O presidente do Fed (Federal Reserve, banco central americano), Jerome Powell, reconheceu que a inflação está desacelerando nos Estados Unidos, mas o não o suficiente para garantir a convergência para a meta de 2%, o que justifica o aumento de juros em curso.
O Fomc, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed, aumentou os juros americanos em 0,25 ponto percentual (p.p.) nesta quarta-feira (01), para o intervalo entre 4,50% e 4,75%. A elevação ficou em linha com o esperado pelo mercado e foi menos intensa que a decisão de dezembro, quando a taxa subiu 0,50 p.p.
As bolsas americanas reverteram a queda vista antes da decisão e operavam em forte alta nesta tarde, com os investidores apostando na proximidade do fim do ciclo de alta de juros.
Às 17h45, o índice S&P 500 subia 1,54%, enquanto o Nasdaq avançava 2,50%. Já o dólar recuava 1,06% frente a uma cesta com as principais moedas.
No Brasil, o Ibovespa não acompanhou esse momento e recuava 1,05% a 112.240 pontos.
Powell vê aumentos de juros em curso como “apropriados”
Em entrevista coletiva após a decisão sobre o novo patamar da taxa básica de juros, Powell disse que o Fed ainda não vê a política monetária em patamar suficientemente restritivo e, por isso, os aumentos de juros em curso são “apropriados”.
Embora tenha reconhecido que a inflação tem mostrado uma desaceleração, Powell destacou que o Fed continua vendo o mercado de trabalho forte e ainda não enxerga uma desinflação em parte dos serviços que compõem o núcleo da inflação, excluindo o setor imobiliário.
“Precisamos ver uma desinflação na maioria dos setores que compõe o núcleo da inflação”, disse Powell.
O índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE), a medida de inflação preferida do Fed, desacelerou para 4,4% em 12 meses em dezembro, após o patamar de 4,7% do dado anterior.
“Avaliamos que, apesar de sugerir que novas altas de 0,25 ponto serão praticadas por tempo ‘suficientemente prolongado’, a suscetibilidade à conjuntura, a despeito do elevado patamar inflacionário, sugere que tão em breve deverá ocorrer uma interrupção da alta”, disse Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, em nota.
Para Luiz Osório Leão Filho, gestor de investimentos e estratégias internacionais da Somma Investimentos, o Fed vai querer ver uma desaceleração mais clara do mercado de trabalho e do setor de serviços para interromper o ciclo de alta de juros.
“O índice de desemprego está no menor nível em mais de 50 anos, em 3,5%”, destaca Leão Filho.
Nesse cenário, o gestor da Somma espera mais duas altas de 0,25 ponto da taxa básica americana.
“O Fed deixou claro que vai haver um novo aumento. O mercado já estava esperando essa alta de 0,25 ponto de hoje antes da decisão do Fed e, quando veio a notícia, o mercado aliviou”, disse Leão Filho.
Para a reunião do Fed em março, quando será anunciada a próxima decisão, as taxas de juros futuros refletem 82,5% de chance de uma alta de 0,25 ponto percentual.
Em dezembro, o Fed aumentou a projeção para inflação para 2023 de 2,8% para 3,1%, acima do centro da meta, que é de 2%.