A demanda dos consumidores por crédito caiu em junho pela primeira vez em pouco mais de dois anos, refletindo principalmente o aumento das taxas de juros, que encarece os empréstimos.
Segundo dados da Serasa Experian, a demanda dos consumidores brasileiros por crédito caiu 2,2% em junho em base anual. É a primeira queda desde julho de 2020, quando o indicador havia recuado 3,9%.
Os números mostraram que houve redução na procura por crédito em todas as faixas de renda – algo que também aconteceu pela última vez há dois anos.
O declínio mais intenso, de 2,7%, aconteceu entre os consumidores com renda de R$ 500 a R$ 1.000 mensais, enquanto o mais suave, de 1,1%, ocorreu entre aqueles que ganham mais de R$ 10.000 por mês.
Segundo o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, a demanda menor por crédito reflete a percepção dos consumidores a respeito do encarecimento dos empréstimos.
“A queda pela procura do recurso financeiro tem muito a ver com o cenário econômico, pois os juros estão ficando cada vez mais altos, ou seja, deixaram os consumidores mais cautelosos para avaliar as melhores oportunidades na hora de buscar por crédito”, afirmou.
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A taxa básica de juros, a Selic, disparou desde março do ano passado, saindo de 2,00% para 13,25% ao ano. O aumento veio para tentar conter a inflação, que está próxima de 12,00% ao ano, segundo a leitura mais recente, referente a junho.
Os juros mais altos, no entanto, afetaram diretamente o custo dos financiamentos.
De acordo com dados da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), quando a Selic estava em 2,0% ao ano, os consumidores pagavam cerca de 46% ao ano de juros em empréstimos pessoais feitos nos bancos. Hoje, essa taxa está em 60%.
À primeira vista parece uma mudança pouco significativa, mas na prática significa que hoje, para cada R$ 10 mil em empréstimos, o consumidor precisa pagar anualmente R$ 1.400 a mais de juros na comparação com o que era cobrado no início do ano passado.
Demanda pode estar fraca, mas oferta atual é ampla
Apesar dos sinais de demanda fraca, os bancos brasileiros estão dobrando a aposta na oferta de crédito, segundo uma pesquisa divulgada no início de julho pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). A expectativa deles é de que a carteira de crédito aumente 10,4% em 2022.
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Para as pessoas físicas, a previsão é de crescimento de 13,5% neste ano – bem mais que os 9,5% previstos pelas instituições financeiras no final do ano passado.
Na Bolsa, as ações do setor bancário apresentavam alta, em linha com o movimento geral do mercado. Por volta das 14h30, os preços dos papéis de Itaú Unibanco (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4) tinham alta de mais de 1%, enquanto o Ibovespa, principal índice da B3, subia 1,28%.