Maior empresa brasileira do setor petroquímico, a Braskem (BRKM5) tem se destacado em 2021 na Bolsa brasileira, com ganhos acima de 100% de suas ações, ante uma queda de 12,9% do Ibovespa até o dia 23 de novembro.
Os papéis da empresa subiram 112,64% no ano de 2021, para R$ 50,12, conforme é possível verificar no gráfico a seguir.

O valor de mercado da companhia, por sua vez, saiu da máxima histórica de R$ 46,2 bilhões, reportada em 30 de setembro de 2018, para o menor patamar de três anos em 31 de março de 2020, quando caiu para R$ 13,9 bilhões.
Além disso, a Operação Lava Jato refletiu negativamente sobre as ações da empresa. A CGU (Controladoria-Geral da União) e a AGU (Advocacia-Geral da União) assinaram em maio de 2019 acordo de leniência com a companhia no valor de R$ 2,9 bilhões, referentes a pagamentos por danos, enriquecimento ilícito e multa no âmbito de fraudes em contratos envolvendo recursos públicos.
No entanto, no ano de 2021, o valor de mercado da companhia tem apresentado significativo crescimento, alcançando o montante de R$ 43,1 bilhões, conforme conseguimos observar no gráfico abaixo.

Destacamos três principais condicionantes para a evolução da companhia na Bolsa:
- Melhora operacional;
- Cenário mais positivo para o setor petroquímico;
- Possível saída de controlador.
A Braskem conta com quarenta unidades industriais espalhadas pelo mundo (29 no Brasil, cinco nos Estados Unidos, quatro no México e duas na Alemanha). Ela é a única empresa do setor petroquímico integrada no Brasil, operando na primeira e na segunda geração de resinas termoplásticas.
Segundo a própria companhia, a primeira geração produz os petroquímicos básicos como eteno e propeno a partir da nafta, do gás natural e do etano. Esses compostos são fundamentais para a segunda geração, que envolve a fabricação de resinas termoplásticas (PE, PP e PVC), utilizadas posteriormente pela terceira geração, as empresas de transformação.
Por conta da grande diversificação tanto em produtos quanto geograficamente, a empresa vem conseguindo se destacar no setor petroquímico.
O que tem refletido positivamente sobre as ações da Braskem?
O primeiro ponto diz respeito à melhora operacional. No terceiro trimestre, a Braskem teve lucro líquido de R$ 3,5 bilhões, ante prejuízo líquido de R$ 1,4 bilhão no mesmo período de 2020.
No acumulado de janeiro a setembro, a companhia registrou lucro líquido de R$ 13,5 bilhões, também revertendo a perda da ordem de R$ 7,5 bilhões do mesmo intervalo do ano passado.

O resultado foi impulsionado por preços mais atrativos para seus produtos químicos, principalmente em função da retomada da demanda após o ápice da crise da Covid-19 e dos melhores spreads internacionais de polietileno (PE) e PVC no Brasil, polipropileno (PP) nos Estados Unidos e Europa e PE no México.
O resultado operacional recorrente da companhia foi de R$ 7,6 bilhões, 109% superior ao do terceiro trimestre de 2020, em função dos melhores spreads internacionais, do maior volume de vendas de resinas e principais químicos no Brasil e de PP nos Estados Unidos e Europa.

No terceiro trimestre, a companhia apresentou uma geração de caixa operacional positiva no valor de aproximadamente R$ 3,9 bilhões. Os principais responsáveis pela elevação do caixa foram o forte resultado operacional recorrente e a monetização de crédito de PIS/Cofins.
Endividamento em trajetória de queda
Em função de uma posição de caixa robusta, a Braskem realizou algumas operações para a redução da dívida, além de manter o perfil de endividamento bastante alongado. O prazo médio do endividamento ao fim de setembro era de 15 anos. Seu patamar de liquidez garante a cobertura do vencimento das dívidas nos próximos 75 meses.
Em paralelo, a Braskem estuda distribuir dividendos no curto prazo, conforme sinalizado por Pedro Teixeira de Freitas, diretor financeiro da empresa, em teleconferência com o mercado para debater os resultados mais recentes.
Em termos de alavancagem medida pela relação dívida líquida ajustada/resultado operacional, a Braskem apresentou no terceiro trimestre um índice de 0,83 vez em dólares, queda de 24% se comparado aos três meses imediatamente anteriores.
A companhia vem sendo bastante rígida com sua situação financeira, com o objetivo de retornar ao nível de risco “grau de investimento”. Vale lembrar que, quanto menor o múltiplo, mais saudável e sustentável se encontra a relação da dívida com a geração de caixa da empresa.
O atual índice de alavancagem é o menor da série histórica apresentada pela companhia.

De olho no setor petroquímico
O segundo ponto de destaque parte do cenário petroquímico, com premissas otimistas para o restante deste ano e para 2022.
Conforme indicado pela própria Braskem em sua apresentação de resultados do terceiro trimestre, consultorias externas apontam para a manutenção dos spreads (a diferença entre o custo da matéria-prima e o preço de mercado das resinas) de PE e PVC em patamares elevados, com destaque para os Estados Unidos. Para o Brasil, a expectativa é de aumento na produção de eteno, com a normalização das operações na central petroquímica do ABC.
Em termos de demanda, ainda segundo a empresa, é esperado que a procura por produtos petroquímicos no Brasil cresça cerca de 2% no próximo ano e entre 3% e 4%, no restante do mundo. Não há perspectiva no curto e no médio prazo de novos projetos relevantes de investimentos em capacidades produtivas.
Saída do controlador
O terceiro ponto a ser destacado e que vem mexendo com as ações da Braskem diz respeito à possível saída de um de seus controladores, a Novonor (antiga Odebrecht), que detém cerca de 38%, da companhia.
A Petrobras é o segundo maior acionista, detendo fatia de 36%, e já manifestou interesse em setembro de vender sua posição, mas, até o momento, não indicou como conduzirá o processo.

Segundo comunicado enviado pela Braskem para o mercado no dia 20 de setembro de 2021, a Novonor confirmou o interesse em se desfazer de sua participação para pagar parte de sua dívida com alguns credores que detêm ações da petroquímica como garantia.
No entanto, no mesmo comunicado, a Novonor informou que ainda não concluiu o processo, fator que acabou provocando forte queda (-11,54%) nas ações da Braskem no dia do anúncio.
A venda da participação de parte dos controladores da Braskem, em especial pela Novonor, é vista com bons olhos pelos investidores, podendo destravar valor no mercado e melhorar a governança da companhia, possibilitando a migração para o Novo Mercado da B3.
Vale a pena investir em Braskem (BRKM5)?
Quando observamos as recomendações de mercado, as casas de análise estão bem divididas entre recomendação de compra e manutenção dos ativos da Braskem.
Com base no consenso da Refinitiv, de 11 instituições financeiras, seis sugerem a compra das ações da companhia, ante cinco com indicações de manutenção. A mediana de preço-alvo é de R$ 68,00 por ação, com potencial de alta de 35,67% em relação ao preço de fechamento de 23 de novembro.

Quando olhamos para o desempenho de Braskem em 2021, podemos considerar que parte dos eventos positivos já estejam precificados em suas ações, como os melhores resultados trimestrais e o cenário mais positivo do setor petroquímico.
No entanto, acreditamos que possa ocorrer um novo impulso caso a Novonor concretize sua saída do controle da Braskem. Outro fator capaz de estimular os preços das ações seria uma possível venda de ativos.
Em uma das teleconferências de resultados, a empresa comentou que não tem nenhuma negociação em trâmite no momento, mas o diretor financeiro disse que todos os ativos da Braskem estão, em tese, à venda. “É tudo uma questão do tamanho do cheque que um potencial comprador colocará na mesa”, frisou o executivo.
Vale destacar que a Braskem tem cláusula de tag along de 100% – ou seja, caso seja vendido o controle da empresa, seus acionistas terão os mesmos direitos que seus controlados.
Outro ponto positivo e que talvez ainda não esteja embutido no valor de suas ações é o retorno da companhia à classificação de risco “grau de investimento” por agências como Fitch e Moody’s, após a redução da dívida.
Em setembro, a Standard & Poor’s elevou a nota da companhia para BBB-. A classificação grau de investimento é importante para as empresas serem consideradas menos arriscadas e obterem financiamento por um custo mais baixo.
A Braskem vem melhorando consideravelmente os seus indicadores de rentabilidade e de geração de caixa, dado o seu compromisso com a alavancagem.