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Engie (EGIE3) já está de olho em 2024 e alto investimento não deve apagar dividendos

No Investor Day, a diretoria da empresa apresentou seus planos para o curto, médio e longo prazos

Foto: Shutterstock/Sundry Photography

Após um ano marcado por preços de energia para baixo e um cenário hidrológico não recorrente, a Engie (EGIE3) volta suas atenções não somente para 2023, mas já se prepara para 2024.

No Investor Day da companhia, no qual a Agência TradeMap esteve presente na semana passada, a diretoria da empresa apresentou seus planos para o curto, médio e longo prazos. Em sua sede, em Florianópolis (SC), a Engie se mostrou otimista quanto à abertura do mercado de energia de alta tensão em 2024.

Em setembro, o Ministério de Minas e Energia (MME) permitiu, por meio de uma portaria, a migração dos consumidores de alta tensão para o mercado livre daqui a pouco mais de um ano. São 106 mil unidades de consumo aptas a fazer a transição.

O CEO da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, disse que esse será o principal desafio da companhia ao longo de 2023 na rota de preparação. 

A abertura de mercado e outras pautas, como a redução de subsídios na indústria (pois distorce preços de mercado, penalizando os consumidores de empresas de baixa produção), é um dos pontos focais de defesa da empresa junto à indústria e reguladores.

De acordo com a Engie, a abertura de mercado em si não é a resolução de problemas, pois ainda existem barreiras importantes para serem superadas nesse processo de migração para um modelo mais flexível. Todavia, é uma notícia animadora para o modelo de negócio da empresa.

Cerca de 65% da receita da Engie atualmente vem de contratos regulados, ou seja, aqueles com receita mais previsível e oriunda de concessões públicas. O restante está em negócios variados e que podem ser impulsionados pelos negócios no mercado livre. 

Atualmente, os 35% restantes são divididos em metade para clientes corporativos, com geração de 1 MW, enquanto os outros são empresariais e varejo, com menos de 1 MW. 

No consolidado, a empresa tem capacidade instalada de 8.453 MW, composta por 76 usinas.

Investimentos da Engie em renováveis não devem desacelerar

Mesmo com o viés mais cauteloso para o segmento em 2023, o foco da Engie está em intensificar suas energias em geração renovável. Com a venda da termelétrica Pampa Sul – que já foi fechada mas ainda consta no portfólio – a empresa será a maior geradora unicamente renovável do Brasil.

Entre 2016 e 2022 foram investidos mais de R$ 20 bilhões na transição energética, com auxílio da controladora francesa, que já opera sob esse regime há mais tempo. 

Segundo a empresa, com a abertura de mercado e entrada da oferta vinda de renováveis, há a perspectiva de preços menores. Por isso, é necessário ter uma boa estratégia de contratação da geração com os consumidores. 

A Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) prevê que o segmento deverá gerar mais de 300 mil novos empregos, espalhados por todas as regiões do Brasil, e os investimentos podem ultrapassar a marca de R$ 50 bilhões no próximo ano.

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Contudo, diferentemente do que se pensa, a geração de energia solar (ou fotovoltaica) não é plug and play. Isso é, há um tempo de construção e maturação das plantas, além de que há questões relacionadas a preços de mercado.

Mesmo com a ideia voltada para as fontes de energia renovável, a companhia entende que geradores termelétricos são importantes para o país, mas com algumas condições: que sejam flexíveis e em termos de mercado, para não haver sobrecarga e elevar preços.

Quando questionada sobre o aumento do custo da abertura do mercado, em termos de aquisição dos clientes e parceiros, a empresa diz que os clientes de menor porte trarão boa margem para a operação.

O CAC (custo de aquisição de clientes) e o custo de servir já têm sido mapeados pela Engie, e a análise de crédito dos clientes individuais deve ser realizada de forma básica junto a parceiros como a Serasa. 

Iniciativas em tecnologia e otimização de processos

O mercado de energia ainda não está acostumado a serviços digitais, então a Engie implementou uma plataforma para comercialização de energia. 

Cerca de 97% dos clientes que fazem parte da fatia “livre” da receita já realizam transações de forma online, no portal. Isso significa diminuição de custos por parte da empresa. Essa dinâmica, inclusive, colaborou para a empresa manter a resiliência em um ano de preços muito pressionados, como foi em 2022. 

No dia do investidor, a gestão da companhia comentou que há processos de otimização e digitalização da Engie como um todo: pré-vendas, vendas e pós-vendas. O objetivo é auxiliar a parte comercial e também ampliar o escopo de alcance da companhia. 

Engie e o transporte de gás

Adquirida em 2019 por um consórcio formado pela Engie e pelo fundo canadense CDPQ, que pagou aproximadamente R$ 31,5 bilhões (por 90%), a TAG possui a mais extensa rede de transporte de gás natural do Brasil, algo que a Engie enxerga como promissor no país.

Controladora de 58,5% da companhia que era ligada à Petrobras, a Engie quer investir cada vez mais na produção de infraestrutura para o transporte de gás natural no país, com a ajuda da unidade francesa, que já possui expertise na Europa. A Engie França tem 32 mil km de transporte e mais de 200 mil km de distribuição de gás.

Embora opere na condição de RAB (base regulatória de ativos), algo comum no setor de utilities, a TAG tem ativos sob autorização, e não concessão. Com isso, os contratos não têm prazo definido, ainda que sob o crivo da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Hoje, são 4.500 km de gasodutos operados pela TAG, mas o Brasil ainda é altamente dependente do gás importado. 

A produção nacional por concessionária ainda fica 72% na mão da Petrobras, enquanto a segunda maior posição é da Shell, com 12%. 

A EPE (Empresa de Pesquisa Energética) prevê que nos próximos 10 anos a produção e demanda por gás natural devem crescer 90%, segundo a Engie. Para isso, basta que a infraestrutura seja criada, pois a disponibilidade da matéria prima existe. 

A estimativa da TAG é se tornar um dos players mais relevantes do Brasil entre cinco e seis anos. Enquanto isso, os gasodutos serão bancados pelos clientes até o fim dos ciclos contratados.

Crescimento com dividendos?

Em razão do agressivo pipeline de crescimento em um momento de volatilidade do mercado, o mercado questiona a Engie acerca do Capex (investimentos em bens de capital) para os próximos anos e em que patamar permanecerá.

A companhia não crava um guidance (projeção) para os Capex, mas reafirma que os preços de mão de obra e produtos subiram e estão cerca de 15% a 20% acima do que eram antes da pandemia. 

Com isso, o Capex não deve diminuir, mas a companhia não vê uma necessidade de reduzir o pagamento de dividendos para o mínimo estatutário, de 30% do lucro ajustado. Por momentos, pode ser de 55% do resultado líquido, mas o objetivo é manter um payout de 100%

Isso conversa com o patamar de alavancagem da empresa, que atualmente está em 2 vezes. O rating da empresa deve permanecer de forma saudável com uma relação entre dívida líquida e Ebitda de até 3,5 vezes. 

O viés para a alocação de capital da empresa também está para os leilões de transmissão de energia. O segmento, que traz previsibilidade de resultados, deve estar no centro das atenções do setor ano que vem, com vários leilões em meados de 2023. 

A Engie tem preocupação grande em mapear o mercado e avaliar a capacidade produtiva das empresas e empreiteiras para construção das linhas. A empresa está procurando parceiros e fornecedores para ser competitiva no leilão, mas fornecedores metálicos e construtores parecem não estar preparados.

A companhia reforça o ponto de que não quer crescer descontroladamente. A alocação de capital é acompanhada de perto em vista da melhor rentabilidade possível, e nenhum tipo de investimento é realizado sem que haja o aval da controladora francesa.

Para os analistas ouvidos pela Refinitiv, a Engie negocia abaixo de seu valor justo. Entretanto, o momento é de cautela.

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