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Queda de mais de 15% do seu título no Tesouro Direto? Muita calma, a gente explica o que (não) fazer

Segurar a emoção e seguir o papel até o vencimento é um dos principais conselhos de especialistas em renda fixa; momento também favorece as compras

O mês de outubro está prestes a terminar e dar uma olhada no desempenho dos títulos públicos do Tesouro Direto pode fazer seus olhos brilharem, se seu objetivo está em às compras agora, ou levar você ao choro, se já tiver esses papéis na carteira.

Em meio ao aumento das preocupações de investidores com a política fiscal do governo brasileiro, as taxas de retorno dos títulos do governo estão disparando, com papéis prefixados pagando mais de 12% de juros ao ano e indexados à inflação com rentabilidade anual acima de 5,5%.

E toda vez que as taxas aumentam, isto é, investidores exigem mais retorno para emprestar recursos ao governo, os preços dos papéis caem, o que fica bem explícito no balanço do Tesouro. Apenas nos últimos 30 dias, o valor de 10 de 27 papeis negociados no sistema caiu 5% ou mais, e um deles, o Tesouro IPCA+ 2045, já tombou mais de 15%.

Esse movimento é consequência direta do anúncio do governo de que vai alterar o teto de gastos, por meio da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios, para abrir um espaço de quase R$ 100 bilhões no Orçamento de 2022, ano eleitoral. Mais maldades fiscais podem vir pela frente, com o presidente da Câmara, Arthur Lira, negociando ativamente o apoio dos congressistas à proposta.

Ao mesmo tempo, a resposta do Banco Central, de elevar o ritmo de aumento na taxa básica, a Selic, para 1,5 ponto percentual, não foi considerada suficiente pelo mercado: os juros futuros continuam disparando e, nas últimas semanas, não foram poucos os dias em que o sistema do Tesouro Direto ficou fora do ar (sem possibilidade de negociação dos papéis) por causa da forte volatilidade de preços e taxas.

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Confira a seguir o desempenho dos títulos públicos em outubro a partir das maiores perdas de rentabilidade. Importante ressaltar que o investidor só terá o prejuízo mencionado se decidir vender o papel antes da data de vencimento. Caso leve a aplicação até o prazo final, o retorno prometido na data de compra será respeitado.

TÍTULO VENCIMENTO  ÚLTIMOS 30 DIAS (variação em %)
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -15,03
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 -8,69
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2050 -8,62
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -8,34
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2045 -7,5
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 -6,59
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2035 -5,78
Tesouro Prefixado 01/01/2026 -5,62
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2029 -5,58
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2031 -5,44
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2027 -4,9
Tesouro Prefixado 01/01/2025 -4,65
Tesouro IGPM+ com Juros Semestrais 01/01/2031 -4,52
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2030 -4,11
Tesouro Prefixado 01/07/2024 -4,05
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2025 -3,91
Tesouro IPCA+ 15/08/2026 -2,98
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2026 -2,6
Tesouro Prefixado 01/01/2023 -2,02
Tesouro IPCA+ 15/08/2024 -1,93
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2023 -1,84
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2024 -1,76
Tesouro Prefixado 01/01/2022 0,35
Tesouro Selic 01/03/2023 0,54
Tesouro Selic 01/03/2027 0,57
Tesouro Selic 01/09/2024 0,59
Tesouro Selic 01/03/2025 0,6

Fonte: Tesouro Nacional

Como é possível notar, os únicos papéis que não têm perda em outubro são um prefixado com vencimento em curtíssimo prazo (janeiro de 2022) e o Tesouro Selic, que é pós-fixado e acompanha a variação da taxa Selic. Esse segundo papel é o mais conservador do Tesouro Direto e tem baixa volatilidade.

Não entre em pânico

Apesar das perdas do mês, que se estendem em grande parte para o ano, especialistas em renda fixa são unânimes em dizer que investidores não podem se desesperar ao ver o valor dos títulos em queda livre. A razão é muito simples: os títulos prefixados e aqueles atrelados à inflação têm os juros já definidos no momento em que o investidor faz a aplicação. Dessa forma, se você segurar o papel até o dia do resgate, seu retorno é “travado” em um determinado patamar, da data de compra. Vender seus títulos agora significa realizar o prejuízo.

Um exemplo de como isso funciona: no início de fevereiro, títulos prefixados do Tesouro Direto com vencimento em 2024 pagavam um retorno de 6,4% ao ano, taxa que aumentou para perto de 12,24% neste momento. Se você comprou o papel em fevereiro e decidir vender hoje, terá que arcar com a perda, já que o valor dos papéis está menor. Mas, se continuar com o título em carteira até 2024, vai receber a rentabilidade de 6,4% prometida no momento da aplicação.

“A recomendação é não fazer nada”, resume Camilla Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos. “Agora com certeza não é o momento de tirar. É só uma foto do que seria a rentabilidade se você resgatasse agora. Causa desconforto? Sim, mas só tem efeito prático se tirar agora.”

Para quem vai comprar, qual a melhor estratégia?

Para quem vai às compras, o ideal é ter em mente que diversificação também é uma palavra-chave quando se fala de renda fixa. Títulos pós e prefixados e atrelados à inflação têm seus pontos fortes e fracos, e se beneficiam de um portfólio balanceado.

De qualquer forma, a avaliação é que os preços e as taxas estão em um patamar bastante interessantes, e já precificaram boa parte do risco fiscal. “As taxas já estão muito elevadas, já tem uma bela gordura para aproveitar”, avalia Dolle. “Desde a semana passada, muitos riscos já estão incorporados. Para quem acha que ainda vai piorar, a sugestão é investir um pouco agora e um pouco depois, para obter uma taxa média.”

Em tempos de inflação disparando – o mercado já vê o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em quase 9% neste ano –, proteger o seu dinheiro da variação de preços é uma boa alternativa, ainda mais em um momento em que o governo sinaliza que vai pisar no acelerador dos gastos em 2022.

As opções do tipo Tesouro IPCA, por exemplo, pagam o índice oficial de inflação até o vencimento do título (um retorno pós fixado) mais uma parte prefixada de juros. Alguns desses papéis já remuneram o investidor com a variação da inflação mais 5,6% ao ano, o que vem sendo considerado um ótimo retorno por gestores.

Os prefixados também estão oferecendo uma rentabilidade excelente, acima de 12%, mas são considerados mais arriscados pelo fato de não protegerem o investimento da inflação. Em geral, o melhor momento para adquirir esses papéis é quando a taxa básica está em queda, ou no mínimo estável.

Para Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP Investimentos, o ideal é se expor mais a títulos pós fixados ou atrelados ao IPCA, em prazos curtos ou médios. De toda forma, ele avalia que, se as taxas dos prefixados continuarem a subir, eles podem se tornar interessantes quando comparados a investimentos de alto risco, como renda variável.

“Estamos um pouco mais reticentes com os prefixados, mas talvez um pouco mais para a frente eles façam sentido. Se começarem a ficar próximos de taxas como 13%, podem a valer a pena quando se olha o prêmio de risco oferecido pela Bolsa”, afirma.

Priorizar vencimentos de curto ou médio prazo também é a dica de Dolle.

“Quanto maior o prazo, maior o risco, mais incerteza do que vai acontecer no meio do caminho”, explica a especialista. “Com a volatilidade elevada, temos evitado um pouco alongar muito, até porque, se você olhar a rentabilidade no longo prazo, não está tão maior que no médio prazo. Não tem valido tanto a pena o retorno para o risco.”

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Pós-fixados voltaram a brilhar

De acordo com gestores e analistas ouvidos pela Agência Trademap, os pós-fixados são uma opção bastante interessante.

Investimentos como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), oferecidos pelos bancos, são em grande parte atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acompanha de perto a taxa básica, a Selic.

O CDI é o benchmark da renda fixa e está próximo de 6,15% ao ano. Dessa forma, hoje um CDB, LCA ou LCI que ofereça 120% do CDI é sinônimo de um retorno da ordem de 7,4% ao ano. E a alta na taxa básica de juros deve elevar essa remuneração ao longo do tempo – no boletim Focus, analistas já projetam uma Selic de 9,5% no fim do ano que vem.

Essa opção também pode ser interessante porque a forte queda nos juros nos últimos anos fez com que muitos bancos passassem a oferecer retornos mais generosos nesses produtos. Atualmente, é possível encontrar CDBs que pagam acima de 130% do CDI, como é possível verificar na seção de renda fixa da plataforma do TradeMap.

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