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Copom: como a alta da Selic mexe com o setor bancário?

Copom elevou a Selic para 9,25%, em um movimento que influencia o setor bancário a curto, médio e longo prazos

Foto: Unsplash

Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) deu continuidade ao ciclo de alta da taxa básica de juros da economia. O Colegiado do Banco Central (BC) elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, levando-a para 9,25%, o maior patamar desde setembro de 2017.

A decisão vem à tona com a inflação de 12 meses acima dos dois dígitos e, por outro lado, a economia em forte desaceleração, já em recessão técnica. O setor bancário, um dos motores do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, é influenciado diretamente pelo Copom. 

Em seu cerne, as instituições comerciais tradicionais, como Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11), Banco do Brasil (BBAS3) e Caixa, ganham dinheiro com a diferença entre os juros de seus empréstimos e o custo de captação de recursos, no chamado spread bancário, o que varia conforme os altos e baixos da taxa Selic.

Em contraponto, existe a possibilidade de aumento da inadimplência dos consumidores, já que o custo do dinheiro (juros) foi elevado.

Desempenho das ações dos quatro grandes bancos listados nos últimos 12 meses

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

O dedo do Copom no balanço dos bancos

Fora do “economês”, o que significa o spread bancário?

A dinâmica é simples. Quando o banco vende papéis de um Certificado de Depósito Interbancário (CDB), ele oferece uma rentabilidade ao investidor, como de 10% ao ano. Esse é o custo de captação.

Supondo que a aplicação realizada pelo cliente seja de R$ 100 mil, o banco realiza um empréstimo com uma taxa de juros predefinida como, por exemplo, 20% sobre esse valor. A diferença desses percentuais, de 10%, equivale ao spread do negócio. 

Esse percentual, multiplicado pela margem financeira com clientes (resultado bruto da atividade de intermediação financeira), gera o lucro do banco na operação. 

Então, por que a mudança na taxa de juros da economia é importante para esse cenário? 

É comum que o aumento da Selic pelo Copom expanda a segunda ponta antes da primeira, ou seja, os bancos passam a emprestar a taxas maiores de forma mais acelerada ante o que é observado no custo de captação. 

Mas os consumidores podem se perguntar: por que os juros cobrados pelos bancos são tão maiores que a Selic? 

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A taxa de juros brasileira impacta diretamente o custo de captação dos bancos, mas a influência sobre as taxas praticadas na concessão de crédito é parcial. Os bancos também levam em consideração risco de calotes, tributos, uma compensação sobre o depósito compulsório, despesas administrativas, além do resultado líquido pretendido. 

Além disso, o aumento na taxa de juros tende a impactar positivamente a remuneração do capital de giro próprio dos bancos e a margem de passivos, mesmo que os produtos bancários ofereçam spreads mais apertados. 

Histórico da taxa Selic nos últimos três anos 

Fonte: TradeMap

A concessão de crédito enquanto carro-chefe

Na prática, quando se fala dos cinco grandes bancos brasileiros, trata-se de grandes instituições com carteiras de crédito cavalares e cuja maior parte da receita parte de operações de crédito, arrendamento mercantil e outros créditos. 

Ao fim do terceiro trimestre, a carteira de crédito (e o crescimento anual da carteira) dos bancões brasileiros se apresentavam da seguinte maneira: 

  • Itaú: R$ 962,3 bilhões (+13,6%)
  • Bradesco: R$ 773,3 bilhões (+16,4%)
  • Santander: R$ 450,26 bilhões (+13,3%)
  • Banco do Brasil: R$ 814,2 bilhões (+11,4%)
  • Caixa: R$ 842,3 bilhões (+11,3%)

Considerando os dez maiores bancos do país, tirando a Caixa da lista, a carteira de crédito somava R$ 3,9 trilhões no fim de setembro, de acordo com as instituições. 

Para o ano que vem, a expectativa do mercado é de crescimento de um dígito alto da carteira de crédito dos grandes bancos. De acordo com previsão da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a expansão esperada para a carteira total de crédito em 2022 é de 7,3%. 

Para a taxa Selic, a expectativa é que o Copom eleve a taxa para, no mínimo, 11%. 

Inadimplência é o copo meio vazio da decisão do Copom

Embora os ganhos com a intermediação financeira e crédito possam ser beneficiados pela decisão do Copom e pareça existir uma demanda reprimida dos últimos dois anos, a concessão de empréstimos tende a diminuir com os empréstimos mais custosos, sobretudo com a economia em desaceleração. 

A desaceleração econômica é justamente o risco da contração monetária por meio da alta da taxa de juros. Com o custo do dinheiro elevado, há pouco incentivo a investimentos e, consequentemente, geração de empregos. 

Atualmente, a taxa de desocupação no Brasil está em 12,6%, com 13,5 milhões de desempregados. 

A taxa de desemprego está negativamente relacionada ao crescimento da concessão de crédito. Quanto mais gente desempregada e, por sua vez, menos capacitada para arcar com compromissos financeiros, menos o crédito é facilitado. 

Por enquanto, o saldo de Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) dos bancos segue em linha com o atingido na pandemia, mas, em momentos de incerteza econômica, há a possibilidade de elevação das provisões, o que impacta no resultado das instituições (com aumento da despesa) e com a redução do ativo no balanço patrimonial. 

Fonte/Reprodução: Bradesco RI
Fonte/Reprodução: Bradesco RI

E o brasileiro já está endividado. O país registrou 63,4 milhões de inadimplentes em outubro, segundo a Serasa. O número foi o maior desde março de 2020, quando a pandemia chegou ao Brasil e negócios começaram a ser desmanchados. 

O valor total das dívidas no país cresceu 3,37% em relação ao mês anterior, segundo a pesquisa, atingindo R$ 253,65 bilhões. 

Por ora, os indicadores de endividamento dos bancos seguem saudáveis. O índice de inadimplência acima de 90 dias total do Itaú, por exemplo, subiu apenas 0,4 ponto percentual na comparação entre os primeiros nove meses de 2020 e o mesmo período deste ano, saindo de 2,2% para 2,6%.

De forma majoritária, a previsão dos bancos é de que haverá uma pressão sobre os índices de inadimplência em 2022, embora distante do observado no pico da pandemia. 

Fonte/Reprodução: Itaú RI
Fonte/Reprodução: Itaú RI

Bancos pelo prisma do mercado

O setor bancário vem passando por uma série de questionamentos com o processo de disrupção gerado pela ascensão de fintechs e players menos “engessados”. 

Bancos como o Inter (BIDI11) e até o Nubank (NUBR33), que abriu seu capital nesta quinta-feira (9), ameaçam a hegemonia das instituições tradicionais brasileiras, que sempre surfaram um cenário de taxa de juros alta, mercado de capitais inepto e pouca concorrência.

Agora, por mais que os preços tenham sido pressionados neste ano ao passo que a lucratividade voltou, o upside enxergado pelo mercado é curto. 

Confira as recomendações compiladas pelo Refinitiv, disponibilizadas na plataforma do TradeMap

REFINITIV/2022 COMPRAR MANTER VENDER PREÇO-ALVO MEDIANO UPSIDE MEDIANO
ITAÚ 11 6 zero R$ 31 35%
BRADESCO 13 3 zero R$ 29 38%
SANTANDER 3 11 2 R$ 45,20 36%
BANCO DO BRASIL 12 5 zero R$ 43 31%

Segundo as previsões dos especialistas do mercado financeiro, apresentadas no Boletim Focus desta semana, a Selic ficará em alta por mais tempo que o esperado. Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo Copom, trazendo volatilidade ao setor bancário.

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