O ano de 2024 terminou com um cenário desfavorável para os ativos de risco brasileiros, em contraste com as projeções otimistas feitas em dezembro de 2023. Naquele momento, as expectativas eram positivas, mas o Ibovespa acumulou uma queda de 10,36% ao longo do ano, enquanto o Ibovespa cotado em dólar teve um desempenho ainda mais negativo, com recuo de 28,59%. Esse revés reflete a crescente percepção de risco fiscal no Brasil.
Essa mesma percepção impactou severamente a moeda brasileira. O real registrou uma desvalorização de 21,82% frente ao dólar Ptax, taxa de referência para contratos em real nas bolsas de mercadorias internacionais. Entre os países do G20, o real foi a moeda com o pior desempenho no ano. Apesar de o cenário global ter exercido alguma influência, o principal fator por trás dessa desvalorização foi o aumento do risco fiscal doméstico. A dificuldade do governo em implementar medidas para equilibrar as contas públicas gerou preocupações sobre a sustentabilidade fiscal, intensificando a pressão sobre a moeda.
Enquanto isso, o pódio das melhores rentabilidades de 2024 foi dominado por investimentos internacionais, que superaram amplamente os ativos locais.
Melhores Rentabilidades
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Bitcoin
Depois do inverno cripto, o Bitcoin se destacou em 2024. Com uma valorização de 178,74% em reais, superou os R$ 600 mil, consolidando-se como um dos ativos mais atraentes do ano. Em dólar, a criptomoeda teve um aumento de 121,31% e atingiu seu preço recorde, ultrapassando os US$ 100 mil.
Um dos fatores que impulsionaram essa alta foi a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Entre as promessas de campanha, Trump indicou a intenção de criar uma reserva estratégica nacional de Bitcoin, semelhante à já existente para o petróleo. A justificativa seria aproveitar a característica limitada do ativo e sua tendência de valorização no longo prazo, impulsionada pelo processo de halving, um processo técnico que reduz pela metade as emissões de tokens, conferindo à moeda um caráter deflacionário.
Outro fator relevante foi o lançamento de ETFs de Bitcoin em janeiro de 2024. Esses ETFs, ao oferecerem maior acessibilidade ao mercado cripto, desempenharam um papel crucial na forte valorização do ativo nos últimos meses.
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Ethereum
Segunda maior criptomoeda do mundo em termos de relevância e negociação, o Ethereum também teve um ano positivo. Com uma valorização em reais de 84,52%, a moeda manteve sua posição de destaque, sustentada pelo aumento da adoção de contratos inteligentes e pela expansão de sua rede blockchain para projetos descentralizados em diversos setores.
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BDRX
A valorização do dólar em 2024, que ultrapassou a marca de R$/US$ 6 e registrou uma alta de 27,91% frente ao real, foi um dos principais impulsionadores do desempenho dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Por terem sua variação parcialmente atrelada ao câmbio, esses ativos se destacaram como uma alternativa atrativa em um cenário de desvalorização do real.
Esse movimento reforça o protagonismo dos ativos internacionais no ano, já que o índice reflete ações americanas negociadas na bolsa brasileira e se beneficia diretamente da apreciação do dólar.
No acumulado do ano, o índice BDRX subiu 70,59%. Os BDRs são uma alternativa prática para investidores brasileiros que desejam exposição a empresas estrangeiras sem a necessidade de abrir contas em corretoras internacionais.
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Ouro
Em um ano marcado por incertezas globais, o ouro mais uma vez provou ser um dos ativos mais seguros e confiáveis para os investidores. Sua característica de proteção contra volatilidade atraiu aportes em 2024, quando eventos como a alta recorde do dólar e as incertezas fiscais no Brasil movimentaram os mercados. O ouro consolidou sua posição como um refúgio para investidores avessos ao risco, registrando uma valorização de 61,06% em 2024.
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Nasdaq
Os índices norte-americanos também registraram avanços expressivos, com destaque para o Nasdaq Composite, que acumulou alta de 29,81% no ano. Esse desempenho reflete o otimismo no mercado externo, impulsionado pelo crescimento de empresas de tecnologia e pela recuperação econômica nos Estados Unidos.
Piores Rentabilidades
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MSCI Brasil
O mercado doméstico enfrentou um cenário desafiador em 2024, com o MSCI Brasil registrando a maior queda entre os ativos analisados. O índice, que acompanha ações brasileiras negociadas no exterior, teve uma retração de 34,89%, refletindo a cautela dos investidores diante da incerteza política e econômica no Brasil.
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Small Cap
As empresas de menor capitalização de mercado, representadas pelo índice Small Cap, também sofreram no ano, com uma performance aquém do esperado, devido à aversão ao risco dos investidores em meio às incertezas econômicas. O índice recuou 25,03% em 2024.
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Ibovespa
O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, encerrou 2024 com queda de 10,36%. O desempenho foi impactado pelas incertezas em relação às políticas econômicas de Trump e ao pacote fiscal anunciado pelo governo brasileiro, que previa economizar R$ 70 bilhões em dois anos. O mercado recebeu com ceticismo medidas como a isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5.000, especialmente devido à falta de clareza sobre a compensação dessas renúncias.
Além disso, a alta recorde do dólar intensificou a percepção de instabilidade fiscal, afetando negativamente o desempenho do índice.
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IBRX
O índice IBRX, que acompanha as 100 empresas mais líquidas da bolsa brasileira, registrou queda de 9,71%, evidenciando a dificuldade enfrentada pelo mercado doméstico em 2024.
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B3 BR+
O índice B3 BR+ ficou em 5º lugar no ranking, com uma queda de 7,96%, refletindo a baixa atratividade do mercado de ações no Brasil em um ano de incertezas. O índice é composto por ações, units e BDRs de empresas brasileiras listadas na B3.
O ano de 2024 foi caracterizado por uma disparidade marcante entre os mercados globais e o doméstico. Enquanto ativos como Bitcoin, Ethereum e o índice Nasdaq prosperaram em meio a um otimismo externo, o Brasil lidou com desafios estruturais, sendo a percepção de risco fiscal o principal fator a impactar negativamente seus principais indicadores. Esse cenário evidencia a necessidade de uma abordagem estratégica e diversificada para os investidores, que devem estar preparados para navegar em tempos de volatilidade e aproveitar as oportunidades, ao mesmo tempo em que gerenciam os riscos.
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