O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá contar com um alívio de curto prazo na relação entre o Executivo e o Congresso Nacional. Para Lucas de Aragão, analista político e sócio da Arko Advice, algumas iniciativas da oposição vão perder relevância após os atos terroristas ocorridos em Brasília neste domingo (8).
“Há menos de um mês, Marcel Van Hattem (Novo-RS) coletava assinaturas para a instalação de uma CPI para apurar os excessos do Judiciário. Agora, o jogo virou”, diz.
Para Aragão, esse tipo de iniciativa pede força e o que deve ocorrer, com o início da nova legislatura, em 2 de fevereiro, é o pedido de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os atos de domingo, assim como quem são os responsáveis pelo financiamento dos terroristas.
“Os atos terroristas colocaram no corner [de escanteio] a oposição mais ideológica que é ligada ao [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Antes, podiam ser muito barulhentos. Agora, devem tumultuar menos”, avalia.
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Centenas de terroristas invadiram e depredaram no domingo a sede dos Três Poderes (Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF). Cerca de 1,5 mil pessoas já foram detidas.
A senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) entrou com um pedido de instalação urgente de uma CPI para apurar os atos de terrorismo. O documento já conta com 31 assinaturas, entre elas a do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Governabilidade
Do ponto de vista da governabilidade para angariar apoio para pautas relevantes, no entanto, os atos terroristas devem ter pouco efeito.
“O governo Lula continuará com desafios. É um Congresso fragmentado e ele terá que continuar que buscar apoio fora de seu espectro político”, diz Aragão.
Para o analista política, os ocorridos no domingo não facilitam nem prejudicam o governo Lula em conseguir apoio para as duas principais pautas do ano: a construção de um novo arcabouço fiscal e a reforma tributária.
“Os principais temas da agenda política em 2023 são temas duros, ásperos e que vão precisar de uma imensa costura política. Lula terá que construir maioria dentro de um Congresso fragmentado”, diz.
Na tarde desta segunda-feira, os chefes dos Três Poderes divulgaram nota em conjunto repudiando os atos de domingo.
“Os Poderes da República, defensores da democracia e da carta Constitucional de 1988, rejeitam os atos terroristas, de vandalismo, criminosos e golpistas que aconteceram na tarde de ontem em Brasília”, diz a nota, que é assinada por Lula; pelo presidente do Senado em exercício, Veneziano Vital do Rêgo (PSB-PB); pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL); e pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Rosa Weber.
O presidente Lula tem ainda nesta segunda-feira reunião com os governadores com o intuito de mostrar a defesa da democracia e a união das instituições.