Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Anfavea: Venda de carros de 2022 seguiu baixa pelo 3º ano seguido – e situação não deve melhorar em 2023

Falta de peças e juros acima de dois dígitos criam barreiras para o mercado doméstico

Foto: Shutterstock/Andrey_Popov

A venda de carros no Brasil se manteve em baixa em 2022 diante da falta de peças para as montadoras e com juros pressionados acima de dois dígitos. E a situação não deve ter uma grande mudança neste ano, segundo projeções da Afavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulgadas nesta sexta-feira (6).

Em 2022, o país emplacou 2,1 milhões de unidades de veículos, queda de 0,7% em comparação a 2021. Esse foi o terceiro ano seguido em que o número de emplacamentos se manteve estável. Em 2019, antes da pandemia, o país vendeu 2,8 milhões de unidades – número que à época já era considerado preocupante.

Segundo Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, há uma década, as vendas estavam na margem de 3,8 milhões de unidades. 

“O Brasil nunca esteve [num nível] tão baixo. Todos os estudos apontavam para um mercado de 4,5 milhões a 5 milhões de unidades”, pontou. “O Brasil precisa romper essa barreira e voltar ao patamar minimamente aceitável, de 3 milhões.”

Os desafios para impulsionar as vendas passam por questões globais e domésticas. No cenário internacional, o grande gargalo é a falta de semicondutores, problema observado desde 2020 com o desalinhamento das cadeias de produção e logística pela pandemia do coronavírus.

Já a barreira doméstica é representada pelo patamar dos juros, atualmente em 13,75% ao ano. Desde o último trimestre de 2022, a Anfavea chama a atenção para a dificuldade que a Selic pressionada gera ao setor, principalmente na queda das vendas financiadas.

Segundo dados da associação, 70% das vendas de 2022 foram feitas à vista, enquanto 30% foram parceladas. Há três anos, a distribuição era oposta.

“Para termos uma renovação natural, precisamos contar com crédito acessível para a classe média e para a realidade brasileira. Sem crédito, não há mercado”, ressaltou Leite. 

Sem grandes mudanças em 2023

A expectativa da Anfavea é que o cenário não tenha mudanças consideráveis neste ano. A previsão da associação é encerrar 2023 com o emplacamento de 2,16 milhões de unidades, leve aumento de 3% em comparação ao ano anterior.

“Poderíamos estar trabalhando com um mercado maior, não fosse a questão dos juros”, pontou o presidente.

A Anfavea buscou se aproximar do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para apresentar uma agenda com diversos pontos que podem beneficiar o setor ao longo dos próximos meses.

Entre os pontos de ação, Leite destacou a importância da manutenção das reformas aprovadas pelos governos anteriores, além da necessidade de mudanças nas regras tributárias.

“Se não fossem essas reformas, não teríamos conseguido passar a pandemia como fizemos”, ressaltou o presidente da Anfavea.

A associação também destacou a necessidade de reindustrialização do país, renovação da frota e redução dos custos para a produção.

Produção cai em dezembro, mas fecha ano em alta

O Brasil encerrou 2022 com a produção de 2,37 milhões de unidades, alta de 5,4% sobre 2021 e  acima da expectativa de 4% da Anfavea. O número poderia ser ainda melhor se não houvesse as restrições de falta de peças.

Pelas contas da entidade, o país deixou de montar 250 mil veículos devido ao desabastecimento de semicondutores.

Em dezembro, porém, o saldo ficou 9,2% abaixo do mesmo período de 2021. A retração foi justificada pelas férias coletivas do fim de ano, movimento que não ocorreu no encerramento de 2021.

“Dezembro de 2021 foi marcado pela produção full. Como faltaram semicondutores no segundo semestre, em dezembro, as montadoras cancelaram as férias coletivas, e nesse ano voltamos à normalidade”, explicou Leite.

Para 2023, a Anfavea estima manter a entrega das montadoras, com a produção de 2,42 milhões de unidades, avanço de meros 2,2% ante o ano passado.

Argentina diminui compras e acende alerta

Dos três indicadores avaliados pela Anfavea, as exportações foram as que apresentaram os melhores resultados. No ano passado, o Brasil vendeu para fora 480,9 mil veículos, aumento de 27,8% ante 2021. A associação estimava uma alta de 22%.

A abertura dos números, porém, acendeu um sinal de alerta. As vendas para a Argentina – o principal destino dos carros exportados pelo Brasil – corresponderam a 29% do total em 2022, abaixo da fatia de 35% no ano anterior.

A diminuição é reflexo de medidas impostas pelo governo argentino para a entrada de produtos internacionais, em meio à crise econômica que assola o país.

Em contrapartida, outros países aumentaram sua parcela de compra dos veículos brasileiros. A Colômbia correspondeu a 16% do total, ante 15% em 2021. Já o Chile aumentou sua participação de 10% para 12%. O México, o segundo principal destino, manteve a margem de 18% do total.

Para este ano, a Anfavea estima queda de 2,9% nas exportações, totalizando 467 mil unidades, devido à manutenção das barreiras alfandegárias na Argentina.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.