O Banco Central fez o que era esperado: de um ritmo de alta de 1 ponto percentual, acelerou o aperto monetário para 1,5 ponto percentual na reunião desta quinta, dia 28, prometendo novo aumento igual em dezembro e reagindo à reviravolta no cenário fiscal, com o governo mudando o teto de gastos só para gastar mais em ano eleitoral.
Pois o dólar e os juros futuros acharam pouco. Se fosse no Whatspp, teriam dado aquela visualizada sem resposta na mensagem do BC: a moeda americana sobe mais de 1%, e os contratos DI, principalmente para prazos mais longos, subiram ainda mais.
Afinal de contas, por que o mercado não reagiu bem à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), que elevou a taxa de juros básica a 7,75% ao ano? Talvez a resposta esteja naquela máxima que diz que não tem Banco Central no mundo que dê conta da inflação sem âncora fiscal.
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É só lembrar que na noite desta quarta, algumas horas depois do colegiado encerrar a reunião, a votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios, que abre espaço de quase R$ 100 bilhões no Orçamento de 2022, foi adiada para a semana que vem por falta de quórum e de consenso entre os parlamentares.
“O mercado fica preocupado que, a cada adiamento da votação, mais jabutis são adicionados”, diz Jefferson Laatus, estrategista chefe do Grupo Laatus, se referindo aos “contrabandos” usados pelos congressistas para incluir no texto temas sem relação com o projeto original. “Isso gera mais e mais risco fiscal”.
Para Anilson Moretti, chefe de câmbio da HCI Invest, a alta do BC nos juros foi adequada. “Acredito que o Banco Central veio em um bom nível de alta, com elevação de 1,5 ponto e mais 1,5 na próxima reunião”, diz. “Mas essa alta do dólar reflete o medo fiscal. O teto de gastos está sendo rompido”, resume.
Mais ousadia
Analistas acreditam ainda que o BC poderia ter sido mais ousado no aumento para ficar à frente da curva de juros – ou seja, dar uma espécie de “susto” no mercado, elevando a Selic mais que o esperado para controlar as expectativas.
“Agora estamos dependentes da PEC, com o mercado em um nível de tensão ainda elevado”, disse Gustavo Ribeiro, economista-chefe da Asa Investments, após a decisão do Copom. “Ao não se colocar à frente da curva, temos um risco relevante de uma nova aceleração no ritmo de alta dos juros.”