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Nunca aposte contra os Estados Unidos? O que esperar do S&P 500 em 2023

Mesmo com a pandemia e o fraco desempenho em 2022, o índice tem retorno anualizado de 18,3% nos últimos cinco anos

Foto: Shutterstock/Stuart Monk

Never bet against America. A famosa frase do megainvestidor Warren Buffett tem como justificativa a força da maior economia do mundo e, consequentemente, de seu mercado acionário. Ao longo dos últimos anos, o S&P 500 fez valer o sonho americano pregado pelo CEO da Berkshire Hathaway.

O índice das maiores empresas dos Estados Unidos já superou toda e qualquer adversidade ao longo das últimas décadas. Mesmo com a crise da Covid-19 e o fraco desempenho em 2022, o S&P 500 tem retorno anualizado de 18,3% nos últimos cinco anos (retorno total, em reais).

Com uma ampla representatividade da economia americana (são 11 setores econômicos), o mercado se pergunta qual será o destino do índice em 2023, já que o PIB está em xeque.

Há quem enxergue downside ante o fechamento do ano passado, de 3.839,50 pontos, apostando na queda em dois anos consecutivos do índice pela primeira vez desde 2001/2002.

No acumulado dos últimos 12 meses, o S&P 500 ainda recua cerca de 17%, mas na janela de seis meses, o desempenho está no zero a zero e, nos primeiros pregões deste ano, ensaia certa recuperação.

Pergunta: qual é o teto da taxa de juros?

No fim do ano passado, os mercados acentuaram o pessimismo com dados revisados que mostraram o aquecimento da economia no terceiro trimestre, quando o PIB subiu 3,2%.

Pode parecer contraintuitivo em condições normais, já que o crescimento da economia, no fim das contas, significa negócios acelerados e criação de riqueza – mas é o oposto quando a inflação atinge o maior patamar em décadas.

Com dificuldades na cadeia de suprimentos, demanda reprimida remanescente da pandemia e o país praticamente em pleno emprego, o BC americano não tem tido receio de utilizar as taxas de juros para conter a inflação, em processo que tira a atratividade dos ativos de risco.

Entretanto, a bonança da economia americana tem prazo de validade. Segundo o jornal The Wall Street Journal, mais de 60% das grandes instituições americanas preveem uma recessão em 2023. Outros, enxergam isso no ano seguinte.

FMI, S&P e Moody’s, por outro lado, estão menos pessimistas e atualmente veem crescimento de 1%, 0,9% e 1,3% do PIB americano, respectivamente.

Hoje, a taxa de juros americana está na faixa entre 4,25% e 4,50%. A pergunta que fica é: qual é o teto? As autoridades têm demonstrado que pretendem elevar as taxas para algo entre 5% e 5,5%. Há menos de três anos, em meio ao caos da pandemia, a taxa de juros chegou a estar zerada.

Mercado de trabalho dá trégua

Para que esse limite seja reduzido, é preciso ter alguma contrapartida de desaceleração da economia, que acaba puxando a inflação para baixo.

Um alento ocorreu na semana passada, com os dados do mercado de trabalho. Houve revisão nos dados de outubro e novembro de 2022, com menores salários e geração de empregos reduzida.

Em dezembro, o número de vagas criadas foi maior do que o esperado e a taxa de desocupação caiu para 3,5%, mas os salários voltaram a cair, indicando uma pausa no consumo desenfreado.

Com isso, os investidores têm precificado uma alta entre 0,25 (p.p) ponto percentual e 0,5 p.p na próxima reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, em português), que tem início no dia 31 de janeiro.

O S&P 500 como espelho da maior economia do mundo

O maior índice acionário do mundo tem recomendações e indicações díspares para o fim deste ano, mas o otimismo passa longe das grandes empresas.

Isso porque a correção de preços tem sido realizada de forma concomitante. Isto é, as projeções de lucros das empresas sendo diminuídas e, ao mesmo tempo, os consumidores perdendo poder de compra com o processo inflacionário e aumento do preço do dinheiro (a taxa de juros).

Vale dizer que as maiores posições do S&P 500 não são de empresas inteiramente voltadas à tecnologia, como a Amazon. Por mais que a AWS (Amazon Web Services) tenha sustentado os resultados da empresa ao longo dos últimos trimestres, a empresa opera no consumo de varejo discricionário, assim como a Apple.

O Google (na figura da Alphabet) e o Facebook (representado pela Meta), em sua maioria, são abastecidos por anúncios em suas plataformas. Os anúncios de empresas com publicidade e marketing tendem a cessar ou ao menos diminuir na tentativa de contenção de gastos.

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O acesso ao crédito também é encarecido pela taxa de juros, e qualidade de crédito é algo que deve ser averiguado nas contas do J.P Morgan, a décima maior posição do índice.

Dentro do universo das empresas de commodities, a Exxon é a empresa mais exposta aos desdobramentos da guerra no Leste Europeu e à transição energética, que nos últimos anos desincentivou investimentos em capacidade de produção de petróleo e possibilitou a disparada dos preços recentes.

O S&P 500 é um verdadeiro espelho da economia americana – embora mais da metade de sua capitalização esteja concentrada em tecnologia, saúde e o setor financeiro –, portanto, as expectativas não são animadoras.

O UBS tem um alvo de 3.900 pontos para o S&P 500 no fim de 2023. O Bank of America espera que o índice feche o ano em 4.000 pontos. O S&P 500 terminou o primeiro pregão desta semana justamente próximo dos 3.900 pontos.

O upside pressionado materializa o receio de grandes bancos com o índice. O Morgan Stanley, por exemplo, diz que o índice na casa dos 3.900 pontos é uma chance de “venda fácil”, fazendo alusão à operação short.

Dois pesos, duas medidas

Como mencionado, o índice é uma boa representação da economia americana, embora concentrado. Mas, mesmo assim, há de se analisar caso a caso.

A Apple representa 5,9% do S&P 500 e tem um cenário volátil à frente, algo que já foi precificado pelos investidores. Desde a máxima histórica, atingida em dezembro de 2021, a empresa já perdeu US$ 1 trilhão em valor de mercado (em reais, montante similar ao valor de mercado de toda a Bolsa brasileira).

Há o temor sobre interrupções das fábricas da empresa na China, local onde são produzidos os iPhones, carro-chefe da empresa. De acordo com o Financial Times, a Apple foi responsável pela venda de 14% dos smartphones entre janeiro e setembro deste ano, mas representou 43% de todo o faturamento da indústria.

Embora a visão macro para a empresa mais valiosa do mundo seja negativa, os fundamentos ainda estão sólidos. No terceiro trimestre, a empresa registrou uma receita recorde de US$ 394 bilhões e quase US$ 100 bilhões de lucro líquido. Foi o 14º trimestre consecutivo de crescimento da operação.

A Tesla, por sua vez, chegou a figurar no top 10 do S&P 500 assim que entrou em rota de lucratividade e adentrou ao índice. Hoje, porém, está na 17ª posição do índice.

Toda a indústria automotiva sofreu ao longo de 2022. A empresa de Elon Musk perdeu 65% de seu valor de mercado em 2022, mas GM e Ford também tiveram quedas acentuadas, na casa dos 40%.

Segundo projeções da Cox Automotive, empresa de soluções para esse mercado, as vendas de automóveis zero quilômetros em 2022 caíram para o menor patamar da última década.

Mesmo que a Tesla tenha elevado suas vendas em 40% no ano passado, os números ficaram abaixo da expectativa do mercado, justificando a perda de US$ 700 bilhões em valor de mercado. No fim das contas, a Tesla é uma montadora e estava negociando a preços irracionais.

O S&P 500 representa o desempenho médio ponderado das maiores empresas americanas. Há, no entanto, oportunidades selecionadas em meio ao banho de sangue dos últimos meses.

Como investir no S&P 500

Se as perspectivas para o índice são nebulosas para este ano, os fundos de ações nos Estados Unidos também não devem ter vida fácil.

Segundo a S&P Global Ratings, nos 20 anos encerrados em dezembro de 2022, menos de 10% dos fundos de ações ativos nos EUA conseguiram superar seus índices de referência. A maioria deles utiliza o S&P 500.

Uma saída passiva e inteligente para o longo prazo é investir no próprio índice. Na Bolsa americana, há pelo menos três ETFs expostos ao índice, e praticamente as taxas de administração diferem. São eles:

  • VOO;
  • SPY;
  • IVV.

No Brasil, existem os ETFs IVVB11, SPXI11 e BIVB39, que também levam em consideração o componente do câmbio.

Ao que tudo indica, o S&P 500 passará por um ano de rerating e pesos e contrapesos, com a taxa de juros ainda longe de seu teto, mas sinais econômicos de que uma inflação mais controlada pode ajudar as empresas.

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