Viriato explica que a caderneta precisa ser comparada com instrumentos financeiros parecidos, ou seja, de baixo risco, e cita como exemplo o Tesouro Selic.

Enquanto a poupança é isenta do IR sobre os rendimentos, o Tesouro Selic segue a tabela regressiva da renda fixa. Se o título for resgatado antes de 180 dias, o IR é de 22,5%. Entre 180 e 364 dias, 20%. A alíquota cai para 17,5% se o título for mantido pelo prazo de 364 a 720 dias e é de 15% para resgates feitos após esse prazo.

Há também uma taxa de custódia de 0,25% cobrada sobre o total do valor investido, que vai cair para 0,20% a partir de janeiro. E investimentos de até R$ 10 mil em Tesouro Selic estão livres da tributação.

“Nesse caso, o Tesouro Selic acaba oferecendo uma remuneração melhor, mesmo quando a alíquota do IR é a de 22,5%”, afirma Viriato.

 

Infografico simulacao poupanca FINAL

Retorno só no aniversário

Outra comparação pode ser feita com os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), que são títulos emitidos pelos bancos e que, assim como a caderneta de poupança, possuem a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – limitada a R$ 250 mil por investidor por instituição financeira.

Viriato afirma que os CDBs também são mais vantajosos que a poupança desde que ofereçam uma remuneração de ao menos 95% do CDI (referencial das aplicações de renda fixa que acompanha de perto a Selic). Na plataforma TradeMap, é possível encontrar algumas opções de CDBs que pagam mais de 100% do CDI e com liquidez diária.

“A poupança também fica em desvantagem nessa comparação. O investidor precisa lembrar que a poupança tem liquidez diária, mas o rendimento é só no aniversário”, completa o professor.

De fato, os recursos aplicados na poupança podem ser resgatados a qualquer momento – em alguns CDBs, é preciso esperar o vencimento. No entanto, a remuneração da caderneta só incide na data de aniversário.

Como exemplo, para os recursos aplicados em 5 de outubro, o poupador só irá receber a remuneração se o resgate for feito a partir de 5 de novembro. Em fundos de investimento e CDBs, a remuneração é paga “pro-rata”, ou seja, são considerados os dias pelos quais o dinheiro ficou aplicado.

“A melhor alternativa para o investidor é o Tesouro Selic ou, eventualmente, um CDB com liquidez diária e taxa de remuneração decente”, analisa Lara, planejador financeiro.

Saques

Entre janeiro e outubro, a caderneta de poupança teve captação líquida negativa, ou seja, em que os resgates foram superiores aos aportes, em seis meses. No ano até outubro, o resgate liquido é de R$ 30,8 bilhões.

Esses saques ocorreram no momento em que outras categorias de investimento captaram mais recursos. Dados da Anbima mostram que os fundos de renda fixa estão com aportes maiores que os resgates em R$ 255,2 bilhões e os multimercados, de R$ 69,7 bilhões no acumulado do ano até 29 de outubro. Os fundos de ações captaram menos, mas ainda assim estão no positivo em termos de aportes, com saldo de R$ 2,6 bilhões.

Esse cenário contrasta com o que ocorreu em 2020. Em um ano marcado pelo início da pandemia do coronavírus, a cautela imperou e as famílias que puderam reforçaram suas economias. O resultado é que o investimento mais tradicional do país acumulou captação líquida de R$ 166,3 bilhões no ano passado, o maior valor líquido para a caderneta de poupança já registrado desde o início da série histórica, em 1995.

O resultado pode ter tido a contribuição do auxílio emergencial, que somou cerca de R$ 300 bilhões no ano passado, uma vez que beneficiários sem a urgência de utilização dos recursos podem ter deixado o dinheiro em conta poupança.

E apesar de não ter o rendimento mais atrativo, vale lembrar que a poupança é uma das fontes de recursos para o financiamento imobiliário dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), garantindo taxas de financiamento mais atrativas ao mutuário.

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