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Bolsa de Valores: por que o preço-alvo dos analistas está tão distante da realidade?

Bolsa no Brasil ameaça recuperar parte do terreno perdido neste ano, mas ainda segue aquém do estimado há meses

Foto: Pixabay

Após o tombo provocado pelo coronavírus em 2020, os mercados globais se recuperaram de forma veloz. Mesmo com as idas e vindas ligadas à pandemia, a visão de longo prazo prevaleceu e os investidores têm mostrado que a humanidade vai superar os desafios. Mas o que acontece com a Bolsa de Valores no Brasil?

Enquanto nos Estados Unidos e na Europa os índices acionários renovam máximas e surfam a ainda remanescente liquidez nos mercados financeiros, a bolsa no Brasil tem um dos piores desempenhos de 2021, junto com as da Turquia e da Venezuela. 

Com o dólar em alta e o agronegócio fortalecido desde o ano passado, muito se diz que o Brasil tem perdido uma ótima oportunidade de crescimento, diferentemente do início do século, quando o país aproveitou o boom das commodities durante o governo Lula.

Embora o “rali de fim de ano” possa mudar o cenário nas próximas semanas, algumas dúvidas pairam sobre a cabeça dos tomadores de decisão. Algumas são as razões pelas quais as expectativas do mercado não estão sendo correspondidas. 

Instabilidade local

A primeira razão diz respeito aos próprios fantasmas internos. A instabilidade local faz com que os investidores tenham pouca certeza sobre o que esperar, e o que o mercado menos gosta é de incerteza.

Inclusive, esse é um dos motivos para o Ibovespa responder relativamente bem à aprovação da PEC dos Precatórios

O mercado já assimilou que o teto de gastos será rompido com a mudança na regra fiscal, mas é necessário que o fundo do poço seja palpável. É melhor um fim horroroso do que um horror sem fim, como diz o provérbio.

Ademais, há a incerteza política, já que as eleições presidenciais começaram de forma antecipada. Por mais que, olhando do ponto de vista de longo prazo, elas façam pouca diferença para a Bolsa, costumam trazer volatilidade aos mercados, sobretudo em função do pacote que carregam.

A nova equipe econômica priorizará as reformas estruturantes? A tendência será pelo aumento dos gastos públicos – o que, inevitavelmente, traz mais impostos e pressão inflacionária? 

Com uma economia menos pujante e a inflação corroendo o poder de compra da população, o setor de varejo sofre em especial. As ações do Magazine Luiza (MGLU3) representam o cenário mais desafiador. 

Nos últimos 12 meses, enquanto o Ibovespa fica estável, os papéis do Magalu caem quase 70%.  

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

O desempenho das ações está completamente distante do otimismo do mercado. As informações compiladas pelo Refinitiv, apresentadas na plataforma do TradeMap, remetem a 15 recomendações, sendo dez de compra e cinco de manutenção dos papéis. 

A mediana dos preços-alvo, que exclui a maior e a menor previsão, mostra um upside de 158%.

Desaceleração global e pé no freio americano

O segundo maior risco vem em função do contexto externo. A rápida recuperação frente à pandemia elevou as expectativas sobre o desempenho econômico mundial, de que retomaria o caminho do crescimento. Mas não é bem isso que está sendo observado. 

A desaceleração econômica da China, segunda principal potência e maior consumidora e produtora de commodities do planeta, já preocupa os especialistas. Recentemente, o Bank of America reduziu a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) chinês para 2021 e 2022.

De acordo com o banco, a potência chinesa crescerá 7,7% neste ano (ante previsão de 8%) e 4% em 2022 (ante 5,3%). Alguns são os vilões. Entre eles:

  • Escassez de energia;
  • Crise imobiliária;
  • Inflação.

Com a disparada do preço do carvão na China, o índice de preços ao produtor (PPI) – que calcula o custo dos produtos vendidos a empresas – atingiu em outubro a maior alta em 26 anos, com avanço de 13,5% em comparação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com a Eikon Refinitiv.

Histórico da inflação ao produtor na China nos últimos cinco anos

Fonte: Federal Reserve Economic Data (Fred)
Fonte: Federal Reserve Economic Data (Fred)

O país, que tem sido o motor da economia mundial, também experimentará a continuidade do aperto monetário. Ela virá na forma de contenção dos bancos em relação a empréstimos, o que na China traz mais resultados do que a elevação da taxa de juros.

A redução de liquidez também é lei nos Estados Unidos. Integrantes do Federal Reserve, o banco central americano, têm dito que o processo de redução dos estímulos, realizados na recompra de títulos do Tesouro, pode ser acelerado, sobretudo para estancar a inflação no país, a maior dos últimos 30 anos.

Como a Agência TradeMap mostrou, o processo de enxugamento da liquidez dos mercados pressiona os papéis em todo o mundo, principalmente ligados à tecnologia. 

Ações como as da Méliuz (CASH3) têm penalizado os investidores que olharam apenas para o espectro micro das companhias. A empresa perdeu 75% de seu valor de mercado desde a máxima histórica, atingida em julho deste ano. 

Como a maior parte do seu valor está no futuro – uma vez que mal apresenta lucro no presente –, o custo do dinheiro tende a ficar maior com o aumento das taxas de juros mundo afora, algo que também não deve demorar a acontecer nos Estados Unidos. 

Esse fator é um dos que fazem a realidade na Bolsa de Valores ficar distante das expectativas em torno da Méliuz. Segundo dados da Refinitiv, o menor preço-alvo para a empresa é de R$ 4,50, com um potencial de valorização de 45%. A maior estimativa prevê um upside de 385%. 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Risco de fortalecimento da pandemia

Não há como deixar de pensar sobre a possibilidade de um recrudescimento da pandemia com variantes mais fortes. 

Após a chegada da Covid-19 – que já é a variante de uma doença pré-existente –, provou-se que o mundo inteiro, globalizado da maneira com que foi nas últimas décadas, está suscetível a esse tipo de risco pandêmico.

Nas últimas semanas, o surgimento da Ômicron na África do Sul trouxe um novo temor aos mercados, assim como foi com a variante Delta e outras demais. O medo dos investidores é que isso possa trazer novos lockdowns e ondas mundo afora.

Além disso, há pouca certeza sobre o quanto novas variantes são combatidas pelas vacinas – produzidas em tempo recorde e que têm pavimentado a volta à normalidade. 

O inverno está chegando no Hemisfério Norte, o que tem levado a novos casos e elevado as preocupações. 

Restrições já têm afetado o setor de varejo na Alemanha. Na primeira semana de dezembro, as vendas no varejo recuaram 26% em comparação ao mesmo período de 2019, conforme a associação de varejistas (HDE). 

O país, assim como a Itália, tem elevado as restrições a não vacinados, já que este percentual da população é relevante.

A Bolsa de Valores é formada pela expectativas dos investidores. A pandemia não acabou no Velho Continente e a economia, que já respirava por aparelhos, pode ser impactada negativamente.

Rotatividade de portfólios

O rali de fim de ano, uma das lendas do mercado acionário brasileiro, parece ter começado. A última semana foi positiva para a Bolsa brasileira, recuperando parte das perdas no ano.

E, de fato, o “mito” tem se mostrado verídico. Nos últimos anos, os últimos meses do exercício têm sido bem positivos para os investidores. 

O Ibovespa, por exemplo, subiu 15,90% e 9,30% em novembro e dezembro do ano passado, respectivamente. Em 2019, o índice avançou 6,85% em dezembro. No ano anterior, outubro ficou marcado por um avanço de 10,19%.

Os investidores profissionais, principalmente, não querem perder o bonde e, os responsáveis por fundos mais ativos, tendem a buscar as melhores opções para fecharem o ano com a cota positiva. 

Os papéis que mostram-se empacados em função da conjuntura local e internacional, e que parecem não oferecer um retorno adequado para os tomadores de decisão com bilhões a alocar, podem acabar ficando de lado.

A Rede D’Or (RDOR3) é um exemplo. A companhia reportou um resultado do terceiro trimestre considerado ruim, com os hospitais registrando custos mais altos. Essa linha cresceu quase 40% na comparação anual, enquanto o lucro subiu apenas 8,2%. 

Enquanto a Bolsa ensaia uma recuperação, as ações da companhia seguem travadas, próximas da mínima desde a IPO, em dezembro do ano passado. 

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Situação similar é a do Banco do Brasil (BBAS3), o qual o Credit Suisse chamou de “barato demais” em relatório recente. As indefinições políticas afastam os investidores do papel, que cai 12% no ano, assim como todo o setor bancário na Bolsa de Valores. 

Numa situação em que as expectativas são discrepantes da realidade, o investidor deve levar em consideração que o curto prazo diz pouco respeito ao cenário micro das empresas. 

A temporada de balanços do terceiro trimestre deste ano mostrou que do ponto de vista operacional, as companhias da Bolsa brasileiras estão majoritariamente robustas. 

Entretanto, a Bolsa de Valores não está mais “caiu, comprou”. As projeções podem ser reajustadas para baixo, com a expectativa de lucros menores e conversando melhor com a realidade. Os bons investidores sempre são acompanhados pela diligência.

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