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PIB mostra atividade fraca em cada vez mais segmentos da economia

Cenário evidencia uma demanda debilitada, à exceção do setor de serviços, que se beneficia do processo de reabertura pós-vacinação contra a covid-19

Se alguém tinha dúvidas sobre a estagnação da economia brasileira, golpeada pela inflação e pelo início do processo de alta nos juros, não tem mais. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta quinta-feira não só um PIB (Produto Interno Bruto) em queda de 0,1% no terceiro trimestre, mas também revisou a atividade do segundo trimestre para um recuo maior: entre abril e junho, o recuo foi de 0,4%, e não 0,1%.

O cenário mostra uma demanda debilitada, à exceção do setor de serviços, que se beneficia do processo de reabertura pós-vacinação contra a covid-19. E essa fragilidade alcança cada vez mais segmentos.

Apesar de o Ministério da Economia ter atribuído o mau desempenho à agropecuária, que tombou 8% no período em parte pela crise hídrica, o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, aponta que somente 40% dos diferentes segmentos acompanhados pelo IBGE mostraram resultado positivo no período.

“Pior que o registrado no segundo trimestre [quando 58% dos segmentos tiveram expansão] e no primeiro [quando 66% tiveram alta]”, destaca ele. “Em poucas palavras, por mais que seja tentador jogar a culpa em fatores fora do controle da política econômica, como o clima, os dados apontam para um fenômeno muito mais espalhado.”

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Reprodução/ IBGE

 

Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, o cenário não é exatamente de estagnação, mas de expansão lenta. “Há algum tipo de crescimento, como o observado em serviços e na construção civil, mas é lento. E isso não exclui o fato de que a economia poderia estar melhor”, avalia.

Apesar do sinal negativo no PIB do terceiro trimestre, o mercado já esperava esse quadro de quase paralisia da economia. “A gente sabia que a crise hídrica ia afetar a agropecuária, e a indústria vem decepcionando há muitos trimestres”, afirma economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. “[O setor de] serviços poderia ter vindo um pouco melhor.”

2022

Os dados do IBGE devem levar a uma onda de revisões para baixo do PIB de 2021 e possivelmente de 2022. Atualmente, os analistas do Focus já esperam uma expansão de somente 0,58% no ano que vem.

“A leitura preliminar dos dados confirma a hipótese de raiz quadrada, que venho argumentando há algum tempo. Após uma recuperação forte, a economia não encontra sustentação e anda de lado e até cai”, diz o economista-chefe da Necton, André Perfeito, que deve revisar sua projeção de crescimento do PIB neste ano de 4,8% para 4,3%.

Especialistas lembram que, se a atividade ficar parada ou cair no quarto trimestre, possibilidade que está na mesa, haverá um impacto negativo inclusive para 2022. O fenômeno é chamado por economistas de “carregamento estatístico”. No quarto trimestre de 2020, por exemplo, a economia cresceu 3,1%, um patamar mais alto do que era esperado e que se estendeu (ou foi “carregado”, para usar o termo técnico) para o resto do ano.

Esse carregamento pode ser positivo ou negativo. Um último trimestre mais fraco, por exemplo, acaba fazendo com que o próximo ano já comece em um patamar mais baixo.

A XP Investimentos também indicou que pode fazer essa revisão. “Se nossa estimativa para o PIB do quarto trimestre estiver correta, o efeito de carrego estatístico para o PIB de 2022 será de apenas 0,1 ponto percentual positivo, consideravelmente abaixo da expectativa anterior, de 0,7 ponto percentual”, apontou o economista Rodolfo Margato.

E o que isso quer dizer para os meus investimentos?

A atividade econômica fraca do terceiro trimestre não possui efeito direto sobre os investimentos, até porque o dado representa o que os economistas chamam de “olhar para o retrovisor”. Ou seja, já estamos em dezembro, e os números são um retrato do período entre julho e setembro.

Se a economia continuar parada no quarto trimestre e início de 2022, a avaliação é que o cenário pode tirar um pouco da pressão sobre o Banco Central para uma elevação ainda maior nos juros. Em meio a mudanças no teto de gastos, âncora fiscal do país, os analistas ouvidos pelo BC já esperam uma taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% no final do ano que vem.

“O fator determinante hoje é a inflação, que continua fora da meta”, observa Agostini, da Austin. A expectativa é que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerre 2022 em 5%, que é o teto da meta para o ano – o objetivo é de 3,4%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

Para a chefe de economia da Rico Investimentos, Rachel de Sá, a melhor estratégia em um momento conturbado como o atual é manter uma carteira diversificada.

“O cenário indicado para os investimentos nesse momento segue o mesmo: bastante cautela por conta de incertezas no palco político fiscal doméstico e internacionais (variante Ômicron, alta de juros esperada nos Estados Unidos), atenção aos juros em elevação e diversificação entre classes de ativos e geografias”, aconselha.

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