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Antecipação de alta de juros nos EUA aumenta aversão a risco, mas não muda trajetória da Selic, dizem gestores

Discurso mais duro do Fed acentua queda das bolsas, enquanto aprovação da PEC dos Precatórios na CCJ traz alívio no Brasil

A mudança de tom do Federal Reserve, o banco central americano, de abandonar a avaliação de um aumento transitório da inflação, sinalizando que pode acelerar a retirada dos estímulos e antecipar a alta de juros aumentou a aversão a risco nos mercados, acentuando a queda das bolsas e a alta do dólar.

Esse movimento de aversão a risco, contudo, não deve mudar o plano de voo do Banco Central brasileiro em relação ao aperto da política monetária, dada a perspectiva de menor crescimento da economia e do alívio esperado para a inflação. Essa ao menos é a avaliação de Luis Garcia, CIO da SulAmérica Investimentos, e Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Novus Capital.

“A taxa de juros americana é a Selic do mundo: quando ela sobe, diminui a atravidade de outros ativos de mercados emergentes”, diz Garcia.

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse, nesta terça-feira, que é apropriado para o banco central americano considerar concluir a redução da compra de títulos mais rapidamente, com base na força da economia americana e na alta da inflação.

No dia 3 de novembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed havia anunciado que iniciaria neste mês a redução da compra de ativos em US$ 15 bilhões por mês, com expectativa de encerrar as compras em 2022, em um processo conhecido como tapering.

Mas alguns diretores regionais do Fed e agora o presidente do BC americano vêm indicando que a autoridade monetária dos EUA pode acelerar a redução dos estímulos.

“O mercado já esperava que o Fed acelerasse a redução da compra de ativos para US$ 20 bilhões por mês em dezembro, mas diminuiu essa aposta com o surgimento da nova variante do coronavírus, achando que o Fed poderia postergar essa decisão. Agora o Fed veio com um discurso mais duro e os investidores voltaram a esperar uma aceleração ainda neste ano”, diz Portella.

Por volta das 16h45, a taxa do título do Tesouro americano de um ano subia de 0,1930% para 0,2209%, enquanto o prêmio do papel de dez anos recuava de 1,529% para 1,441%, refletindo o movimento de busca por ativos que ofereçam um porto seguro.

O que pode levar o Fed a rever uma aceleração da redução dos estímulos, segundo Garcia, é a comprovação de maior gravidade da nova variante do coronavírus, Ômicron, o que poderia impactar a recuperação da economia. “Por enquanto, parece que a nova variante é mais transmissível, mas pouco severa do ponto de vista de gravidade da doença. Mas se comerçarmos a ver um grau maior de hospitalização, será dominante nas decisões de política monetária”, diz o CIO da SulAmérica.

O próprio presidente do Fed disse que a Ômicron é uma ameaça à recuperação da economia dos EUA.

Alta de juros nos EUA deve ter pouco impacto sobre a Selic

Uma antecipação da alta da taxa de juros nos Estados Unidos, no entanto, deve ter pouco impacto na política monetária no Brasil, avalia Garcia. “Entendemos que o BC não deve acelerar o ritmo de alta para dois pontos percentuais na próxima reunião e deve encerrar o ciclo com a Selic próxima de 11,5%”, diz.

Apesar disso, o mercado está se preparando para um movimento mais agressivo pelo BC brasileiro. O CIO destaca que a curva de juros já reflete uma alta dos juros básicos para um nível próximo de 13% no fim do ciclo, com um prêmio razoável.

Portella também espera que uma antecipação da alta de juros nos EUA tenha pouco impacto sobre a política monetária no Brasil. “A perspectiva de crescimento está mais baixa, os preços das commodities caíram e devem trazer um alívio para a inflação. Além disso, até a próxima reunião [do Copom], já devemos ter a votação da PEC dos Precatórios no plenário do Senado, o que pode reduzir a incerteza fiscal”, diz.

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