JBS (JBSS3): operação americana compensa desafios; é hora de ficar mais otimista com a empresa?

Resultados da JBS foram sólidos, abrindo margem para nova distribuição de dividendos, mas investidor deve estar atento à desaceleração futura

JBS. Foto: Divulgação

Há mais de dois meses, o governo da China aplicou um embargo às exportações de carne bovina do Brasil. Mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) dizer que os dois casos de vaca louca não representam risco, a suspensão se mantém. Esse é um dos desafios superados pela JBS (JBSS3) no terceiro trimestre deste ano. 

No balanço divulgado na noite da última quarta-feira, 10, a JBS reportou sólidos resultados, que abriram caminho para um novo pagamento de dividendos — que não deve parar por aí. 

O endividamento controlado deve ser mais um driver para novas distribuições, ou aquisições, da companhia.

A despeito dos custos de produção, a companhia reportou lucro líquido de R$ 7,58 bilhões entre julho e setembro, um avanço de 142,1% sobre o mesmo período do ano passado. Em comparação ao segundo trimestre, a alta foi de 73,1%. 

A receita líquida, por sua vez, caminha a passos largos para atingir a marca de R$ 100 bilhões em um único trimestre. Nos três meses encerrados em setembro deste ano, essa linha atingiu o patamar de R$ 92,62 bilhões, avanço de 32,2% em 12 meses. 

O preço vigente chama atenção, sobretudo pela cavalar geração de caixa (com aumento de 40,2% na comparação anual), mas o mercado se divide para o ano que vem.

Valuation segue atrativo — desde que as projeções continuem a ser batidas

Atualmente, a JBS negocia abaixo de suas médias históricas. Considerando a relação entre o valor de firma e o Ebitda, que é uma aproximação da geração de caixa da empresa, a JBS é cotada a 4,32 vezes, sendo que a média dos últimos 36 meses é de 6,03 vezes. 

Foto: TradeMap
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As projeções são de que os múltiplos voltarão ao centro. O preço/lucro atual é de 5,38 vezes, mas os analistas ouvidos pela Refinitiv entendem que, hoje, a JBS negocia a 11 vezes o lucro esperado para o ano que vem. 

O consenso dos analistas é de que a companhia lucre R$ 10,21 bilhões neste ano e recue para um ganho de R$ 9,21 bilhões em 2022, com o preço por ação (LPA) saindo de R$ 3,74 para R$ 3,42. 

Se o resultado real da companhia continuar batendo as estimativas, os números podem ser revisados. Entretanto, os investidores devem ficar atentos pois o retorno dos múltiplos às médias pode acontecer pela desaceleração dos resultados e não necessariamente pelo potencial de valorização dos papéis.

Dos 13 analistas que acompanham a empresa, 12 recomendam compra das ações e apenas um indica que a posição nos papéis seja mantida.

O mais otimista deles enxerga as ações valendo R$ 56, um potencial de alta de 45%. Há quem acredite que os papéis podem cair para R$ 30, com downside de 22,13%. 

Foto: TradeMap
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Foto do trimestre

(EM BILHÕES) 3T21 3T20 VARIAÇÃO
RECEITA LÍQUIDA R$ 92,62 R$ 70,08 +31,2%
LUCRO BRUTO R$ 19,27 R$ 11,79 +63,3%
EBITDA AJUSTADO R$ 13,92 R$ 7,99 +74,2%
RESULTADO ANTES DO IR E CS R$ 9,81 R$ 3,97 +146,8%
LUCRO LÍQUIDO R$ 7,58 R$ 3,13 +142,1%
LPA R$ 3,01 R$ 1,17 +157,3%

Operação americana é, novamente, destaque da JBS

Fundada no meio do século passado, em Goiás, não é de hoje que a JBS é uma empresa globalizada. Hoje, mais de 60% da receita líquida vem de fora e está suscetível a entraves e oportunidades além das fronteiras tupiniquins. 

Esse processo tem sido fortalecido pelas fusões e aquisições. Somente entre julho e setembro, a empresa comprou a britânica Kerry Consumer Foods, a australiana Huon e a americana SunnyValley. Desde o ano passado, são quase R$ 20 bilhões investidos em aquisições. 

O portfólio externo foi justamente o gás adicional da JBS. 

Pela contabilização USGAAP, que considera os estoques a preços de mercado, o Ebitda ajustado da JBS USA Beef somou US$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre, avanço de 220,9% ante o mesmo período do ano passado.

O resultado positivo vem na esteira da forte recuperação da demanda e, consequentemente, de preços mais altos para a carne bovina.

A carne suína foi impactada positivamente pela mesma razão. Porém, no caso da JBS Pork, os suínos vivos estão sendo comercializados a preços mais altos, o que pressionou as margens na comparação anual.

Nesse sentido, os desafios também estão relacionados à China. No acumulado de 2021, os volumes de exportação de carne suína dos Estados Unidos caíram 1% em comparação ao mesmo período do ano passado, em função da queda de 37,1% das compras chinesas.

Isso ocorreu após a produção doméstica do país se recuperar após o surto da peste suína africana, que dizimou os rebanhos chineses entre 2018 e 2019. Mesmo assim, as exportações estão acima das médias históricas.

Por outro lado, os custos operacionais da operação americana foram maiores devido principalmente a aumentos nos custos de mão de obra e benefícios, com a retomada do mercado de trabalho nos Estados Unidos, além de frete e armazenamento. 

Cenário desafiador não interrompe expansão da JBS Brasil

Entre julho e setembro deste ano, a JBS Brasil teve uma receita líquida de R$ 15,5 bilhões (16,3% do total). O resultado perfaz um aumento de 35,3% sobre o reportado no terceiro trimestre do ano passado. 

O número foi crescente mesmo com a redução de 11% no número de bovinos processados. A diminuição do ritmo da produção é explicada pela escassez de matéria-prima e pela suspensão das exportações pela China.

O cenário econômico desafiador no Brasil trouxe uma queda de 17% nos volumes de carne bovina in natura, mas não foi suficiente para travar a operação no mercado doméstico brasileiro, que representa 49% desta unidade. Aqui, a receita cresceu 22,6% na comparação anual, sobretudo devido ao aumento de 44,3% no preço médio de venda. 

O Ebitda aumentou 10,4% em 12 meses, para R$ 946,1 milhões no terceiro trimestre, mas a margem foi pressionada, ao cair de 7,5%, entre julho e setembro do ano passado, para 6,1% no mesmo período deste ano.

Nesse sentido, os custos de produção também pesaram. O preço médio do gado subiu aproximadamente 35% em 12 meses, segundo o CEPEA-Esalq. Além disso, a manutenção desse rebanho se tornou mais custosa, com o aumento do preço da ração em função da guinada das commodities agrícolas. 

Endividamento sob controle beneficia bolso dos acionistas

A liderança da JBS persegue há muito tempo o controle de seu endividamento. No terceiro trimestre, a dívida líquida saltou 12,6% em 12 meses, para R$ 61,02 bilhões. 

Ao mesmo tempo, porém, a alavancagem financeira, traduzida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda, diminuiu de 1,61 vez para 1,52 vez. 

No fim de setembro, a JBS tinha R$ 23,3 bilhões em caixa. Além disso, a JBS USA possui US$ 2,2 bilhões disponíveis em linhas de crédito rotativas, que equivalem a R$ 11,9 bilhões no câmbio no fechamento do trimestre, mais do que suficiente para fazer a empresa respirar aliviada no curto prazo.

Endividamento da JBS no fim do 3º trimestre. Foto/Reprodução: JBS
Endividamento da JBS no fim do 3º trimestre. Foto/Reprodução: JBS

O crescimento operacional e a diversificação das operações de produção de proteínas — claro, dispondo de recursos em aquisições — têm deixado a JBS com folga frente às suas perspectivas. 

Há dois anos, a empresa divulgou uma política financeira de manter o endividamento entre 2 e 3 vezes o Ebitda. Agora, com o resultado melhor do que o esperado, os frutos são colhidos.

“Essa questão da disciplina financeira é uma posição que nós já assumimos lá atrás. Então, nós vamos continuar privilegiando o acionista, o retorno ao acionista — seja através de dividendos, seja através dos nossos programas de recompra de ações”, comentou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, na teleconferência de resultados.

Com dinheiro disponível, a empresa anunciou o pagamento de dividendos intercalares no valor de R$ 2,4 bilhões, o equivalente a R$ 1 por ação. 

Um novo programa de recompra de ações pode retirar até 10% das ações em circulação, diminuindo o free float e elevando o valor gerado à base acionária.

Por ora, a resposta do mercado ao balanço é positiva. Por volta das 12h40 desta quinta, as ações da JBS subiam 3,28%, para R$ 39,10. A gigante vale R$ 98,16 bilhões na B3.

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