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Renda fixa, aqui me tens de regresso: o que saber para fazer bons investimentos com a maior alta da Selic

Prefixados, pós fixados ou Selic? Veja as melhores opções para aplicar neste momento

A disparada dos juros futuros nos últimos dias em resposta à decisão do governo de alterar o teto de gastos não nos deixa mentir. As declarações do ministro Paulo Guedes indicando que agora é a hora de o Banco Central “correr atrás da curva de juros” também não. A renda fixa está de volta ao jogo, e quem nos últimos anos reduziu o peso na carteira de títulos públicos, CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) ou crédito privado vem revendo essa decisão.  

Dados preliminares da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) ajudam a ilustrar esse movimento. No ano até o dia 19 deste mês, R$ 49,2 bilhões ingressaram em fundos de renda fixa, enquanto fundos de ações e multimercados (que investem em renda fixa e variável) viram a saída de R$ 3,1 bilhões e R$ 5,7 bilhões, respectivamente. 

Os números da entidade vão até a terça-feira da semana passada, dia em que a Bolsa tombou 3,28% com a informação de que o governo elevaria o valor do Auxílio Brasil para R$ 400 – somente naquele dia, R$ 9,1 bilhões entraram em fundos de investimento em renda fixa. 

“A vida do rentista ficou muito boa, até porque estamos vindo de um mundo onde não tinha nada bom para aplicar em renda fixa”, diz Francisco Levy, CEO e fundador da Allea Wealth Management. “Há até pouco tempo, o juro prefixado estava em 5%, 6%. Era pouco para ficar preso por três anos em um investimento, mas agora é o inverso.”

Os solavancos da semana passada levaram títulos prefixados com vencimentos em 2026 e 2031, por exemplo, a serem negociados a taxas superiores a 12% no Tesouro Direto. No caso do Tesouro IPCA de mais longo prazo, como 2040 e 2045, os papéis passaram a garantir, além da inflação, uma taxa de mais de de 5%. 

O motivo é o aumento do risco fiscal e principalmente a imprevisibilidade do que o governo fará a seguir. “O presidente Jair Bolsonaro não vem bem nas pesquisas. Está tentando o que todo político tenta fazer, que é populismo e compra de votos. E sabemos que esse é o caminho para a desgraça”, avalia Levy. “Isso mexe com os juros. Se você vai investir nos Estados Unidos ou na Zâmbia, é natural que queira retornos diferentes”, explica.

E o que fazer nesse cenário? Em primeiro lugar, se já possui títulos na carteira e viu o seu valor despencar neste ano por causa da marcação a mercado, o ideal é não se desfazer deles, ainda mais neste momento de volatilidade elevada. “Piora mas depois melhora. O que mata é se desfazer no meio do caminho”, aconselha Levy. “Tem que estar preparado para o pior passar.” 

Para quem vai às compras, o ideal é ter em mente que diversificação também é uma palavra chave quando se fala de renda fixa. Títulos pós e prefixados e atrelados à inflação têm seus pontos fortes e fracos, e se beneficiam de um portfólio balanceado. 

Pós-fixados

De acordo com gestores e analistas ouvidos pela Agência Trademap, os pós-fixados são mesmo os queridinhos da vez.

Isso porque investimentos como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), oferecidos pelos bancos, são em grande parte atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acompanha de perto a taxa básica, a Selic.

O CDI é o benchmark da renda fixa e está próximo de 6,15% ao ano. Dessa forma, hoje um CDB, LCA ou LCI que ofereça 120% do CDI é sinônimo de um retorno da ordem de 7,4% ao ano. E a alta na taxa básica de juros deve elevar essa remuneração ao longo do tempo – no boletim Focus, analistas já projetam uma Selic de 9,5% no fim do ano que vem.  

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Essa opção também pode ser interessante porque a forte queda nos juros nos últimos anos fez com que muitos bancos passassem a oferecer retornos mais generosos nesses produtos. Atualmente, é possível encontrar CDBs que pagam acima de 130% do CDI, como é possível verificar na seção de renda fixa da plataforma do TradeMap

Essas remunerações variam de acordo com prazos, valores iniciais de investimento e a qualidade do emissor do título. Para quem quer formar uma reserva de emergência, contudo, a melhor opção é o Tesouro Selic. Como é de liquidez diária, o papel acompanha a variação da taxa Selic.  

Levy, da Allea, lembra que quem compra investimentos atrelados ao CDI está apostando que o Banco Central vai elevar a taxa básica de juros sem dó, até debelar a inflação. “É uma aposta de que os juros vão subir muito. Mas algo a se pensar é qual a chance de o BC deixar a inflação correr para não penalizar o crescimento, passando a olhar somente a meta de 2023. Esse é um risco”, explica.

Cautela com prefixados de longo prazo 

É fato que os prefixados vem pagando taxas cada vez mais atrativas, superando os 12% ao ano. Apesar disso, o conselho é ter cautela com esses papéis, em especial aqueles de prazo mais longo.

Para explicar como funcionam esses títulos: eles têm os juros já definidos no momento em que o investidor faz a aplicação, e a taxa não muda até o dia do resgate, ou seja, o retorno é “travado” em um determinado patamar.

Em um cenário em que o Banco Central está em meio a um ciclo de alta da Selic, novos prefixados serão emitidos a taxas mais elevadas no futuro. É por isso que o melhor momento para adquirir papéis pré é quando a taxa básica está em queda, ou no mínimo estável.

Para Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP Investimentos, o ideal é se expor mais a títulos pós fixados ou atrelados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em prazos curtos ou médios. De toda forma, ele avalia que, se as taxas dos prefixados continuarem a subir, podem se tornar interessantes quando comparados a investimentos de alto risco, como renda variável. 

“Estamos um pouco mais reticentes com os prefixados, mas talvez um pouco mais para a frente eles façam sentido. Se começarem a ficar próximos de taxas como 13%, podem a valer a pena quando se olha o prêmio de risco oferecido pela Bolsa”, afirma.

Isso quer dizer que por enquanto esses papéis devem ser excluídos do seu portfólio? Não é isso. O alerta é mais para avaliar bem até quanto tempo você pode ficar com esse papel na carteira, e tendo em mente as oscilações a serem enfrentadas pela economia daqui para frente.

A explicação é a seguinte: se você esperar até o vencimento, tem o retorno contratado na aplicação garantido, mas, se decidir sair do investimento antes do prazo final, pode perder dinheiro. Nesse segundo caso, toda vez que as taxas sobem, os preços de mercado, isto é, de venda dos títulos, caem, em um efeito conhecido como “marcação a mercado”.

Um exemplo de como isso funciona: no início de fevereiro, títulos prefixados do Tesouro Direto com vencimento em 2024 pagavam um retorno de 6,4% ao ano, taxa que aumentou para perto de 11,80% neste momento. Se você comprou o papel em fevereiro e decidir vender hoje, terá que arcar com prejuízo, já que o valor dos papéis está menor. Mas se continuar com o título em carteira até 2024, vai receber a rentabilidade de 6,4% prometida no momento da aplicação.

Para Renato Inversson, gestor da Taler, ter em mente que os próximos anos prometem ser conturbados para a economia brasileira é importante na hora de ir às compras. “Se vai comprar papéis para 2024 ou 2025, tem que saber que sair no meio do caminho vai ser complicado. Tem que saber quanto pode travar, quanto não pode travar, e fazer uma alocação mais equilibrada.”

Levy, da Allea, considera que o risco dos prefixados é que o país entre em um ritmo de descontrole inflacionário. Nesse caso, o investidor terá em mãos um produto com um retorno fixo, que poderá render menos do que a inflação. “Fico um pouco desconfortável com prefixados muito longos. Olho aqueles de três, quatro anos, no máximo.”

Tesouro IPCA

Em tempos de inflação disparando – o mercado já vê o IPCA em quase 9% neste ano –, proteger o seu dinheiro da variação de preços é uma boa alternativa, ainda mais em um momento em que o governo sinaliza que vai pisar no acelerador dos gastos em 2022. 

As opções do Tesouro IPCA, por exemplo, pagam o índice oficial de inflação até o vencimento do título (um retorno pós fixado) mais uma parte prefixada de juros. Alguns desses papéis já remuneram o investidor com a variação da inflação mais 5% ao ano, o que vem sendo considerado um ótimo retorno por gestores. 

“Hoje eu teria pouco de prefixado na carteira e mais títulos atrelados à inflação”, avalia Iversson, da Taler. “Isso porque os juros vem subindo muito. Em movimentos de alta, é muito arriscado entrar no prefixado seco.”

Para quem quer tomar um pouco mais de risco, o conselho de Sgavioli, da XP,  é ficar mais nos títulos atrelados à inflação. E priorizar os papéis de curto ou médio prazo.

Para Levy, o ideal é construir uma carteira balanceando todas as alternativas. “Tudo vai ficar bom: CDI, prefixado, inflação. É hora de compor uma carteira vencedora com todas essas opções”.

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